Este é o sexto de uma série de artigos dedicados a cada um dos perfis de personagem do futuro novo livro de Brigada Ligeira Estelar RPG (leia sobre eles NESTE LINK) e o segundo dedicado ao Contraponto — alguém para contrabalançar possíveis efeitos problemáticos do Ponto (de quem falamos nos primeiros quatro artigos) sobre o resto do grupo. Já falamos sobre o Rival Amigável. Agora falaremos sobre o perfil mais emblemático entre estes: a Outra Mão.
“Emblemático?” Sim, porque ele tende a ser o mais constante dos contrapontos e o mais variado na execução. Isso porque ele é modelado em função do ponto e nem por isso ele é um personagem de apoio. Em Guerra nas Estrelas, Luke Skywalwer era um jovem inexperiente e impulsivo com alguma dose de idealismo, querendo conhecer algo além de sua cidadezinha no deserto. Ele claramente berrava “sou o herói dessa história” só de se olhar. Aí entra Han Solo.
Se Luke era inexperiente, Han era vivido. Se Luke embarcou em uma jornada contra o Império, Han estava nessa pelo dinheiro. Se Luke não conheceu nada de diferente ao longo da vida, Han conhecia todos os lugares mais perigosos da galáxia. Enfim, se Luke é intempestivo e impulsivo, Han é calculista e cauteloso sem ser, nem de longe, um covarde. “Calma aí, garoto! Você não quer bater em algum asteroide no meio do caminho!” Han é a Outra Mão de Luke.
A Outra Mão não é um personagem de apoio — ele é um igual. Eles contrabalançam as diferenças um do outro. Esse raciocínio se aplica a personagens bem diferentes. Se o Ponto é um Equilibrado, sua Outra Mão pode lhe cobrar mais urgência e ação. Se o Ponto for um Carismático idealista, sua Outra Mão pode colocar seus pés no chão e juntos, eles fariam o possível. Na verdade, muitas vezes a Outra Mão pode incorporar outro aspecto do Ponto… e dá certo.
Um Ponto Impulsivo pode se beneficiar de um Contraponto Equilibrado… mas isso também se aplica ao Ponto Equilibrado e o Contraponto Impulsivo! Um Ponto Planejador pode contar muito bem com a ajuda de um Contraponto Carismático para garantir a confiança dos demais. Claro, todos são personagens jogadores. Ninguém está aqui para exercer hierarquia sobre ninguém. Eles não são irmãos siameses. E existem inúmeras formas de se ser diferente um do outro.
Na verdade, ao se definir como contraponto do ponto, seja qual for, uma Outra Mão é extremamente flexível e abre muito espaço para subversões e variações. Em Macross Delta por exemplo, temos duas Outras Mãos como contraponto ao impulsivo e por demais intuitivo Hayate Immelman: o linha-dura Messer Ihlefeld e a exigente Mirage Farina Jenius. Cada um, ao seu modo, mostra algum tipo de oposição ao comportamento do personagem. Veremos outros exemplos.
David Rutherford (SPT Layzner): impulsivo, esquentado e passional em contraponto ao atento protagonista Eiji Asuka. Ambos tem um desenvolvimento interessante: David começa com rancores de Eiji e termina como seu melhor amigo.
Kallen Kōzuki (Code Geass): como Ponto, Lelouch é claramente um planejador frio e calculista. Como Contraponto, Kallen é seu braço forte e é também alguém muito passional, partindo para a porrada em sua defesa sem nem piscar.
Lockon Stratos (Gundam 00): enquanto o circunspecto e estóico Setsuna F. Seiei traz claramente vários problemas na cabeça, pelo menos na primeira temporada, Lockon é amigável e sociável — apesar das suas pulsões de vingança*.
Mirage Farina Jenius (Macross Delta): voltando a ela só para pontuar a diferença para seu Ponto. Hayate é intuitivo, avesso a planejamentos rígidos, segue o fluxo, improvisa. Já Mirage, em contrapartida, é muito mais técnica.
Ray (Genesis Climber Mospeada): uma subversão do conceito. Stig Bernard** é um protagonista adulto e um grande soldado, mas ele teria poucas chances de sobreviver na Terra pós-apocalíptica sem a malícia do adolescente Ray***.
A questão da complementaridade é muito importante em uma Outra Mão. Não serão apenas as suas personalidades a contrastar: suas capacidades (e, talvez, armas) também, embora juntas em combate elas costumem funcionar muito bem.
Voltando a Luke e Han, um tem uma espada e outro tem uma pistola. E há um comentário meta-linguístico aqui: a Space Opera como a conhecemos nasceu como uma cruza do faroeste e do capa-e-espada, apenas ajustado a um imaginativo cenário futurista com vários planetas e naves espaciais. Luke cobre os clichês do capa-e-espada e Han cobre os clichês do faroeste. É só comparar os históricos de cada um desses personagens. E eles funcionam bem como dupla.
Mas Han não é escada de Luke. Nenhum Contraponto é, ou deveria ser, mera escada para o seu Ponto — ainda mais em uma mesa de jogo. A Outra Mão tem como diferencial o fato de ser pensada para cobrir os buracos e limitações deixados pelo Ponto e suas capacidades e gerar uma dinâmica divertida de interação para os dois personagens (e o resto do grupo — esses dois não estão sozinhos nem deveriam monopolizar a campanha!).
Até a próxima — e divirtam-se!
NO TOPO: Mirage Farina Jenius, de Macross Delta, tentando colocar um pouco de juízo na cabeça do protagonista.
* Aliás, a mesma dinâmica pode ser encontrada em outra dupla das séries Gundam: Duo Maxwell como contraponto do personagem central Heero Yui, Em Gundam Wing. São personagens muito parecidos.
** Respectivamente, Scott Bernard e Rand em Robotech.
*** Um pouco do contexto: No cenário, a Terra foi invadida por uma raça alienígena e as últimas forças de resistência se refugiaram em Marte, prosseguindo a guerra de lá. Como em Marte as coisas são ordeiras, disciplinadas e hierarquizadas, Stig Bernard não tem o jogo de cintura para lidar com os terráqueos em nosso mundo devastado, nem conhece realmente o terreno. Então, invertendo o clichê, o mais velho precisa aprender com o mais jovem dessa vez.
DISCLAIMER: Star Wars pertence à The Walt Disney Company; Blue Comet SPT Layzner, Gundam 00 e Code Geass: Lelouch of the Rebellion pertencem à Bandai Namco Filmworks, Inc.; Macross Delta pertence aos Studio Nue, Inc. & Satelight, Inc.; Genesis Climber Mospeada é propriedade de Tatsunoko Production Co., Ltd. e Harmony Gold USA, Inc.; Todos os direitos reservados. Imagens para fins jornalísticos e/ou divulgacionais.






Adorei o artigo, essa dinâmica entre os personagens é muito enriquecedora e torna tudo maia divertido! Nada como contracenar com um parça uma duplina que não se entende.