Assim como Dabog, de quem já falamos aqui, o planeta Saumenkar nasceu da necessidade específica de uma trama: apareceu pela primeira vez no volume 1 de Batalha dos Três Mundos, e decidi colocar de forma clara para poder escrever este artigo: quem não leu e quer evitar spoilers, PARE DE LER ESSE ARTIGO AGORA MESMO E CORRA ATRÁS DE SEU VOLUME. Se vocês já leram B3M* ou isso não importar a vocês, sintam-se à vontade… e continuem a leitura. Obrigado.
Ah, ainda estão aqui? Bem, vocês foram avisados. Saumenkar é, essencialmente, um mundo gelado, fora da zona habitável** do mesmo sistema solar de Arkady e Dabog. Em B3M, ele abrigava militares exilados e estes acabaram apelando para a pirataria espacial para sobreviver. No entanto, em seus subterrâneos, se ocultava um segredo: uma população de andro-ginóides*** em hibernação por incontáveis séculos. Isso terá consequências definitivas no cenário.
Como o segundo volume não saiu e o novo livro se passará um ano depois dos seus eventos, sou forçado a entregar o jogo com a aproximação do novo Brigada Ligeira Estelar. Então, a contragosto… vamos lá: não falaremos como isso aconteceu, mas no final temos uma conciliação entre a humanidade e os Andro-Ginóides. Eles se juntarão à população do Sabre e ajudarão a desenvolver a tecnologia imperial contra os invasores proscritos. Podemos virar o jogo.

encontra outra civilização que a ajuda de algum modo.
Referências Iniciais
Isso é um tropo antigo da ficção científica e está presente até mesmo nas antigas séries animadas de super-robôs: a humanidade está ameaçada e por isso precisa contar com a ajuda de alguma civilização, lhe oferecendo algum trunfo contra o grande inimigo****. É algo presente nas obras clássicas de Leiji Matsumoto e decidi ir por esse caminho. Daí veio a personagem Tera de Saumenkar: me inspirei nas “deusas espaciais” do autor, distantes e etéreas.
Porém, após cumprir seu ciclo na história, eu tinha um planeta — e a necessidade de encaixar um novo povo dentro da dinâmica do cenário. E isso é meio fora da curva dentro desse conceito referencial. Temos muitos exemplos de animes onde humanos e andróides convivem juntos, sob as esferas do Pós-Cyber (como o recente Pluto*****) e do Cyberpunk (Armitage III, Ergo Proxy, etc.). Isso estará ao acesso dos jogadores na ambientação, inclusive. Contudo…

o convívio entre humanos e andróides é comum. Porém….
…isso não costuma ser algo muito positivo nas grandes sagas espaciais japonesas. Em Cosmo Warrior Zero, baseado em conceitos de Matsumoto (e exibido no Brasil******), homens e máquinas entram em paz após uma guerra — mas é uma paz subserviente, na qual os humanos cederam com o rabo entre as pernas. Apesar de termos uma tripulação conjunta de humanos e homens-máquina, em uma grande missão, definitivamente estes últimos não são dignos de confiança.
Aliás, Matsumoto em especial não parecia olhar com simpatia a automação*******. Em Galaxy Express 999, parte da humanidade se torna mecanizada e, bem, eles perpetuam o que há de pior entre nós, com direito a “caçadores de humanos” por esporte. Definitivamente eu não queria isso de meus andro-ginóides. Precisei aceitar que não encontraria, facilmente, referências úteis para um mundo habitado basicamente por máquinas que funcionasse no meu cenário…
Saumenkar em Jogo
…e isso me fez olhar para dentro. Como fazer de Saumenkar um mundo funcional no cenário, aonde aventuras poderiam ser vividas? Bem, este planeta se destaca como um ambiente de cooperação entre humanos e andro-ginóides. É o inverso da visão de Matsumoto! Este é um lugar onde tecnologia avançada coexiste com um ambiente hostil, e as antigas bases subterrâneas adicionam uma camada de mistério e potencial de exploração. Ah, sim: ele também é um alvo.
Contraterrorismo: os traumas da Praga Ginóide persistem. Alguns não reconhecem os Andro-Ginóides, e milícias supremacistas podem invadir esse planeta.
Espionagem: muitos querem pôr as mãos nessa tecnologia, de corporações a milícias inimigas, passando pelos interesses de vários nobres da Constelação.
Exploração: Saumenkar guarda muitos segredos e tem partes desconhecidas e/ou inacessíveis. E talvez, eles possam guardar ameaças ocultas por milênios…
Ficção Científica Clássica: há muitos ganchos para essa abordagem, lidando com tecnologias em desenvolvimento — ou ocultas, em algum canto do planeta.
Ficção Científica Militar: obviamente Saumenkar é O alvo prioritário dos proscritos. A presença da Brigada Ligeira Estelar é absolutamente necessária.
Sobrevivência: falamos de um ambiente externo não-respirável e gélido. Combates são mais difíceis do que em um mundo frio, mas habitável, como Arkadi.
O subsolo intrincado e cheio de tecnologia antiga oferecerá várias oportunidades, desde a descoberta de artefatos perdidos até confrontos com inimigos ocultos que buscam explorar o conhecimento deixado pelos Andro-Ginóides. A exploração desses túneis pode revelar segredos enterrados há milênios, e os jogadores poderão se envolver em missões de resgate, espionagem e confrontos épicos. Calma — Altona e Ottokar não perderão sua importância por isso!

