De modo geral, o universo de Brigada Ligeira Estelar costuma lidar com eventos de grande escala até por falarmos de planetas inteiros. É uma dinâmica interessante para o gênero: você vai de um planeta a outro, enfrenta armadas gigantescas, grandes máquinas de destruição capazes de obliterar um planeta, as intrigas políticas podem envolver o destino de vários mundos… o cenário cobre isso e garante uma experiência ampla para suas campanhas de jogo.
Mas o mestre talvez queira uma campanha mais limitada, de menor duração — ou apenas com todos os elementos sob seu controle, sem a ingerência de tramas gigantes. É uma questão de gosto pessoal, dele e de seus jogadores. Nesse caso, é mais interessante reduzir o escopo de sua trama e, acreditem, dá para conduzir uma campanha inteira nessa toada. E talvez o menor escopo para conflitos de curto e médio prazo em sua mesa sejam as Guerras de Gabinete.
A própria existência de um império pressupõe um conceito de estado nacional, impedindo em tese que clãs de nobreza se digladiem por um pedaço de terra. As autoridades interviriam. Mas, em uma mesa de jogo, esses conflitos não reconfiguram o equilíbrio de poder na Constelação nem substituem chefes de estado — e portanto dão mais liberdade ao mestre. É o seu canto no cenário. Assim, talvez seja interessante criar uma Guerra de Gabinete em campanha.

é um bom exemplo de como funcionam as incursões nessas guerras.
Primeiro, um pouco de história: O termo vem do alemão Kabinettskriege, em contraponto às Staatenkriege (guerras de estado). Eram conflitos mais regulamentados, envolvendo apostas menores, e giravam em torno de disputas territoriais da nobreza e das fronteiras regionais, usando forças mercenárias sem noções abstratas de nação. Os historiadores geralmente marcam o seu fim com o início dos recrutamentos compulsórios e dos grandes levantes em massa*.
Essas guerras eram limitadas em escopo e em recursos militares, envolvendo forças profissionais menores, e as batalhas eram lideradas por comandantes limitados em suas decisões. Ao contrário das guerras anteriores à Guerra dos Trinta Anos**, elas não eram baseadas em conflitos religiosos nem envolviam simbolismo de nenhum tipo. Eram serviço sujo a ser feito, pura e simplesmente, marcando a transição dos mercenários para os soldados profissionais.

o melhor filme sobre esse tema. Mas aviso: é barra pesadíssima!
Criando Sua Própria Guerra
Em primeiro lugar, por que a Brigada Ligeira Estelar se envolveria nisso? Essa atribuição não seria das guardas regenciais? Com certeza — mas algum motivo estratégico ou interesse de grupos políticos poderia fazer a autoridade regencial fechar um olho para o que está acontecendo no local. Assim, como é preciso justificar legalmente a intervenção da Brigada, encontrar um motivo talvez seja a primeira parte de sua missão, com ajuda da inteligência…
Objetivos e Motivações: defina claramente os objetivos em disputa, seja o controle de recursos estratégicos, a supremacia em uma região específica — ou até mesmo a vingança pessoal entre clãs de nobreza (se a realidade pode ser mais novelesca do que a ficção, então imagine o potencial da própria ficção). Estabeleça as motivações por trás desses objetivos, sejam rivalidade histórica, disputas territoriais, interesses econômicos ou tudo isso junto!

ponto de partida comum para esse tipo de conflito.
Facções Envolvidas: identifique as facções que participarão da Guerra de Gabinete. Estas podem incluir clãs de nobreza, corporações interessadas nos recursos da região, ou até mesmo grupos rebeldes buscando aproveitar o caos para seus próprios fins. Dois baronatos podem estar há anos em confronto, um tentando tomar o território do outro sem entrar no radar da autoridade regencial, mantendo tudo em baixa escala — até o momento em que tudo explode.
Personagens-Chave: introduza líderes e figuras-chave de cada facção. Esses personagens serão cruciais para a trama, com motivações próprias e personalidades distintas. Considere a inclusão de personagens ligados à Brigada Ligeira Estelar ou à estratos mais altos de nobreza, que podem agir como catalisadores para eventos importantes na trama. Claro, falamos de pessoas em posição de poder local, mas a inclusão de elementos novelescos pode ser útil.

