O Poder da Amizade

A revista japonesa de quadrinhos Shonen Jump, certa vez, fez uma pesquisa entre seus leitores. Quais são as palavras capazes de aquecer seu coração? Em primeiro lugar, veio a amizade. As duas seguintes foram perseverança e vitória — e, a partir dessas três palavras, eles construíram toda uma orientação editorial bem-sucedida para a publicação. Sim, é um clichê imenso falar no poder da amizade nos quadrinhos e animações japoneses. Mas faz sentido.

Culturalmente, o japonês é orientado a pensar no bem comum — e não há como negar o quanto eles conseguiram graças a esse senso coletivo. Aqui entra a amizade: ela talvez seja o foco mais básico e espontâneo de agrupamento, aquele a justificar o senso de lealdade entre um grupo de personagens. O protagonista não vai desobedecer ordens para salvar um piloto ilhado do outro lado do front por ele ser seu colega de farda. Ele o fará por ser seu amigo.

Sim, é um clichê imenso falar no poder da amizade, especialmente nas animações japonesas. Mas não há como negar: isso é parte do seu apelo e identificação. E em Brigada Ligeira Estelar RPG, ela pode influenciar a forma como os jogadores interpretam seus personagens e interagem entre si. Os laços de amizade podem ser um elemento-chave para o sucesso da equipe em missões e, da mesma maneira, a falta de amizade pode levar a conflitos e dificuldades.

Háteras, Bento e Daniel, os protagonistas de Batalha
dos Três Mundos. Arte por Israel de Oliveira.

Em Batalha dos Três Mundos, acompanhamos três personagens: Bento Marabá, Daniel Auer e o cachorro Háteras. Bento e Háteras já se conhecem quando a história começa — e dividem o quarto do alojamento com Daniel. No entanto, os laços entre eles se estreitam ao longo de sua missão. No primeiro romance de Brigada Ligeira Estelar, O Círculo do Ódio, dois co-protagonistas se conhecem em meio a uma batalha e forjam uma amizade leal mas com suas fissuras.

Esse é um desenvolvimento até natural: se você vai se embrenhar em um lugar distante e com um monte de inimigos querendo seu pescoço, seu instinto básico é procurar um núcleo de pessoas de confiança para se proteger. Aquele oficial com o qual você não tem relações muito boas pode até ser o mais correto com o seu dever e não se omitirá se for necessário, mas quem tem mais motivação para salvar a pele de um companheiro de batalha durante o combate?

Estar ao lado nos momentos difíceis é
fundamental para essa confiança.

É claro, é possível pensar também em amigos de infância, com um laço forjado ao longo de muitos anos — ou daquela amizade conquistada ao se enfrentar, vencer e ganhar o respeito de um adversário. Isso tende a acontecer mais entre protagonistas e coadjuvantes, mas nada impede os jogadores de estabelecer esse tipo de relação prévia uns com os outros. Mesmo assim, o mais provável aqui é termos cinco desconhecidos unidos pela primeira vez em um time.

Por isso o mestre deveria criar momentos de interação entre os protagonistas e, é claro, estes devem pegar a deixa. Mas o mais importante aqui é a confiança mútua — sem ela, o time pode ter dificuldade em trabalhar como um grupo. Mas como fazê-lo? Ações heroicas são um bom começo. Quando um personagem arrisca a própria vida para salvar a de um colega, isso mostra o quanto ele está disposto a colocar os interesses do grupo acima dos seus próprios.

A lealdade no campo de batalha é importante,
mas os laços se constroem no cotidiano.

Superar momentos difíceis juntos é uma forma importante de unir os membros de um time, criando camaradagem e solidariedade mútuas. Além disso, compartilhar segredos, informações pessoais ou vulnerabilidades também constrói confiança, criando um senso de intimidade e conexão entre personagens. No entanto, ela não nasce da noite para o dia, podendo levar tempo para se desenvolver… e ser perdida caso um deles faça algo capaz de prejudicar os demais.

É importante para todos serem honestos e abertos uns com os outros: amizade e confiança exigem manutenção. Sua quebra pode ter consequências significativas e capazes de afetar a capacidade de um time em cumprir missões — e, é claro, o problema pode surgir desde o começo: quando os personagens não se conhecem bem, ou não confiam uns nos outros, podem surgir desentendimentos e conflitos internos… e essa desunião é uma potencial receita de desastre.

Reparem o quanto eles precisaram aprender
a conviver e partilhar um com o outro…

As rusgas mais sérias entre os protagonistas podem surgir quando eles têm opiniões divergentes sobre como abordar uma situação… ou cumprir uma missão. Quando os personagens não têm um relacionamento forte o suficiente para discutir suas diferenças abertamente e trabalhar em conjunto para encontrar soluções, podem surgir conflitos prejudiciais para o sucesso do time. Para piorar, inimizades podem levar a conflitos internos ainda mais prejudiciais.

Quando os membros de um time não confiam uns nos outros, eles podem desconfiar e suspeitar uns dos outros, levando a comportamentos egoístas e sabotagem mútua, potencialmente prejudicando de forma séria as chances de sucesso da equipe. E quando os personagens não trabalham como uma equipe unida, eles podem falhar em cumprir seus objetivos e podem até mesmo colocar a si mesmos e outros em perigo, com consequências graves — e potencialmente fatais.

…só para ela pôr tudo a perder sendo rude com
os demais por causa de sua insegurança.

Reforçando: amizades não são instantâneas e, como mencionado neste texto, podem levar tempo para acontecer. Também não são garantidas e podem ser quebradas em meio às adversidades. Os protagonistas devem trabalhar juntos para mantê-las e superar quaisquer obstáculos capazes de surgir ao longo do caminho. Honestidade e colaboratividade são fundamentais para se superar os desafios pelo caminho… e isso é um passo para se cumprir missões com sucesso.

Embora grupos maduros de jogo possam lidar com protagonistas cheios de rusgas entre si, jogar RPG é uma diversão coletiva e pode ser um porre precisar conviver, na ficção, com pessoas das quais você gostaria de tomar distância na vida real — para isso existem salas de aula e escritórios! Portanto, ter personagens com relações saudáveis pode ser muito benéfico para a saúde mental dos jogadores e do mestre. Pensem nisso.

Até a próxima e divirtam-se.

NO TOPO: a Vanguarda Sideral, um grupo de pilotos disposto a combater os crimes cometidos por nobres que se consideram acima de todos… e fortemente unidos por laços de companheirismo. Arte por Eudetenis.

DISCLAIMER: Neon Genesis Evangelion pertence a Khara, Inc.; Mobile Suit Gundam 00 e Mobile Suit Gundam 08th M. S. Team pertencem à Bandai Namco Filmworks, Inc.; Ginga Kikoutai Majestic Prince pertence à SOTSU・Fields/ MJP Project; Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais.

2 comentários

  1. Primeiro!.
    Adorei a imagem da Vanguarda Sideral na capa, estava pesquisando sobre eles LITERALMENTE agora.

    A Amizade é vital para que se possa haver trabalho em equipe e o jogo de RPG seja uma diversão verdadeiramente coletiva

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