Space Opera: Deve Haver uma Busca

“Idealmente a Terra deve estar em perigo, deve haver uma busca e um homem presente na hora mais decisiva. Tal homem deve confrontar alienígenas e criaturas exóticas. O espaço deve fluir pelos portos como vinho de um jarro. O sangue deve correr pelos degraus do palácio e as naves devem ser lançadas nas profundezas sombrias. Deve haver uma mulher mais bela que os céus, um vilão mais sombrio do que um Buraco Negro e tudo precisa dar certo no final.”

Essas são as palavras do escritor britânico Brian W. Aldiss para descrever a Space Opera, e elas abrirão essa seção enquanto ela durar, porque cada um desses itens é nosso norte para este e os futuros artigos (o que não deixa de ser irônico: minha experiência com o autor não foi boa). No texto anterior, falamos do perigo final a ser enfrentado ao longo da trama. Mas, mesmo se ele não for encarado de imediato, sua própria existência afeta a todos.

Não importa sua natureza. Tanto faz se ele for uma máquina de destruição planetária (oi, Estrela da Morte!), uma ameaça natural como um meteoro, alguma coisa acima da compreensão imediata (e, como sabemos, toda ciência avançada demais pode ser interpretada como “magia”), um portal dimensional trazendo alguma coisa indigesta para toda a humanidade — ou seja, o feijão com arroz das ameaças de grande escala. Estabelecido isso, nosso próximo passo é…

Pronto, aqui temos uma ameaça capaz de destruir
nosso mundo em aproximação. Agora só falta…

A busca é relacionada à necessidade de deter a grande ameaça final. Como citamos Star Wars, vamos nos voltar ao filme clássico de 1977? Temos uma ameaça destruidora de planetas. Nossa primeira missão é resgatar a princesa dona do segredo para destruir o monstrengo. Daí a necessidade de encontrar quem o leve até o local, e pronto, a busca começa, cheia de obstáculos pelo caminho, como soldados armados e compactadores de lixo.

É importante dizer: essa fórmula é para lá de manjada. Na clássica Space Opera A Legião do Espaço, de Jack Williamson (1947), temos quase toda essa mesma estrutura, tintim por tintim… e tudo bem: a Terra está prestes a sofrer uma invasão alienígena impossível de se deter por meios convencionais. A única solução é uma arma secreta chamada AKKA, e ela é guardada por uma moça — sequestrada por agentes de um velho império espacial. Adivinhem o resto.

uma busca a ser cumprida pelos nossos bravos
heróis, senão nós não teremos uma história!

Claro, não estou dizendo para se usar toda santa vez como gancho da busca uma princesa ou uma garota McGuffin, por favor. Mas reparem o quanto a ameaça final define a busca em si. Lembram de Patrulha Estelar? Eles precisam empreender uma jornada aos fundilhos da galáxia para trazer a salvação do planeta e tudo é pensado em torno da ameaça. Nisso residem as surpresas. Eles viajariam ao planeta Iscandar — mas adivinhem qual era o planeta ao lado…

É bom lembrar o quanto “busca” é um termo muito amplo. É possível inserir subtextos — uma busca interna correlata à busca externa, como uma jornada de redenção por exemplo. Pode ser bacana. Mas este é um RPG aventuresco e como tal, é bom ser objetivo. Então, vamos dar alguns exemplos mais práticos, começando justamente pelo mais manjado de todos: resgatar uma princesa. Como aqui o termo se aplica a linhagens*, vocês podem muito bem criar a sua…

Sim, a princesa em apuros é um clássico e fatalmente
os protagonistas irão cruzar com alguma. Próximo!

Sim, eu comecei justamente por esse para mostrar como essa estrutura pode ser divertida e funcional. Se os personagens e as circunstâncias ao redor forem diferentes, ninguém vai dizer “ei, isso foi copiado de (insira seu exemplo favorito).” E se fosse, isso é RPG. A polícia dos copyrights não vai bater à porta dos jogadores para perturbar ninguém. Mas reparem: a busca é importante, mas o centro de tudo é deter a nave-mãe de uma horda miliciana.

Na famosa trilogia de Thrawn de Guerra nas Estrelas, a
busca era por uma armada automatizada do Império…
…mas o caminho é cheio de buscas secundárias — como
convencer o povo do planeta Honoghr a mudar de lado.

Buscas secundárias (as populares sidequests) são importantes porque as buscas principais podem ser muito longas e o mestre não tem o direito de deixar as coisas ficarem chatas. A busca da princesa tem a vantagem de ser direta ao ponto, perfeita para uma aventura de uma ou duas sessões — mas mesmo esta pode ser alongada caso se esteja no rastro dela sem saber onde a moça está. Por outro lado, ela precisa de alguma forma ajudar a avançar sua trama.

Por exemplo: a missão é recuperar o código, mas seus primeiros efeitos podem se fazer sentir nas mãos do inimigo — porém, ao ajudar com lanceiros e a piloto, pode-se contar com sua presença na batalha final! Talvez a piloto possa ceder aos personagens uma peça que os levará ao local onde o artefato está, ou indicar sua localização. A busca secundária não deveria ser uma pausa sem relação nenhuma com os eventos principais, por mais tênue que seja.

Isso é um obstáculo de verdade!
Se virem contra esse treco!

Atenção: busca é diferente de obstáculo. Na verdade, buscas deveriam ser povoadas de obstáculos. Lembrem-se dos Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas:  do Colar da Rainha — ela o presenteou para o Duque de Buckingham**, adversário da França (e talvez seu amante, embora Dumas limpe sua barra) e, se ele não for recuperado, sua respeitabilidade acaba! Por via das dúvidas, Richelieu envia sua agente Milady para roubar dois dos ferretes de diamantes…

O colar é a busca, Milady é um obstáculo. Os mosqueteiros tiveram vários pelo caminho, mas para ficarmos em um foco, basta dizer: qualquer procura, dependendo do grau da ameaça final, pode representar uma busca. A busca principal vem antes de tudo mas as buscas secundárias têm alvos menos graves (mas não menos importantes) a ser atingidos. Isso não mudou desde os tempos de Dumas. Mesmo no espaço sideral. Lembrem disso.

Até a próxima e divirtam-se!

* Nesse sentido, uma das inspirações para a estrutura nobiliárquica em Brigada Ligeira Estelar foi a nobreza russa, onde Príncipe e Princesa são títulos relativo a linhagens de nobreza (no original russo, Kynaz) e os títulos realmente importantes eram outros. Na Constelação do Sabre, temos Príncipes-Regentes, Príncipes-Herdeiros e outros termos similares para a alta nobreza, mas ser apenas um príncipe ou princesa, sem títulos anexados, indica apenas alguma ligação consanguínea com famílias ligadas aos Príncipes-Regentes ou à família Imperial. Um fidalgo sem importância pode ter um título de príncipe… e continuar sendo um fidalgo sem importância. Mas é bom ter um título a ostentar!
** George Villiers, 1º Duque de Buckingham (1592–1628): terceiro dignitário da corte e ministro do Rei James VI e I da Inglaterra (quando a Escócia foi absorvida pelos ingleses, iniciou-se o Reino Unido e, com isso, o Rei James VI foi renomeado James I). Há quem diga que ele e a rainha Ana da Áustria tiveram um caso e Alexandre Dumas partiu desses boatos recorrentes para compor a persona ficcional dele em Os Três Mosqueteiros.

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