Rivalidade é um dos esteios dos mangás e animes, especialmente na faixa adolescente, mas não se limitando a ela. A sociedade japonesa é muito competitiva, e isso ajuda a naturalizar o conceito do rival como um adversário, mas não necessariamente como um inimigo (embora isso seja possível, especialmente em contextos militares). Essencialmente, ele é alguém… superior a você em algum nível — despertando em você a vontade de se tornar superior a ele.
Aqui vem um pouco de explicação histórica: quando o Japão foi ocupado pelos Estados Unidos após a segunda grande guerra, já havia uma indústria de quadrinhos em desenvolvimento. Os estadunidenses ordenaram o fim das histórias militarizadas tão populares na era Showa* e a solução foi canalizar esse espírito de conflito para… os esportes! Isso deu certo e estabeleceu o conceito de rivalidade, podendo trazer um adversário que pode até ser seu amigo…
…ou não. Para entrar em um terreno fora dos robôs gigantes, lembra de Naruto e seu rame-rame com o colega Sasuke? Isso é um eco do clássico dos quadrinhos japoneses de beisebol Star of the Giants (Kyojin no Hoshi, dos mestres Ikki Kajiwara e Noboru Kawasaki), que estabeleceu o modelo. Mas também podemos ver esse misto de necessidade de respeitabilidade e gana de superação no mangá shōjo** de esportes Ace wo Nerae*** — o tropo se espalharia muito.

O rival pode estar ao seu lado para encher o saco!
Eventualmente, ele migraria para fora dos quadrinhos esportivos e se tornaria recorrente. Só na ficção científica, basta lembrar do Gunbuster original (Top o Nerae), que não por acaso foi inspirado em Ace wo Nerae, apenas trocando as garotas tenistas por pilotos de robô gigante. Por outro lado, basta lembrar da disputa entre Anavel Gato e Kou Uraki em Gundam 0083 — Gato não o reconhecia como um adversário de verdade, mas isso mudou após duelarem!
Isso reflete algo difícil de se entender no ocidente, especialmente nos Estados Unidos, mas na tradição cultural japonesa, para alguém poder ser chamado de rival, é preciso merecer. Há um elemento de certa admiração e vontade de se igualar. Quantas vezes não vimos nos animes diálogos como “Eu sou seu adversário” respondidas com um “Você? Não me faça rir!”, seguidas de um combate encarniçado? Isso passa por se fazer notar, e respeitar, pelo outro.

finalmente, desafiado. Ele não vai esquecer disso!
Alguns conceitos, como o Rival Amigável e o Adversário Perfeito, refletem isso — mas o ponto principal não é esse. O ponto é ele ser de alguma forma um… adversário, estando do mesmo lado ou do lado inimigo. Um personagem elege outro como alguém a ser superado a qualquer custo e arranca tudo de si para obter o respeito e o vitória contra o outro, vencendo-o em combate — ou superando-o em desempenho. Vamos dar uma pequena olhada nas possibilidades:
Adversário Perfeito: este rival está no topo de suas habilidades e a rivalidade do personagem vem do desejo de ser respeitado como adversário por ele.
Antagonista Romântico: Surge da competição pelo mesmo interesse amoroso. Se forem dois pilotos, isso espirrará no seu desempenho em treinos e combate.
Contendedor: geralmente de lados opostos, ambos se veem como iguais e há muito respeito mútuo — mesmo sabendo que fatalmente, isso não irá acabar bem.
Ex-Colega: um antigo amigo ou colega, tornado em adversário. A relação é marcada por um passado em comum, o que torna a rivalidade ainda mais pessoal.
Obcecado: movido por ego. Não basta derrotar o rival, mas humilhá-lo para validar sua superioridade. Aqui não cabe respeito e isso não vai acabar bem.
Rival Ambicioso: ele é movido por ambição desmedida e desejo de poder ou reconhecimento, vendo o protagonista como um obstáculo. Aqui, não há empatia.
Rival Amigável: essa rivalidade é motivada por respeito mútuo — e desejo de superação. Ambos competem para melhorar a si mesmos, e sem ressentimentos.
Rival em Ascensão: um adversário mais jovem buscando superar o protagonista. Sua relação mistura respeito e inveja — com o rival brigando por posição.
Rival Cômico: apesar de se ver como rival de alguém, é mais uma figura de alívio cômico. Ele nunca representa uma verdadeira ameaça para o adversário.

uma rival inimiga, disposta a tudo para vencer seu oponente…
Rival Inimigo: este rival representa uma ameaça real, por estar em uma facção oposta. A relação é baseada na vontade de destruir e/ou superar o outro.
Rival Moral: Alguém que se opõe ao protagonista por meras diferenças filosóficas, éticas e ideológicas. Não há ódio aqui mas o confronto é inevitável.
Rival Protetor: mesmo como adversário, o rival protege ou desafia o protagonista para este se tornar mais forte e estar à sua altura no combate final.
No caso de rivais do mesmo lado, essa rivalidade pode surgir dentro de equipes aliadas, especialmente entre hussardos da Brigada Ligeira Estelar. A disputa pode se manifestar em forma de competição saudável, onde ambos se esforçam para superarem um ao outro em missões e combates. No RPG, essa dinâmica pode ser usada como motivação para ambos os personagens melhorarem suas habilidades — e se destacarem, tornando-se líderes dentro de seu esquadrão.

