Piores Jogadores (com Mechas) – 27/03/25

Semana passada, eu fiz uma experiência que não deu muito certo. Tentei fazer um texto de acordo com aquelas fórmulas de bolo para ter melhor circulação na internet. Dividir em tópicos, ser breve, divagar menos e terminar com aquela pergunta para convidar os leitores a responder nos comentários. Bom, geralmente eu divago mesmo, e tento manter uma estrutura para não ser prolixo demais. Mas, dessa vez, a resposta não foi tão boa. Bola para a frente.

Mas o que fazer quando a audiência e as respostas (mais em redes sociais do que no blog em si) despencam? Quebrar o vidro de emergência e puxar uma seção que sempre chama leitores! Assim, os Piores Jogadores (com Mechas) estão de volta, com os piores comportamentos dos jogadores! Sempre que os horrores na mesa de jogo servirem de inspiração (e o número de leitores cair), ela estará de volta trazendo mais horrores ainda, porque o horror é popular!

E lembrando sempre: falamos da atitude dos jogadores, não de personagens. Um jogador pode interpretar um personagem com um comportamento pavoroso e ser de excelente convívio na mesa, divertindo a si e a todos no processo! O problema é quando o jogador tem um comportamento pavoroso! Eu estou sendo repetitivo, mas acho sempre importante pontuar isso para quem chega agora. E como esse pequeno recado já foi dito, vamos direto para os exemplos do dia:

“Se o comando só pode ser usado uma vez, mas minha ordem for X, significa que…”

O Advogado de Regras

Um aborrecimento clássico das mesas de RPG, esse jogador conhece o livro de regras melhor do que o mestre e pode interromper a narrativa para corrigir detalhes irrelevantes (“na página 72, o dano do laser é 2d6+1, não 2d6!”). Ele exige testes para ações simples e usa seu conhecimento enciclopédico para obter vantagens, mesmo se isso prejudicar ao jogo… ou aos jogadores. Se as regras disserem que ele podem fazer algo, pode ter certeza: ele o fará.

Nos animes: Lelouch vi Britannia, de Code Geass. Ele é um especialista em esticar as possibilidades do uso de seus poderes, dentro das regras — lembram de quando ele alterou suas próprias memórias para enfrentar um portador telepata de Geass? Até aí, foi bem sacado… mas na segunda temporada ele vira um jogador apelão, através de um tremendo rombo nas regras: fazendo outros obedecerem todas as suas ordens, basicamente pediu por desejos ilimitados.

Como lidar com um Lelouch na mesa? Bom, ter um jogador com o seu conhecimento é útil, especialmente se o mestre não tem todas as regras guardadas de cabeça (e isso é perfeitamente normal). Mas, quando esse jogador se vale de rombos e inconsistências nas regras para tirar vantagens em jogo, vale sempre a regra de ouro: a palavra do mestre é final. Outra solução é deixar obrigatoriamente as discussões sobre regras para depois da sessão. Isso ajuda.

Conhecer esse sujeito é odiá-lo, salvo se houver algo muito errado com você, vai por mim. 😀

O Problematizador

Eu sei que estou mexendo em um vespeiro, mas… se ele existe, ele precisa estar aqui. Simplesmente, esse tipo de jogador aponta o dedo para tudo durante o jogo, aborrecendo os demais. Ele é um progressista, o que não tem nada de errado (diacho, eu sou de esquerda), mas fica indignado por qualquer detalhe minúsculo do cenário, procurando pelo em ovo — e procura se mostrar moralmente superior a qualquer coisa, sendo antipático e perturbando a mesa.

Nos animes: Lynn Kaifun, de Superdimensional Fortress Macross. Esquerdomacho da pior categoria, Kaifun enche o saco com um discurso pacifista quando todos estão sendo ameaçados por uma horda de alienígenas, sem chance (naquele momento) de negociação. Ele não tem nenhuma preocupação real com a segurança dos habitantes do local, usando a causa apenas para se impor moralmente aos demais… especialmente ao namorado militar da prima que ele quer catar.

Como lidar com um Kaifun na mesa? Bom, esse problema tende a se resolver muito facilmente: antes, dê contexto a ele sobre o que esperar ali. Se ele mesmo assim se comportar dessa forma, apenas não o chame de novo, é simples. E principalmente, não o chame como convidado se for um momento decisivo da campanha. Ele pode comprometê-la (“Ao invés de passar fogo nos proscritos, eu quero conversar com eles e fazer a paz!” — adivinhem o que vem depois?)!

