Adaptando de Onde For

Um elemento importante nos RPGs é a polinização cruzada. Na sua mesa de jogo, a polícia do copyright não vai bater em sua porta — e todo mundo sabe disso. Não falo de você misturar dois cenários diferentes. Falo de você puxar elementos de um cenário para o seu (coadjuvantes, itens e equipamentos, criaturas, etc.) para ajudar a turbinar sua mesa de jogo. Licenças abertas até ajudaram nesse sentido, podemos dizer, mas isso já era feito antigamente.

É claro, na hora de fazer material oficial eu evito isso — por motivos bem óbvios* — mas esse saque nas criações alheias sempre aconteceu na mesa de jogo de meio mundo. Ou você opera sobre as normas de um mesmo sistema e se poupa de trabalho extra (“Legal, vou usar uma metralhadora em meu jogo de fantasia medieval”) ou mete a mão na massa e vai fazer suas adaptações. E tudo bem — vai fundo. A mesa é sua, os livros são seus (supomos), então e daí?

E onde quero chegar com isso? Bom, convenhamos: o sistema de 3DeT Victory é muito frouxo em termos mecânicos, no bom sentido, tornando possível adaptar praticamente qualquer coisa para Brigada Ligeira Estelar — se apareceu, digamos, uma adaptação do Godzilla para o sistema em algum canto da rede, nada impede o mestre de fazê-lo se erguer dos oceanos de Inara em sua campanha. Mas achamos interessante jogar, para vocês, algumas chaves de adaptação.

Quer elfos do espaço, como em Crest/Banner of the Stars?
Diga que são aliens ou geneticamente criados e pronto.

Em primeiro lugar, é importante fazê-lo se dobrar à lógica do cenário aonde ele entrará se a ideia for introduzir um elemento de algum lugar muito diferente. Você quer inserir aquele seu vilão favorito de fantasia, com poderes mágicos, em um ambiente de ficção científica aonde magia não existe (como o próprio Brigada Ligeira Estelar)? Ao invés de introduzi-lo como, digamos, um habitante de outra dimensão, por que não fazer dele um esper poderoso?

Mas isso por si não basta. Verossimilhança é sempre a chave. Se você fizer seu vilão evocar monstros do nada com seus “poderes psíquicos”, a suspensão de descrença vai para o vinagre. Mas e se ele usar tecnologia para criar monstros com a engenharia genética e jogá-los em cima dos robôs dos jogadores? A coisa muda de figura e ainda ganhamos um pouco, sem causar estranheza na sua experiência de jogo. Monstros ja fazem parte da Constelação, afinal!

Monstros mecânicos também podem ser uma
boa ideia. Basta dizer: “são robôs” e assim…

Outra opção seria explorar tecnologia avançada capaz de simular efeitos mágicos. Em um universo repleto de tecnologia, é plausível imaginar artefatos ou dispositivos capazes de criar ilusões, manipular energias ou gerar efeitos assemelhados à magia — então peguem seu item favorito e mudem sua descrição, os resultados serão os mesmos. Essa abordagem mantém a coesão do cenário e simultaneamente oferece oportunidades criativas para mestres práticos.

Além disso, ao adaptar elementos de outros cenários ou fontes de inspiração, é importante fazer esses elementos se integrarem organicamente à história e ao mundo de jogo. Isso envolve desenvolver contextos e motivações para esses elementos, criando conexões com personagens e enredo em geral. Hipoteticamente, você pode querer incluir uma relíquia antiga com poderes mágicos, vinda do seu cenário de fantasia favorito — mas isso não funcionaria aqui.

Um exemplo do oposto: o scanner mágico de Fairy Tail não
passa de um Tablet com Google Maps, versão fantasia.

Ao invés de introduzir magia no universo, você pode reinterpretar essa relíquia como um artefato tecnológico extremamente avançado — e criado por uma civilização antiga, com conhecimentos além de nossa compreensão atual. Esse artefato pode manipular energia quântica, controlar campos gravitacionais, manipular a realidade espaço-temporal ao nível das super-cordas… e a busca por essa relíquia pode gerar uma trama envolvente. É só racionalizar tudo.

Da mesma forma, a engenharia genética pode ser uma mão na roda caso se queira encher o cenário de criaturas familiares — e com a ficha já pronta — de outros jogos. Você quer aquele dragão vermelho e bem grande, com baforada de fogo e um tesouro acumulado como ninho? Imagine se um nobre leitor de Tolkien, com dinheiro de sobra na conta e pouco juízo na cabeça, decide encomendar o desenvolvimento genético dessa coisa e o bicho sai logo de controle.

Quer adaptar um dragão para o cenário? Diga
“Engenharia Genética” e está resolvido!

Se você deseja incluir povos diferentes, também é possível adaptá-los como resultado de experimentos genéticos ou mutações induzidas por exposição a tecnologias avançadas. “Alienígenas” com habilidades especiais podem ser resultado de manipulações genéticas realizadas, no passado, por humanos com o objetivo de criar seres aprimorados para a guerra. Aí você usa o arquétipo** desejado, põe na panela, espera três minutos, adiciona tempero… e pronto!

Por fim, lembre-se sempre: se você comprou o livro, o cenário é seu. O cânon importante é o usado em sua mesa, nada menos, nada mais. Só não esqueça de desenvolver contextos e motivações integrados à história e ao mundo de Brigada Ligeira Estelar. Isso inclui criar conexões com os personagens dos jogadores, consequências para suas ações e a influência desses elementos no equilíbrio de poder da ambientação. Vale a pena.

Até a próxima e divirtam-se!

* Há exceções. A primeira versão do gerador aleatório de personagens foi baseada no Lifepath do bom e velho Mekton Zeta e distribuída gratuitamente pela internet. Mas como isso não poderia ser utilizado em um livro, por razões óbvias, acabei criando um novo anos depois.
** Substitutos das antigas Vantagens Únicas.
Ver página 75 do novo Manual 3DeT Victory.

DISCLAIMER: Todos os personagens aqui mencionados ou retratados são pertencentes a seus respectivos proprietários intelectuais. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais.

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