(aviso: na vida real isso não funciona, vão por mim)
No entanto, um rival também pode ser alguém em uma facção inimiga. Aqui, o respeito ainda pode existir, mas a inimizade é muito mais acentuada, levando a duelos dramáticos em campo de batalha. Em Brigada Ligeira Estelar, isso pode se manifestar como um antagonista recorrente, alguém que o personagem principal precisa derrotar, mas que, ao mesmo tempo, compartilha certa conexão pessoal com ele, seja por suas habilidades ou por um passado em comum.
Uma rivalidade, especialmente no contexto de Brigada Ligeira Estelar, não precisa ser apenas física — ela pode envolver superação em termos de honra, lealdade e conquista de respeito. As disputas por poder e prestígio na Constelação do Sabre são tanto internas quanto externas: o jogador pode precisar superar seu rival não apenas em combate, mas também em situações políticas (ou até sociais), adicionando uma camada extra de desafio à sua campanha.

e praticamente te monopolizar em um combate.
Em termos de narrativa, um bom rival pode ser a principal motivação do arco de crescimento de um personagem. Ele é a razão pela qual um personagem se aprimora, seja para provar a si mesmo ou para proteger algo ou alguém de seu inimigo. Ao adicionar essa tensão à mesa, os jogadores têm a oportunidade de desenvolver seus personagens de maneiras mais profundas, explorando aspectos de orgulho, inveja, respeito — e até mesmo o desejo de reconciliação.
Em Brigada Ligeira Estelar, a rivalidade não precisa se limitar a combates épicos entre robôs gigantes. Ela pode permear as interações do dia a dia entre os personagens, suas ambições, e até mesmo sua maneira de lidar com a Aliança Imperial, seja lutando para defendê-la ou agindo à sua margem. E se o rival for alguém interessante e desse reconhecimento se puder avançar um passo… por que não? Deu certo em Macross****!
Até a próxima — e divirtam-se.
* De 1926 a 1989. Mas aqui me refiro mais ao primeiro período dessa época, concluído em 1945, com o final da Segunda Grande Guerra.
** Demográfico referente aos quadrinhos e animações para meninas. É o análogo feminino ao Shōnen.
*** Ace wo Nerae é um mangá sobre tênis. Muito lembrado por ter sido dirigido por Osamu Dezaki, que fez dessa produção uma espécie de cozinha estética para o futuro da animação japonesa. Sim, o anime contemporâneo começou ali.
**** Lembram de Miria Fallyna? Ela começou justamente como uma rival, tendo o orgulho ferido por sucessivas derrotas contra o piloto terrestre Maximilian Jenius. Tentou matá-lo, os dois se enfrentaram, ela perdeu de novo e… bom, isso acabou em casamento. Só foi preciso um passo para a rivalidade se transformar em outra coisa, pense nisso!
NO TOPO: Athrun Zala, de Gundam Seed — um clássico Ex-colega; Milia Fallyna Jenius, de Superdimensional Fortress Macross; Graham Aker, de Gundam 00; Guld Goa Bowman, de Macross Plus — outro ex-colega; Jerid Messa, de Zeta Gundam: essa rivalidade tem muito ódio pessoal envolvido; Gamlin Kizaki, de Macross 7: apesar de um estranhamento incial, ele evolui para um rival amigável; Anavel Gato, de Gundam 0083; Brera Sterne, de Macross Frontier; Chang Wufei, de Gundam Wing — um caso curioso no qual o rival não é o coadjuvante, mas o próprio co-protagonista, derrotado por Treize Khushrenada e agora disposto a ir à forra; D. D. Ivanov, de Macross Zero; Zeheart Galette, de Gundam AGE; Rod Baltmer, de Macross 30; Woolf Enneacle de Gundam Age (na primeira fase da série); Michael Blanc de Macross Frontier (um bom exemplo de rival amigável); Luin Lee, de Gundam: G no Reconguista — sendo um rival motivado por questões de classe social, não de desempenho individual; Dio Junyou Weinberg de Buddy Complex (até que enfim, alguém que não é de Gundam nem de Macross!) — um Adversário perfeito que não suporta ver aquele mané recém-chegado ficar cada vez tão perto dele; Jung Freud, de Gunbuster (essa leva um tempo mas acaba se tornando amiga das personagens principais); Tycho Science, de Diebuster — rival de Lal’C Mellk Mal, sendo a segunda em desempenho atrás dela e sempre procurando superá-la; Hy Shaltat, de Panzer World Galient — chega ao ponto de desobedecer ordens para poder enfrentar diretamente o protagonista Jordy; E, finalmente, Asuka Langley Soryu de Neon Genesis Evangelion… que, como é de se esperar nessa série, está aqui para desconstruir o conceito. Ela escolhe seu alvo a superar, como um bom rival. Ela se posiciona abertamente como rival. Até veste vermelho! Mas ao se ver superada pelo oponente, entra em crise e seu desempenho decresce. Na verdade, até Shinji sai meio prejudicado por causa da atitude de Asuka, a quem ninguém aguenta.
DISCLAIMER: todos os direitos dos personagens aqui descritos pertencem aos seus legítimos proprietários intelectuais. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais. Por favor, não me peçam para levantar os créditos dessa gente toda desta vez. O texto já está gigantesco.
Brigada Ligeira Estelar ® Alexandre Ferreira Soares. Todos os direitos reservados.



Quais outros exemplos de “Orgulhosas” (No sentido de começaram na rivalidade e irem se apaixonando) são bons além de Milia?
Esse é o exemplo mais clássico, mas a gente vê um caso que não se concretiza com a Haman Karn em Gundam ZZ. Ela passa demais da linha para rolar qualquer coisa com o Judau.