Resenhas – 28/09/23

Brigada Ligeira Estelar, quem acompanha este blog já sabe, é um cenário de robôs gigantes com pilotos heróicos e muita intriga política entre diferentes mundos. Referências não são obrigatórias, mas sempre são interessantes como fontes de inspiração para mestres de jogo. Daí a existência de uma seção de resenhas neste blog. Existem várias obras que podem ressoar com o cenário de algum modo, em maior ou menor grau, e isso pode ser de imensa valia.

E como eu costumo dizer e já devo ter dito por aqui um milhão de vezes, quando você compra o jogo, o cenário passa a ser seu. O mestre e os jogadores podem fazer o que quiserem. Sob esse ponto de vista, aliar referências ao nosso cenário enriquece a experiência narrativa, agrega camadas de profundidade e permite que as histórias contadas sejam mais envolventes. Ou ao menos ajudam o mestre de jogo a ter alguma ideia para a sessão do fim de semana…

Com isso em mente, vamos olhar algumas dessas obras que, sendo (ou não) bem diferentes do universo da Brigada, podem dialogar muito bem com o cenário na sua mesa de jogo. Desta vez, focaremos no jogo de celular Code Geass: Lost Stories, na edição integral que compila a série europeia Segmentos, lançada recentemente no Brasil, e nos dois boxes da série de livros A Guerra do Velho, de John Scalzi. Entrem no cockpit, apertem os cintos e divirtam-se.

Basicamente, um jogo tático de estratégia, com confrontos
diretos entre dois robôs apenas contra chefes de fase.

Code Geass: Lost Stories

SINOPSE: Em uma realidade alternativa na qual o Império Ame… digo, o Império Britânico dominou o mundo*, o Japão é tomado, com o uso de robôs de combate, e transformado em uma colônia. E paralelamente ao surgimento de uma resistência contra o invasor, acompanhamos a saga de (escolha um nome), um futuro membro dos cavaleiros negros do líder revolucionário Zero em sua vingança pela morte de sua mãe… e para recuperar seu nome e história verdadeiros.

COMENTÁRIOS: Code Geass: Lost Stories é um jogo de gacha** com estratégia, do tipo “defenda a torre”. Você obtém personagens, monta um time composto de personagens da franquia (divididos nas categorias Striker, Engineer, Tactician, Guardian, Executioner e Specialist), acompanha um modo história que reconta parcialmente a trama do anime, enquanto a saga do protagonista corre em paralelo e cumpre missões paralelas (side quests) para subir de nível.

E à medida em que o jogo prossegue, nos
cercamos de rostos familiares…

VALE A PENA? Se você é fã, vale. Não é ruim, apesar dos gráficos em CG desapontarem, entretém (o modo história é recomendado) e é sempre uma oportunidade de rever esses personagens sob outro ponto de vista. Contam pontos a favor os tutoriais, à medida na qual os jogadores avançam no jogo, pegando-os pela mão para explicar todo o necessário. Mas a necessidade de VPN e a impossibilidade de se comprar coisas por esse meio podem ser um aborrecimento.

COMO REFERÊNCIA: embora não tenha o lado espacial de um Gundam ou um Macross, Code Geass sempre foi uma ótima referência para jogadores de Brigada Ligeira Estelar, em seu mix de política, desenvolvimento de personagens, estratégia e robôs gigantes. Nesse sentido, Lost Stories não desaponta — salvo por algumas estranhezas causadas por sua natureza de jogo: alguém consegue ver a doce namoradinha Shirley Fenette como “engenheira”, pilotando um robô?

É uma senhora arte, mas cá entre nós, as capas dos
três álbuns originais eram bem mais legais…

Segmentos, por Malka e Gimenez

SINOPSE: em um futuro distante, após a Terra ter se tornado supostamente inabitável, a humanidade se agrupou em diferentes mundos sob uma ordem rígida chamado Segmentismo, no qual todos são agrupados por inclinações detectadas na infância. Porém, três mil anos depois, uma praga de esterilidade atinge esses planetas — e um bando de rebeldes precisa derrubar o sistema para impedir a extinção de nossa espécie. Mas as autoridades estão no seu rastro.

COMENTÁRIOS: última obra do saudoso artista argentino Juan Gimenez, um dos grandes mestres dos quadrinhos de ficção científica (tristemente vitimado pela covid-19 em 2020), com roteiros do francês Richard Malka, e que vem sendo redescoberto pelas editoras brasileiras nos últimos tempos. A edição da Comix Zone até tem um preço meio salgado mas não se engane — a arte pede por essa qualidade gráfica… e o quadrinho vale cada centavo. Não, não é jabá.

Gente, ninguém desenha sequências de ação espacial
e grandes belonaves como o Juan Gimenez!

