Novelando 3 – Criando Interesse

No capítulo anterior sim, é bom refrescar a mente dos jogadores na mesa para esquentar os motores, trazer de volta o gancho dramático para manter todo mundo ligado e seguir adiante. Nós falamos dos clichês, mencionamos a necessidade de manter tudo borbulhando — daí a necessidade de ganchos dramáticos, reviravoltas, revelações, surpresas… tudo isso em um espaço relativamente limitado de tempo. E se tudo levar para algum lugar, elas vão funcionar.

Quando mestres moldam suas histórias em resposta às decisões e desejos dos jogadores, eles estão essencialmente fazendo o que os escritores de telenovelas fazem diariamente. Se os jogadores decidem enfrentar um inimigo específico, o mestre pode começar a focar mais nos interesses e conflitos relacionados a ele. Se um personagem decide buscar suas origens e linhagem, a campanha pode gradualmente revelar segredos obscuros da nobreza da Constelação.

Assim, as ações dos jogadores podem até ter repercussões amplas, levando a reviravoltas inesperadas, como um acirramento da guerra contra os Proscritos ou intrigas internas na Aliança Imperial do Sabre. Essa capacidade de adaptar e mudar traz uma sensação dinâmica para seu mundo, onde as escolhas dos jogadores têm um impacto real e tangível. E mais importante, faz com que os jogadores sintam que estão verdadeiramente moldando o curso da história.

E sim, sem deixar de ser uma space opera com grandes naves,
grandes batalhas e explosões no espaço sideral!

Tal como nas telenovelas, onde personagens evoluem ao longo de episódios repletos de revelações e confrontos, os personagens de Brigada Ligeira Estelar também devem ter espaço para crescer e mudar de acordo com o fluxo da maré. Mas há método para isso — e vamos olhar esses recursos mais atentamente:

Um dia você é a princesa, e de repente UM SEGREDO É REVELADO!
E pronto, agora você é presa e exilada. Isso é novela!

Além disso, é importante prestar atenção em subtramas e personagens secundários. A Constelação do Sabre tem vários mundos, intrigas políticas e culturas distintas: eles não só adicionam riqueza à narrativa principal como também oferecem oportunidades para explorar diferentes aspectos desse universo.

Subtramas podem adicionar profundidade e dimensão à narrativa, servindo como janelas para aspectos do cenário que talvez não possam ser abordados na trama principal. Cada cenário tem seu melhor modo de se abordá-los. No contexto da Brigada Ligeira Estelar, isso pode manifestar-se de várias maneiras:

Os momentos aonde supostamente nada está acontecendo
também são importantes: eles estabelecem relações.

As subtramas podem eventualmente se entrelaçar com a história principal, conduzindo os personagens de volta ao arco narrativo maior, ou podem simplesmente servir como desvios interessantes e reveladores. Lembram do primeiro texto desta série? Ao criarmos personagens secundários, eles também trazem subtramas, expandem a dinâmica do núcleo de protagonistas… e telenovelas são especializadas em gerenciar vastos elencos e as suas complexas interações!

Vejam: apesar de ter uma excelente trama sci-fi, Macross
é lembrado principalmente por uma coadjuvante…

Adotando essa abordagem em Brigada Ligeira Estelar, cada jogador pode ter um conjunto de personagens secundários e com papéis cruciais em sua jornada:

Mas subtramas e personagens não servirão de nada se não lubrificarem essa máquina de criar interesse. Assim como as telenovelas se valem de reviravoltas e ganchos para manter os telespectadores ligados, o mestre pode usar táticas similares para manter os jogadores loucos pela próxima sessão de jogo.

O interessante em Gunbuster é que justamente o elemento sci-fi da trama
funciona como catalisador central das relações entre personagens.

A introdução de pequenas revelações e ganchos menores ao longo de uma aventura pode proporcionar múltiplos momentos de “Ahá!” que mantêm a energia e o interesse dos jogadores elevados. Lembrem-se sempre da palavra mágica: máquina de criar interesse. Existem algumas maneiras de fazê-lo em Brigada Ligeira Estelar, sempre dentro da história maior, e sempre com a intenção de jogar uma isca para uma nova linha de trama. Vamos logo pegar o nosso peixe:

Até uma pequena informação fortuita em um momento casual
pode ajudar a catapultar mais e mais sua trama central!

