Os Piores Jogadores (com Mechas) estão de volta, trazendo a nata do comportamento horroroso para o mestre de jogo e os personagens mais próximos a eles na animação japonesa! Essa seção é imortal: não importa o quanto vejamos o assunto como esgotado, sempre tem um infeliz para nos azucrinar assim durante uma sessão! Pense nesta coluna como um alerta — e como uma profilaxia.
Novamente (sempre preciso dizer isso), ninguém está falando para colocar coleiras ou focinheiras nos jogadores. Mas é aquela regra básica — se divertir é bom, menos quando azeda a diversão de todos os demais. E RPG é em essência um hobby coletivo, ou seja, feito para nos divertir em grupo. Ter isso em mente poupa o mestre e os jogadores de muitos aborrecimentos. Acreditem.
E vocês sempre podem ler nossas postagens anteriores AQUI. Cada texto é para ser consultado quando o mestre arrancar os cabelos e subir pelas paredes!
O Controlador
Esse jogador quer ditar todas as ações do grupo, controlando cada decisão. Ele piamente acredita que sua estratégia é a melhor e se frustra quando os outros não seguem suas instruções. Sua atitude acaba sufocando a criatividade e a participação dos demais jogadores, além de gerar conflitos constantes na mesa. Em animes, ele pode se espelhar em personagens que lideram equipes com mão de ferro… mas, em RPG, isso acaba se tornando um problema sério.
Nos animes: Lady Une, de Mobile Suit Gundam Wing. Convenhamos, ninguém gostaria de estar ao lado dessa criatura em missão. Ela é agressivamente durona com todo mundo, quer tudo feito do seu jeito, embarca seus comandados em missões suicidas sem dó nem piedade (por outro lado, ela entra em ação no seu robô ao lado de todo mundo quando dá na telha, mesmo não tendo a obrigação de fazer isso)… tudo muda mais adiante* mas, até lá, cai nessa categoria.
Como lidar com uma Lady Une em sua mesa? Converse com ela mas estabeleça limites claros. Defina desde o início que cada jogador tem autonomia sobre seu próprio personagem e todas as decisões devem ser discutidas em grupo. Incentive discussões onde todos os jogadores possam expressar suas opiniões antes de tomar uma decisão. Dê tarefas ou missões específicas que exijam cooperação e divisão de responsabilidades entre todos os jogadores. Isso ajuda.
O Dramático
Esse jogador exagera em todas as situações, criando momentos de drama desnecessários. Cada pequena decisão se transforma em uma crise existencial ou um grande dilema moral. Em animes, ele seria o personagem que faz longos monólogos sobre suas motivações e dúvidas, tanto os internos quanto os externos — e, talvez, extensos flashbacks. No RPG, isso atrasa o jogo e pode irritar os demais jogadores, que querem avançar na história sem tanta enrolação.
Nos animes: Shinji Ikari, de Neon Genesis Evangelion. Quem mais poderia ser? O “Entre no Robô, Shinji!” não virou um meme famoso à toa! Os fãs da série vão querer me matar, eu sei, mas pensem nisso em uma mesa de jogo: imaginem um personagem, em nome do drama, descrevendo suas angústias existenciais para os demais jogadores, interpretando como é estar paralisado antes de uma ação — e abusando de seu direito de arrastar os eventos de sua aventura.
Como lidar com um Shinji Ikari em sua mesa? Primeiro, limite o tempo que cada jogador tem para suas ações ou decisões, especialmente em momentos críticos, para evitar longos monólogos. Equilibre o drama com ação e decisões rápidas, para manter o ritmo do jogo. Transforme momentos dramáticos em oportunidades para avanço na trama e reforce positivamente quando o jogador consegue balancear bem o drama e a ação, mostrando como isso beneficia o grupo.
O Expositivo
Esse jogador conhece tudo, tudo sobre o cenário — e isso em si é muito bom. Porém, ele pode desacelerar significativamente o jogo com suas frequentes interrupções para explicações ou correções. Isso pode frustrar tanto o mestre quanto os outros jogadores, especialmente se eles forem novatos que ainda estão tentando se familiarizar com o cenário ou preferirem se focar mais em narrativa e no desenvolvimento do personagem, ao invés de worldbuilding.