Como seus próprios subordinados não o mataram até agora, é um mistério.

O Caçador de Glória

Esse jogador quer holofotes. Ele salta na frente para dar o último golpe no chefão, ignora ordens para perseguir inimigos secundários e coleciona troféus como se fosse um campeonato. Se outro jogador roubar sua cena, ele fica ressentido e tenta equilibrar a conta na próxima batalha. Ele parece com o Explosivo, mas é pior: este só quer explodir coisas pelo caminho, enquanto o Caçador de Glória é capaz de sabotar os colegas de time deliberadamente.

Nos animes: Iok Kujan, de Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans. Orgulhoso membro de uma casa aristocrática, ele frequentemente arrisca levianamente a sua vida — e a de seus subordinados — em busca de glória para si e seu clã. Sem escrúpulo nenhum, ele é capaz de incriminar outros pela posse de armas ilegais e usá-las para bombardear civis, por exemplo. Morto ao ser identificado pelo inimigo (“É você, desgraçado?”), os espectadores aplaudiram.

Como lidar com um Iok Kujan na sua Mesa? Dê a ele missões onde o mérito exija trabalho em equipe (por exemplo, destruir um canhão orbital requer dois ou mais pilotos — e toda glória vai ser dividida). Se ele agir sozinho, faça-o arcar com as consequências: inimigos escapam, civis morrem, e ele ganha uma desvantagem Infame em sua ficha, sem direito ao ponto de personagem correspondente. Por outro lado, recompense generosamente atos de colaboração.

Anew Returner: competente, comprometida com a causa e cheia de predicados morais…

O Agente Duplo

Esse jogador cria personagens com lealdades dúbias — e, pior, esconde isso dos próprios jogadores. Enquanto todos confiam nele, ele vaza informações para o vilão, sabota missões ou some no meio de combates. Quando confrontado, alega “interpretação fiel”, mesmo que destrua a coesão do time. Claro que isso é feito em parceria com um mestre, mas quando o Agente Duplo se aproveita do conceito para passar uma rasteira em todo mundo, temos um problema.

Nos animes: Anew Returner, de Gundam 00. Integrante da equipe principal, ela é uma pessoa gentil, zelosa, confiável, agradável, capaz e apaixonada por um dos membros do time… mas na verdade, ela é uma espiã geneticamente criada pelos inimigos. No caso dela, a coisa funciona à la O Médico e o Monstro — quando a sua outra natureza é acionada, ela se torna uma espiã fria e inescrupulosa, se valendo das informações obtidas em sua outra personalidade.

Como lidar como uma Anew na mesa: uma traição deveria servir à narrativa, não à vontade de puxar o tapete dos demais jogadores. Se autorizada, use-as para criar reviravoltas dramáticas. É interessante criar para ele dilemas que façam sua balança pender para os protagonistas — ele está lá para trair a todos, mas se apaixona por uma moça da equipe de apoio, por exemplo, e isso o prende. Ele pode ter um arco de redenção… ou ser pego e pagar o preço.

…até que sua outra personalidade é ativada e revela uma espiã impiedosa e letal.

Isso merece algumas palavras extras. No caso de Anew, nem é culpa dela realmente. Em uma situação dessas, um personagem poderia ter dupla personalidade e realmente nem saber disso, deixando o comportamento da sua outra parte a cargo do mestre. Essa é uma boa solução porque torna o agente duplo uma vítima e se for pego, provavelmente os demais jogadores procurarão uma solução para seu problema… e nesse caso, o protagonista não é um “pior jogador”.

Mas quando é consciente, não há desculpa. Tudo bem, isso é algo combinado com o mestre e pode render muito drama na mesa, mas não passe dos limites. Quando você rouba informações e chaves de acesso da base, está apenas fazendo seu trabalho. Quando a namorada de um dos demais protagonistas viu demais e você a seduz, tornando-a uma cúmplice, ou a executa… bem, você cruzou uma linha sem perdão nenhum. Pense nisso.

Até a próxima e divirtam-se. Sempre.

Fale a verdade: você gritou AEEEEEEEEEEE e bateu palmas quando isso aconteceu!

DISCLAIMER: Code Geass, Mobile Suit Gundam 00 e Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans pertencem à Bandai Namco Filmworks, Inc.; Superdimensional Fortress Macross pertence à Tatsunoko Production Co., Ltd../Big West Advertising Co., Ltd. (BWA). Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais.

Brigada Ligeira Estelar ® Alexandre Ferreira Soares. Todos os direitos reservados.

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