VALE A PENA? Não se enganem pela sinopse: o material não é uma daquelas distopias extremamente sisudas e barra-pesada. É uma aventura movimentada e divertidíssima (pense um pouco em filmes como O Quinto Elemento), nos levando aos diferentes mundos sob essa ordem, com muitas sequências de ação, perseguições, explosões, momentos de humor malicioso — e deixe a correção política na portaria, já fica o aviso! Peca só por um final extremamente corrido.

COMO REFERÊNCIA: embora este seja um cenário bem diferente de Brigada Ligeira Estelar e não tenha robôs gigantes, ele é space opera no seu melhor. Viagens a vários mundos, inimigos tinhosos, puxadas de tapete, personagens fáceis de se gostar (um protagonista treteiro e uma rebelde com jogo de cintura, com a adição posterior de uma garota esperta e muito… safada, mais um piloto relutante)… em termos de clima, isso pode render uma senhora campanha!

O primeiro box, lançado ano passado, com
os três livros iniciais da série…

A Guerra do Velho (boxes 1 e 2), por John Scalzi

SINOPSE: Em um futuro distante, você pode escolher entre viver sua velhice ou trocar seu corpo por uma versão jovem, atlética, ultra-capaz (e verde). Em troca, vocês deixarão a Terra para sempre e se juntarão às forças militares terrestres, participando do esforço de defesa das colônias humanas em diferentes planetas — e enfrentando forças alienígenas altamente letais que não vão nem um pouco com a cara de nossa espécie. Qual seria a sua escolha?

COMENTÁRIOS: Aproveitando o gancho do lançamento do segundo box com os livros da série pela editora Aleph (ao todo, A Guerra do Velho, as Brigadas Fantasma, a Última Colônia, o Conto de Zoe, A Humanidade Dividida e O Fim de Todas as Coisas), eu não poderia deixar de falar disso por aqui em algum momento. Você não precisa ler todos os seis livros de cara se estiver com medo de encarar tanta coisa. Experimente o primeiro e, se gostar, vá em frente.

… e os três livros finais, lançados agora em
Setembro, concluindo a saga.

VALE A PENA? Como um todo, é uma série de ficção científica militar muito bem escrita, com personagens muito carismáticos… e vale o ingresso por isso mesmo. Scalzi não nos afoga com informações em excesso, dosando-as enquanto a história de seus personagens avança, e seu senso de humor tempera bem os eventuais momentos mais sombrios. Os volumes seguintes expandem, e muito, o universo apresentado no primeiro volume — mas são independentes entre si.

COMO REFERÊNCIA: Embora a hexalogia amplie muito nossa visão desse universo, o foco inicial é principalmente na infantaria. Isso os torna uma ótima fonte de ideias para campanhas de lanceiros ou dragoneiros na mesa de jogo. Novamente, é um cenário muito diferente de Brigada Ligeira Estelar, mas é bom notar o quanto os combates, livro a livro, dão lugar à política e à diplomacia — sem descuidar da ação — e são excelentes referências nesse sentido.

* É meio complicado, mas lá vai: nessa linha de tempo, a rainha Elizabeth I da Inglaterra teve um filho, a linhagem dinástica dos Tudor prosseguiu e deu lugar à outra gerações mais tarde, criando um Império Britânico mais expansionista ainda do que em nossa linha temporal. Porém, eles são enxotados da Europa pelas forças de Napoleão Bonaparte e acabam se estabelecendo na colônia americana, iniciando um processo de conquista de território feroz. O Congresso de Viena nunca aconteceu, a França se tornou uma democracia mais cedo e continua lutando para libertar as ilhas britânicas do Império Britânico, transformando o lugar em uma verdadeira zona de guerra. Então tecnicamente, o Império Britânico é Norte-Americano, não realmente inglês, depois de tantos séculos. Ufa!
** Gacha são videogames com uma mecânica central na qual os jogadores utilizam a moeda virtual do jogo para “girar” uma espécie de caça níqueis e receber um item aleatório. Essa moeda virtual pode ser tanto adquirida jogando, quanto comprada com dinheiro real diretamente dos criadores do jogo. O nome faz referência às máquinas automáticas de venda de brinquedos. Em sua grande maioria, os jogos gacha são disponibilizados gratuitamente para dispositivos móveis, adotando o modelo “Free-to-Play” (F2P). Entretanto, apesar de serem gratuitos, frequentemente possuem opções de compras internas. E sim, são umas pragas viciantes.

DISCLAIMER: Code Geass: Lost Stories é propriedade de Bandai Namco Filmworks, Inc., licenciada por DMM Games – Asia (divisão da DMM.com LLC); Segmentos é propriedade de Richard Malka e do espólio de Juan Gimenez, via Glénat Editions SA; A série Old Man’s War é propriedade de John Michael Scalzi II. Imagens usadas para fins jornalísticos e divulgacionais.

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