Nos Animes: Inez Fressange, de Marțian Successor Nadesico. Sim, ela é uma zoação assumida do clichê, mas é um exemplo perfeito! Inez irá agarrar qualquer oportunidade concreta para cometer um diálogo expositivo, explicando alguma coisa para o resto do elenco — e para o espectador por tabela, embora nenhum ser humano normal fale realmente desse jeito nessas horas. Podem reparar: quando ela abre a boca, os próprios personagens pontuam esse detalhe!
Como lidar com uma Inez Fressange em sua mesa? Jogadores assim podem ser úteis, mas precisam ter um pouco de noção, apenas isso. É útil estabelecer, no início da campanha, regras sobre quando e como discutir essas coisas. Estimular um jogo mais focado em escolhas e no crescimento dos personagens também pode ajudar a reduzir a ênfase nessas explicações. Mas tente não cortá-lo demais: suas contribuições podem ser valiosas, na hora e do jeito certo!
O Paranóico
Enquanto o jogo avança, esse jogador vê perigos e conspirações em cada Coadjuvante ou evento… mesmo quando não há absolutamente nenhuma. Eles podem desperdiçar tempo valioso de jogo investigando pistas inexistentes, buscando armadilhas — e emboscando coadjuvantes aliados. Isso não apenas desacelera o jogo, mas também pode desviar a campanha de seu curso pretendido, forçando o mestre a gastar tempo lidando com teorias que não levam a lugar nenhum.
Nos animes: Sousuke Sagara, de Full Metal Panic! Tá certo, essa é metade da graça do personagem. Mas ele é um estorvo! Se uma amiga quer dar um susto de brincadeira na sua protegida, ele puxa a arma. Se ele ver alguém olhando para as meninas de biquini na praia com um binóculo, já entende como um plano de sequestro e vai imobilizar o sujeito para interrogá-lo na base da porrada. Se alguém estiver por perto em um horário incomum… vocês entenderam.
Como lidar com um Sousuke Sagara em sua mesa? Reconheça a criatividade e o engajamento do jogador, mas mantenha-se alinhado com a narrativa principal. Se possível, integre elementos propostos por ele de maneira moderada. Isso o manterá engajado, mas ofereça pistas e informações que o direcionem para elementos que efetivamente contribuam para a trama. E, se ele estiver travando tudo, seja claro sobre o que é parte do jogo e o que é perda de tempo.
Aliás, é bom reparar: a maior parte desses exemplos não representam realmente problemas em si, mas na atitude tomada em mesa. Se um jogador chegar e deixar claro: “quero jogar com um Sousuke Sagara”, deixe-o livre! Ele pode render grandes risadas para todos! No entanto, mesmo no anime isso é devidamente balanceado** e o Sousuke é um ótimo protagonista de ação quando é preciso. Já a Inez Fressange só funciona no anime porque a série é uma comédia.
É como eu disse mil vezes: não há problema nenhum em se jogar com um personagem sem noção ou cretino, desde que você não seja um jogador sem noção ou cretino. Sabendo colocar tudo na sua devida perspectiva, isso vale para qualquer situação — e colocar as coisas em ordem resulta em diversão maior para todos os envolvidos. Isso nunca deve ser confundido com castrar seus jogadores em mesa. Nem por eles, nem pelo mestre.
Até a próxima — e divirtam-se.
* Spoilers de Gundam Wing adiante: depois que a Lady Une pisa na jaca, o comandante Treize (por quem ela claramente arrasta um bonde) diz que ela deveria suavizar seus modos e isso, por conveniência de roteiro, a leva traumaticamente a uma natureza “O Médico e o Monstro”: basta tirar os óculos e ela vira uma mulher doce, sensata e pronta para dialogar (além de ganhar magicamente uma plástica de nariz. Compare a animação dela no começo e mais adiante). Muito mais adiante no roteiro, as duas personalidades se fundirão e teremos uma Une que milagrosamente compartilha tanto capacidade de comando quanto empatia e diálogo, mas essa versão não nos interessa agora.
** Exceto na série Fummoffu!!, exibida no finado Canal Animax.
DISCLAIMER: New Mobile Report Gundam Wing pertence à Bandai Namco Filmworks, Inc.; Neon Genesis Evangelion é propriedade de Khara, Inc.; Full Metal Panic! é propriedade da Gonzo K. K., baseada na obra de Shoji Gatoh; Martian Successor Nadesico é propriedade de IG Port, Inc.. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais.







O fim do post é nevrálgico. Nenhum deste comportamentos é um problema em si. Basta-se exercitar a justa medida e saber o peso, hora e local de cada ação.