Seu Personagem, seu Robô

Em Brigada Ligeira Estelar, preferi chamar os personagens jogadores de Protagonistas e os NPCs de Coadjuvantes ou Antagonistas. E se você olhar para os animes de robô gigante, vai perceber logo: você de cara identifica o protagonista com seu robô. Mesmo quando ele faz parte de uma franquia de séries e eles se parecem um com os outros. Mas quase sempre dialogam com a personalidade do piloto de algum modo — e, quando não o fazem, é porque falharam.

Ao longo dos anos, as histórias de mecha têm usado os gigantescos robôs como extensões das personalidades, valores e conflitos dos personagens que os pilotam. Isso tem a ver com um animismo presente na religião xintoísta e profundamente entranhado na cultura japonesa. Atribuem-se espíritos à certos objetos ou marcos inanimados. Os robôs gigantes, da mesma forma, tem “alma”, representada pelo piloto. Eles, ao seu modo, também são co-protagonistas.

Isso não é literal, mas simbólico — e, de maneira significativa, o design dessas máquinas tornou-se um veículo poderoso para transmitir nuances dos personagens e da narrativa. Esse nível de pensamento no design é frequentemente perdido em muitas tentativas ocidentais de criar mechas, onde o foco está mais na funcionalidade bruta e menos no simbolismo. Seu robô gigante é uma extensão sua e, com uma nova edição no batente, falar disso é importante.

Gundam: Iron Blooded Orphans. Reparem no visual das armas
do protagonista (à esquerda). O que isso parece a vocês?

Em séries como Gundam: Iron-Blooded Orphans, o design de muitas das armas dos Gundams é, na verdade, baseado em ferramentas, mostrando um vínculo entre a utilidade prática e a metáfora do uso da guerra como um meio para um fim. Não são simplesmente armas de destruição; são extensões da necessidade, da sobrevivência e da determinação dos personagens. O Nu Gundam e seus funnels formando um A gigante não são mero design; são declarações conceituais.

Ninguém questiona a classificação de real robot nas séries aonde esse recurso aparece, mas sempre lembro — já contei em algum momento esta história neste blog — do mestre que considerou os visuais de Brigada Ligeira Estelar como “muito super-robot” e por isso optou por um modelo mais seco e despersonalizado de alguma série animada do gênero para representar os hussardos. Tudo bem, esta é a prerrogativa do mestre: comprou o livro, o cenário é seu.

O Led Mirage, da Ordem dos Cavaleiros de Amaterasu,
no Five Star Stories.
Os mais poderosos da galáxia.

Mas eles não são muito “super-robot”. O DNA deles ainda estava presente no real robot quando o RX-78 se ergueu pela primeira vez e a linha entre uma vertente e outra sempre foi um tanto difusa. Salvo exceções (oi, A.T. Votoms!), o robô quase sempre tem algum diferencial para o público identificá-lo mesmo partindo de um padrão comum. Eu já disse isso antes, mas ninguém tem dúvida de que Gundam Wing ou SRWOG* são real robot — e eles chutam o balde.

Voltando ao Brigada Ligeira Estelar, este apesar de tudo ainda é um cenário de RPG. E muita gente parece acreditar que ao jogar como um Hussardo Imperial, vai usar um robô igual ao outro… e isso pode ser desestimulante. Mas na verdade não é assim, ainda bem! Você pode alcançar individualidade a partir de um padrão e, no cenário, já existe um gancho para essa personalização: Os Tepeques. E com o novo 3DeT Victory, como eles irão funcionar em jogo?

O Age System de Gundam AGE foi uma das inspirações
dos tepeques. Coloque essas coisas nos ombros e…

No atual momento (isso pode mudar), a coisa é simples: todo robô ou veículo terá uma área de pontos móveis correspondente a Rx2. Assim, um robô hussardo com R3 terá seis pontos extras de espaço livre para anexos. Com isso, eles poderão ter até seis pontos em tepeques — e eles, na verdade, são tratados como artefatos e itens especiais. Então não tem erro. Se seu tepeque concede mais poder e tem ataques especiais, o crie com P+1 mais esses ataques.

O custo da construção de um tepeque vai ser o mesmo por ponto. No entanto, você não vai poder ultrapassar esse limite de espaço. Um tepeque pode ser construído com quantos pontos você quiser, mas se ele ultrapassar o número de espaços disponíveis, não há como ele ser encaixado. É possível alterar a estrutura de um robô para isso, mas teremos consequências. Imaginemos nosso Robô Hussardo Imperial… e sim, esses são valores provisórios por enquanto.

O “2” de habilidade na ficha do robô pertence ao piloto. Os PMs são
os do piloto na máquina, mas isso não vem sem consequências…

Lembrando que os Pontos de Mana, aqui, serão Pontos de Motivação. A sigla PM permanece. Convenhamos, esse é um cenário sci-fi e fica… esquisito mencionar magia em um cenário onde ela não existe.

Dito isso, em Brigada vocês jogarão com duas fichas, a do piloto e de sua máquina. Dentro dela, vocês serão o personagem. Isso é coerente com essa visão animista do gênero: é só colocar sua habilidade e PMs no robô — e você não vai mais ter problemas com isso. Mas reparem no detalhe: o robô terá espaços (ou cargas, como preferir). Aí é só construir seu tepeque como um artefato. “Eu quero um lança-mísseis no ombro de meu robô!” O resto é estético.

E está aqui seu lança-mísseis! Notem que estas são as
estatísticas extras que vem no pacote com seu uso!

Vocês poderão ter seu primeiro tepeque desde o começo, se quiserem, dando uma cara própria à sua máquina, mas os demais… só com experiência. Não vamos dar tudo de bandeja para seu robô. Enquanto ele o usar, irá somar seus atributos e usar suas vantagens (e desvantagens, no que disser respeito ao anexo). Como este tepeque da imagem tem seis pontos, ele ocupa todo o espaço útil do robô e ele não poderá usar dois diferentes tepeques simultaneamente.

Essas são regras em desenvolvimento. Talvez não seja assim no livro final. Mas dá uma ideia de para onde estamos caminhando — e nos lembra o quanto os objetos usados por nós são uma parte nossa. Nós nos expressamos por eles. Se fosse diferente, não haveria diferença em se usar um terno ou uma jaqueta rasgada no mesmo ambiente. E isso também vale para robôs gigantes. Quando olhamos para um deles, sabemos: aquele é você.

Até a próxima e divirtam-se.

* Super Robot Wars Original Generation, baseado no videogame homônimo. Recomendo a série The Inspector. É o Real Robot sendo tão exagerado quanto os mais cabeludos Super-Robôs.

NO TOPO: Muitos Gundams, lado a lado. Convenhamos, há dúvidas quanto à matriz comum? E eles parecem iguais entre si para vocês?

DISCLAIMER: Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans, Mobile Suit Gundam AGE e os trocentos Gundams na imagem do topo pertencem à Bandai Namco Filmworks, Inc.; Five Star Stories é propriedade de Mamoru Nagano. Imagens usadas para fins jornalísticos e divulgacionais.

Artes de Brigada Ligeira Estelar por Israel de Oliveira.

Fichas de RPG pelo www.tacaficha.com.br — vale a pena dar uma olhada.

Agradecimentos ao Pedro Henrique Leal pela ideia desse artigo.

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