um clã rival e tomar os direitos de extração do planeta.
Conduzindo sua Guerra
É interessante para o mestre criar um diagrama de relações entre os coadjuvantes, para não se perder em uma teia complicada de personagens em especial. Quem faz o quê. Quem é o quê de quem. Quem tem o controle sobre o quê. Guerras de gabinete podem dar mais trabalho ao mestre do que os conflitos de grande escopo por um motivo simples: ele precisará criar tudo. Mas o resultado pode valer a pena. Só não vai ser tão “Estelar” — escopo menor, lembra?
Intrigas e Diplomacia: enfatize a importância das intrigas políticas e da diplomacia. Os jogadores podem se envolver em missões de espionagem, negociação ou manipulação para favorecer uma facção sobre a outra. Encoraje o uso de contatos e de alianças estratégicas para obter informações valiosas. Talvez eles pertençam à Brigada e estejam agindo como braço armado de uma missão da Inteligência Imperial. Aviso: a regência também tem sua inteligência.

resposta no mesmo tom. Daí sua natureza reduzida.
Batalhas Táticas Limitadas: mantenha o escopo das batalhas limitado. Ao invés dos grandes confrontos em massa, foque em escaramuças táticas, duelos estratégicos e operações específicas para alcançar objetivos-chave. Explore cenários urbanos, fortalezas e bases secretas como locais de conflito. Essa é uma abordagem conveniente para os jogadores, inclusive — eles terão mais controle sobre o resultado (e a trama) do que nos combates de larga escala.
Consequências e Reviravoltas: introduza consequências significativas para as ações dos jogadores. Sucessos e fracassos devem moldar o curso da guerra e afetar dramaticamente a situação política. Crie reviravoltas inesperadas para manter o suspense e a imprevisibilidade. Certifique-se de que os jogadores estejam cientes da necessidade de discrição — exposição excessiva poderia atrair a atenção das autoridades centrais, mudando o cenário da guerra.
Envolvimento da Brigada: se os jogadores estiverem ligados à Brigada Ligeira Estelar, sua missão pode ser pacificar a região, garantir a estabilidade ou até mesmo desmantelar essa guerra de uma vez por todas. Introduza missões especiais que conectem diretamente os jogadores aos eventos dessa Guerra de Gabinete — talvez a sua grande tarefa no final seja garantir a legalidade da intervenção das forças imperiais (e, por tabela, a intervenção em si).
É trabalhoso? É, sem dúvida, mas pode ser gratificante para mestres e jogadores. Porque a grande batalha no final está sendo construída aos poucos desde o primeiro episódio! Porque todas as tramas convergirão para um desfecho explosivo! Porque todos os rancores presos na garganta vão desembocar nesse combate, quando a escala não puder ser mais escondida! Vai ser dramático, potencialmente trágico… e memorável, no final!
Até a próxima e divirtam-se!
NO TOPO (e ao longo do artigo, entre outros): imagens dos episódios 7 e 10 de Super Robot Wars Original Generation: The Inspector, com um ótimo exemplo desses ataques localizados.
* Notadamente a Revolução Francesa.
** De acordo com a Wikipedia: “Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) é a denominação genérica de uma série de guerras que diversas nações europeias travaram entre si a partir de 1618, especialmente na Alemanha, por motivos variados: rivalidades religiosas, dinásticas, territoriais e comerciais. Foi um dos maiores e mais destrutivos conflitos da história, deixando um saldo de mais de oito milhões de mortos (a maioria da Europa Central).”
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