Os Piores Jogadores (com Mechas) estão de volta, com novos comportamentos ruins dos jogadores à mesa e seus análogos em desenhos animados de robôs gigantes! Eu mesmo pensava estar esgotando a fonte… mas de repente, os exemplos vieram com imensa rapidez (para o espanto de quem vos escreve). Pelo visto, os jogadores de RPG não cansam de nos surpreender pavorosamente na mesa!
Sempre há algum questionamento sobre esses exemplos, é um fato. Nem espero algo diferente. Mas o ponto de vista é sempre o da praticidade na mesa. Não é impossível ter um bom personagem como representante dele na ficção científica japonesa, com ou sem robôs gigantes. Muitas vezes topamos com esses exemplos na televisão ou no cinema. Mas sem ajustes, eles não vão funcionar.
E de novo, vocês sempre podem reler as postagens anteriores (AQUI). Os piores tipos de jogadores sempre nos trarão surpresas — não do bom tipo, claro.

Mas começar desse jeito em RPG é chegar querendo sentar logo à janelinha.
O Biográfico
Alguns personagens são simples: uma nota sobre seu passado, uma motivação, como ele se juntou à vida de aventuras… e isso basta, podem acreditar. Outros, porém, trazem consigo uma verdadeira enciclopédia de eventos e coadjuvantes nas costas só para justificar um sem-número de capacidades e ganchos úteis, mesmo sendo ele apenas um garoto novato de quatorze anos… e gerando um personagem ridiculamente experiente para um iniciante, no fim das contas.
Nos animes: Reinhard von Lohengramm, de Lenda dos Heróis Galácticos. Sua mãe foi morta por um nobre de alta estirpe e seu pai não pôde entregá-lo; sua irmã Annerose foi vendida como concubina ao imperador; Reinhard se torna o maior líder militar do Império; ao puxar o amigo de infância Sigfried para o barco, este em um ano vai de capitão a grão-almirante e nem falamos da sua cadeia militar de comando. Eventos e coadjuvantes demais? Nem começamos…
Como lidar com um Reinhard na sua Mesa? Embora um Biográfico funcione muito bem na literatura ou na TV, em RPG o mestre pode ter seus próprios rumos — não incorporando um décimo de tal carga e frustrando o jogador. Essas informações podem ser bem usadas na construção de adversários e coadjuvantes… mas o ideal é não complicar. Não dê tempo ao jogador para montar backgrounds tão extensos. Deixe claro de antemão: seus personagens estão só começando.

vira primeiro-ministro como casa com a mulher mais bonita da série?
O Pragmático
Imaginem um personagem criado sob um arquétipo, com códigos de honra, defeitos ou padrões de comportamento… enfim, limitações esperadas para um protagonista. Infelizmente temos sempre aquele jogador disposto a pegar qualquer desvantagem para cavar um ponto extra na construção de personagem e encontrar alguma racionalização para contornar essas limitações (ou ignorá-los de acordo com a conveniência). Vocês já viram isso em algum jogo de fantasia*.
Nos animes: Kaname Ohgi, de Code Geass. Na série ele nos é vendido como um cara legal e com posições bem claras… mas ele é capaz de, convenientemente, mandar tais posturas para o alto de acordo com as circunstâncias, como defender o direito de Zero à identidade secreta para depois se juntar à missão de desmascará-lo — ou ser contra usar os outros como peões mas deixar Kallen quase ser baleada para pegar Zero. Ficou muito feio para o personagem**.
Como lidar com um Ohgi na sua Mesa? Não falamos do jogador fugindo ao personagem após um evento traumático***. Falamos do jogador fugindo casualmente ao personagem para participar da ação! Em jogo, isso é representado por desvantagens… e toda desvantagem deve ser usada contra o jogador quando houver chance. Ele a escolheu, logo não pode reclamar! Códigos de Honra? Fobias? Vícios? Marque-o e exija sempre dele testes de vontade! Teste-o sempre****!

seu traseiro da reta. Isso não poderia durar para sempre. Não mesmo.
O Inepto
Diferentemente do Seguro, um personagem que, como um cobertor curto, deixa o pé de fora quando se protege a cabeça… o Inepto é todo mal-pensado. É mais problemático até, por estar sempre atolado em problemas aos quais ele é incapaz de resolver (o Seguro ao menos sobrevive). Isso força os demais jogadores a uma posição de babá, sempre precisando ajudá-lo a completar suas tarefas, salvá-lo em combate ou resgatá-lo após ser capturado — e ele o será.
Nos animes: Katz Kobayashi, de Zeta Gundam. A franquia nos deu alguns personagens muito mais ineptos dentro de um robô (Lacus Clyne, Michel Ninorich), mas a maioria deles pulou fora quando ficou clara a sua inapetência para o papel. Katz, não. Sentimos pena por ele ter sido uma das crianças da série de 1979 mas, convenhamos, ele não tinha a menor capacidade de pilotar uma máquina como esta — e acabou tendo o destino lógico de um personagem assim.
Como lidar com um Katz na sua Mesa? Em geral, protagonistas ineptos surgem nas mãos de jogadores inexperientes. Nesse caso, assim como com o Seguro, o mestre deveria ajudá-lo a montar sua ficha desde o começo. É questão de prevenção, mesmo. Mas caso ele surja na sua mesa de jogo, recomende ao jogador não criar muito apego pelo personagem — e aconselhe-o a evoluir minimamente para se tornar funcional… se houver tempo para salvá-lo por experiência.