das space operas de Leiji Matsumoto, distantes e etéreas..
Para Terminar
Saumenkar será um ponto estratégico na resistência contra os Proscritos — e um campo de batalha vital. A constante ameaça invasora cria uma tensão crescente e oportunidades para missões de combate espacial e terrestre. A necessidade de proteger as tecnologias avançadas e aqueles capazes de lidar com ela pode adicionar um elemento de urgência às aventuras. A Constelação começará a mudar — e claro, Humanos, evos e andro-ginóides coexistirão juntos.
No final, esse planeta adquiriu sua funcionalidade narrativa para o cenário e pode se mostrar como um excelente pano de fundo para várias aventuras, especialmente se os mestres quiserem pontuar mais ainda o aspecto concreto de ficção científica do cenário. De quebra realizamos um pedido antigo dos leitores/jogadores: agora temos andróides e ginóides. Agora eles poderão fazer parte de suas campanhas regulares. Nada mau.
Até a próxima e divirtam-se.
* Só uma sigla, para facilitar nossa vida.
** Zona Habitável, em termos astronômicos, é aquela aonde a água pode existir naturalmente em estado líquido — e assim, teoricamente essa região pode abrigar vida. Os mundos fora da Zona Habitável podem estar próximos demais de sua estrela (como Mercúrio, em nosso sistema solar), evaporando qualquer líquido na sua proximidade, ou longe demais dela (como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), transformando automaticamente a água em gelo caso ela exista no local.
*** Relembrando: Andro-Ginóides é a denominação geral para os seres artificiais criados pela tecnologia pré-grande vazio. Tecnicamente, usamos termos Andróides como masculino e Ginóides como feminino.
**** Na Era dos Super-Robôs, isso era bem comum: basta lembrar dos casos em que algum alienígena de aparência humana — normalmente um dissidente do planeta inimigo ou um sobrevivente de um mundo conquistado, tentando evitar que a tragédia se repita em outro mundo (lembram da Rita do Pirata do Espaço? Não foi a a última e muito menos a primeira), nos traz o super-robô da vez (ou a tecnologia para construí-lo), ou a arma salvadora contra o invasor (novamente, lembrem de Patrulha Estelar — isso é recorrente nessas séries).
***** Baseado, aliás, em um arco do Astro Boy de Osamu Tezuka. Que, se pensarmos bem, era uma obra pós-cyber antes mesmo do surgimento do termo!
****** No finado canal Animax.
******* Basta lembrar que, na segunda temporada de Patrulha Estelar, a Argo/Yamato seria aposentada e daria lugar a naves modernas e automatizadas — e os personagens se rebelam contra isso. Pensando bem, no Martian Sucessor Nadesico de Kia Asamiya, se faz piada com o tema ao deixar claro que se as máquinas fazem tudo, qualquer zé-ruela pode ser o capitão…
DISCLAIMER: Armored Fleet Dairugger XV é propriedade de TOEI ANIMATION, Co.; Armitage III é propriedade de Anime International Company, Inc.; Galaxy Express 999 pertence ao espólio de Leiji Matsumoto e à TOEI ANIMATION, Co.; Patrulha Estelar pertence à Yoshinobu Nishizaki. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais, sem infração de direitos autorais.




Gostei de B3M justamente por ele pesar a mão na ficção científica e com a adição oficial de Saumenkar vamos mais longe ainda!