Estes são apenas alguns exemplos práticos. Com tudo isso em mãos, só falta configurar o clímax da sessão: cada aventura, assim como um episódio de telenovela, deve terminar com algo que faça os jogadores quererem mais. O grande gancho é essa reviravolta ou revelação que configura a direção da próxima sessão — o famoso cliffhanger, presente em quase toda mídia seriada*. Aqui vão algumas ideias para o contexto específico de Brigada Ligeira Estelar:

E de repente, uma informação do passado é revelada… e agora
entramos em uma CAÇA AO TESOURO! Isso também é novela!

Com isso, a história está em constante fluxo, moldada pelas decisões dos jogadores, pelas maquinações do mestre e até mesmo pelas circunstâncias externas ao jogo. Uma verdadeira aula de jogo de cintura para o mestre, porque tudo vem ao sabor do momento e pode exigir malabarismos de quem conduz a trama, tanto para colocá-la nos trilhos quando ela descarrilha** quanto para lidar com situações externas como a ausência de um ator ou de um jogador***.

Pense: imagine que o jogador precise ficar ausente por algumas semanas. O que fazer com o personagem? Ele pode ser sequestrado ou desaparecer de forma inexplicável. Isso pode conduzir a uma missão de resgate ou à descoberta de uma trama maior. Talvez o personagem tenha sido chamado para uma missão secreta ou tenha recebido notícias urgentes de sua terra natal. Quando o jogador retornar, ele pode trazer consigo informações cruciais e novas tramas.

Não esqueça de manter o tamanho do elenco coadjuvante
gerenciável, senão tudo vai virar uma muvuca só!

Da mesma forma, não tenha medo de chacoalhar o status quo da trama regularmente quando as coisas ficarem muito mornas. Aquele coadjuvante que tem apenas alguma fala e nenhuma personalidade, já pelas tantas da sua campanha? Ótimo, vamos criar alguma trama para ele que o faça mover a história de algum modo. De repente, um mero criado pode ter motivos para estar ali… e esconder mais do que aparenta sobre o passado do local. Esse é só um exemplo****!

As telenovelas são um poço de dramas, relações e reviravoltas. Ao invés de seguir um roteiro fixo, permita que a trama se desenrole e se adapte, como os folhetins fazem. Isso não só mantém os jogadores no limite de seus assentos, mas também torna cada sessão única e imprevisível, exatamente como uma boa novela deveria ser… mas se não for, sua campanha ainda pode ter um final melhor do que os manjados casamentos, certo?

Até a próxima e divirtam-se!

* Nem é preciso ir muito longe. Qualquer final de capítulo durante uma luta imensa em mangá se vale de um artifício como esse para manter o leitor grudado semana que vem.
** O exemplo mais clássico (e o evento que catapultou a carreira de Janete Clair) foi quando ela assumiu a novela Anastácia, a Mulher sem Destino — um desastre de audiência. Ela era escrita pelo ator Emiliano Queiroz, reconhecidamente incompetente para a função: sempre que um amigo desempregado pedia para ele encaixá-lo na novela, ele o fazia… tornando o elenco tão imenso e com tantas linhas de trama que a história era impossível de se acompanhar. Quando Clair assumiu a batuta, leu tudo aquilo e… não, não tinha sentido nem conserto. Engenhosamente, ela criou um terremoto, matou a grande maioria daqueles personagens, deixando apenas alguns deles vivos, e deu um salto de vinte anos. Basicamente, ela recomeçou a novela do zero, apenas com o segredo da trama original a se resolver e tocando novas tramas com um elenco mais enxuto. Não salvou a audiência, mas a crítica televisiva gostou do resultado e a reputação da autora começou a subir.
*** Isso é também comum em novelas, quando um ator precisa sair, momentaneamente ou não, da produção. Normalmente o personagem some e depois volta, trazendo uma nova carta em sua manga para bagunçar as estruturas da história.
**** Janete Clair também fez isso, no rádio. Uma personagem era a agregada da fazenda, nada estava acontecendo, então simplesmente ela criou umas linhas de diálogo para ela e pronto — aquela coadjuvante que sempre esteve ali (portanto, sua presença parece orgânica) passa a ter agência sob a trama e se torna uma vilã extremamente tinhosa.

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