reclamão, fazendo tudo a contragosto — mesmo sua pele dependendo disso.
O Relutante
Esse é polêmico mas lá vai: o Relutante, em essência, ou ainda não recebeu o chamado para a aventura em sua jornada do herói… ou pior, não quer ser efetivado em um time para não ser “mais um soldadinho”. E, por isso mesmo, o mestre terá o dobro de trabalho: ele será puxado para o grupo pelas circunstâncias, recusará-se a ceder e se juntar ao time de forma eficiente, vai causar dor de cabeça, não vai cumprir diretrizes — enfim, é um mala sem alça!
Nos animes: Amuro Ray, de Mobile Suit Gundam. Isso mesmo, o primeirão! Dá para entender como Char Aznable, seu adversário, se tornou infinitamente mais popular: Amuro realmente estava sofrendo do estresse de combate, mas ele era mimado, reclamão e chegou inclusive a fugir com o robô e enterrá-lo para ninguém lhe cobrar o papel de piloto! Amuro só vira gente ao entender o óbvio: vidas precisavam ser protegidas… e ali, era ele quem poderia fazê-lo.
Como lidar com um Amuro na sua Mesa? Embora esse seja um tropo comum do gênero, talvez ele não funcione tão bem em RPG. Em algum ponto da narrativa, esses personagens são confrontados com a escolha entre se alistar e cair fora — e ele cede por algum motivo: na verdade, é difícil manter um personagem sem função oficial em uma nave, base ou quartel por meras questões de lógica interna*****. Tirando-se o elefante da sala, a história pode prosseguir.
Aqui cabem algumas palavras: embora os RPGs se alimentem de mídias diferentes, eles ainda são uma mídia própria com regras próprias… e, eventualmente, as necessidades dessas mídias podem entrar em colisão. O personagem relutante é um desses casos: o ideal sempre é certa proatividade para manter os personagens em movimento. Campanhas militares tem a vantagem de providenciar motivos e recursos para os jogadores. Eles recebem missões — e isso basta.
Talvez o ideal, no final sejam personagens com vontade de agir, não importando qual a força motriz por trás dela — e faço questão em reforçar o por trás. Alferes recém-formados da Brigada Ligeira Estelar, com razões próprias para se alistarem. Cavaleiros regenciais com ambições de nobreza. Corsários espaciais buscando fortuna em meio à invasão proscrita. E isso sem torrar, desnecessariamente, o tempo do mestre de jogo. Pensem nisso.
Até a próxima!
* Exemplo Clássico: o Paladino virando as costas quando os demais jogadores vão massacrar, em grupo, um inimigo sozinho e desarmado — não aquele enormemente mais poderoso, justificando o combate em grupo, mas o inimigo convencional. O princípio (canalha) por trás disso é “eu não posso fazer, mas eles podem, então vou ali fumar um cigarro e já volto, não façam nada errado, hein?”— sem se lembrar do papel heróico de um paladino. Ele deveria enfrentar seus companheiros se preciso fosse. Em uma mesa minha, o paladino perderia seus poderes e as graças de seu Deus na hora.
** Os longa-metragens de Geass tem feito retcons para limpar minimamente a barra do personagem. Ficou um gosto de que ele praticamente abriu uma brecha para o Império Britânico por conta de uma mulher — e embora a nível de marmanjo a gente entenda, certas coisas não dão para se perdoar.
*** Novamente, Code Geass: Suzaku é um bom exemplo disso, após a morte de Euphemia.
**** Recomendação minha: Hackmaster, 4th — este jogo levou tal abordagem ao extremo. Seu grande truque é: há regras para os jogadores (no Player’s Handbook), há regras para o mestre (no Game Master’s Guide) e embora o mestre precise conhecer as regras do primeiro livro, o jogador não deve conhecer as do segundo. Assim, o livro do Mestre traz um monte de rolagens sádicas para cada desvantagem. Vai escolher, digamos, Alcoolismo? Prepare-se para encontrar uma adega em cada masmorra e fazer testes contínuos para não beber mais uma dose após tomar a outra, afetando seu desempenho…
***** Já passei por isso na mesa, como jogador em uma campanha do ótimo Fading Suns. Eu era o capitão de uma pequena nave transportadora. Eventualmente o grupo se agregou à minha nave. Para facilitar as coisas, convidei um dos jogadores para a tripulação e ele não quis, para não… precisar seguir ordens. Isso criou uma situação chata: ele não poderia ficar para sempre na nave como se fosse uma nave de passeio. O jogo acabou interrompido e jamais retornou, mas em algum momento eu precisaria chegar para ele e dizer “olha, se você não está trabalhando para mim nem está pagando pela viagem, vou te deixar no próximo planeta…”
DISCLAIMER: Code Geass, Mobile Suit Gundam e Mobile Suit Zeta Gundam são propriedade intelectual da Sunrise, Inc. Legend of the Galactic Heroes é propriedade intelectual de Yoshiki Tanaka, (atualmente) via Production I.G., Inc., Family Gekijo, Tokyo MX, MBS e BS11. Conteúdo divulgacional, sem infração de direitos autorais.
Ah, personagens de anime e seus históricos gigantescos… em alguns casos é forçado até na mídia original (olá Alita e seu background que não acabou até hoje), quanto mais no RPG. E tem jogos que estimulam isso! “Então seu neófito de 13° Geração teve 3 mentores, 2 amores perdidos e 4 traições e encontrou o próprio Caim… EM CINCO MESES?”
O Ohgi pode ser um pilantra, mas é difícil argumentar com os resultados ahuahuahauahu
A Alita tem uma categoria só dela. Outra hora a gente fala disso.