Academias do Sabre: Usando mais Clichês

Como dito em artigos anteriores dessa seção, nós temos dado uma guinada para o School Battle Shōnen* porque, de modo geral, as animações japonesas sobre robôs gigantes não focam muito nessa etapa — no máximo, elas nos dão uma vista panorâmica no treinamento dos protagonistas para jogá-los logo para a ação. Além disso, em outro artigo das Academias do Sabre (ele pode ser visto AQUI), apresentei alguns coadjuvantes clichês comuns a esses materiais.

Na verdade, muitos deles seriam base perfeita para um personagem jogador… e tudo bem. Logo, como a lista de clichês é bem grande, achei interessante voltar a ela. Assim, quando algum tipo de personagem está ausente da formação do grupo, talvez seja uma boa ideia pedir ajuda a estes. Da mesma forma, eles podem ser usados para movimentar as coisas quando elas estiverem paradas demais. Coadjuvantes são úteis tanto para mestres quanto para jogadores.

No entanto, procuro me aferrar a uma regra de ouro: o protagonista protagoniza, o coadjuvante coadjuva… e o antagonista antagoniza. Se temos algum perfil em especial no grupo, eles podem resolver por si sós um problema específico. Se eles estiverem em falta, um coadjuvante pode trazer a solução concreta — mas os protagonistas deveriam implementá-la com as próprias mãos. Personagens de apoio não existem para brilhar. Os personagens jogadores, sim.

O que torna um protagonista solitário potencialmente
problemático pode ser de valia se ele for coadjuvante.

O Lobo Solitário

“Eu não preciso de ninguém. Vou fazer isso sozinho.”

Quem é ele? Um combatente altamente habilidoso que prefere trabalhar sozinho. Um passado sombrio, ou um segredo pessoal, fez dele anti-social. Porém, por trás dessa fachada, há uma pessoa com sentimentos profundos — e aos poucos ele pode se tornar um membro relutante do seu time. Em personagens jogadores, ele é um bom candidato ao perfil impulsivo ou durão — só não o deixe se tornar um Edgelord!

Como Pode ser Útil? Suas habilidades fazem dele uma força a ser reconhecida e com o tempo ele pode se tornar um aliado formidável. Mas sua independência pode ser bem usada pelo mestre: como ele “não faz parte do time”, o lobo pode aparecer, relutantemente, apenas quando o grupo realmente precisar de ajuda — ou seja, ele não estará no caminho dos personagens, roubando seu protagonismo. Ele pode acudi-los quando estiverem quase mortos, por exemplo.

Exemplo para sua campanha de Brigada Ligeira Estelar: Kaori Hanzo. Kaori é uma talentosa cadete Viskeyjin, especializada em missões furtivas e ataques rápidos. Ela perdeu sua família em circunstâncias um tanto nebulosas e jurou vingança, se focando em incessantes treinos de combate, dentro e fora de um robô gigante. Especialista no uso da espada, Kaori se recusa a se unir aos demais, mas com o tempo, aprende a respeitar e confiar em seus colegas.

Aviso: se vocês convencerem seu mentor a lhes dar
um treinamento especial, ele não vai pegar leve!

O Mentor Relutante

“Eu não estou aqui para fazer amigos, vim para treinar vocês.”

Quem é ele? Este personagem é um instrutor (ou veterano) com vasta experiência em combate e táticas, porém é relutante em se envolver emocionalmente com os cadetes. Ele pode ter um passado traumático ou simplesmente preferir manter uma distância profissional. Talvez ele saiba mais do que realmente ensina aos alunos e existam segredos os quais ele não queira partilhar tão facilmente.

Como Pode ser Útil? Ele serve como uma fonte de conhecimento e habilidades avançadas para os personagens, desafiando-os a superar seus próprios limites ou arriscar suas próprias vidas. Sua relutância em se envolver pode gerar conflitos interessantes e, eventualmente, a construção de um vínculo emocional pode ser uma subtrama rica para a campanha. Ele também pode ser uma figura de autoridade a qual os personagens precisam impressionar ou desafiar.

Exemplo para sua campanha de Brigada Ligeira Estelar: Capitão Dmitri Volkov. Veterano da Brigada Ligeira Estelar, esse oficial do planeta Arkady é conhecido por sua frieza e eficiência em combate. Ele perdeu muitos camaradas em batalhas passadas e, por isso, prefere não se apegar aos cadetes ou aos próprios colegas. No entanto, sua experiência e habilidades são inigualáveis, sendo crucial para preparar os jovens pilotos para os desafios que enfrentarão.

Reparem no twist: em Soukou no Strain, A
Figura Misteriosa é a própria protagonista!

A Figura Misteriosa

“Vocês não sabem de nada… Mas vão descobrir, da pior maneira.”

Quem é ele? Um cadete ou instrutor que parece sempre estar um passo à frente, com um passado enigmático e habilidades impressionantes. Ele mantém um ar misterioso — e pode ter motivos ocultos para suas ações. Talvez não seja quem diz ser. Seu visual geralmente inclui elementos que apenas amplificam sua “aura” e geram mais perguntas, como um uniforme modificado ou acessórios peculiares.

Como Pode ser Útil? Ora, a Figura Misteriosa é um gancho de roteiro ambulante! Ele pode servir como um catalisador para revelar segredos e desenvolver a trama de sua campanha. Sua presença pode criar tensão e curiosidade entre os personagens, incentivando-os a descobrir mais sobre ele e suas verdadeiras intenções na academia. Talvez a Figura seja tanto um aliado quanto um antagonista, dependendo das circunstâncias… e das escolhas dos personagens.

Exemplo para sua campanha de Brigada Ligeira Estelar: Selene di Rossa. Uma cadete transferida de uma academia desconhecida, Selene é uma esper com habilidades telepáticas. Seus objetivos não são bem claros e ela frequentemente desafia os protagonistas de maneiras sutis e diretas. Seu comportamento imprevisível e suas ações misteriosas podem estar ligadas a uma conspiração maior dentro da Constelação do Sabre — e sua academia é o ponto focal dela.

Muitas vezes, por trás da figura misteriosa, temos
um gancho de roteiro por baixo do nariz de todos.

É importante lembrar sempre: arquétipos são apenas ferramentas à disposição do mestre de jogo. Eles não deveriam ser um recurso barato, mas sim um meio de enriquecer a narrativa e criar uma experiência mais envolvente para todos os participantes. Variar um pouco dos clichês e adicionar algum tipo de… camada de complexidade pode transformar um personagem genérico em alguém memorável. Talvez fugir do óbvio a partir dessa matéria-prima possa ajudar.

Por outro lado, sejamos sinceros: embora costumemos reclamar do seu excesso, nós gostamos de clichês e os associamos como parte de uma obra. Na busca por um sabor parecido com o de nossas referências favoritas (todo ser humano tem referências favoritas), sempre nos voltamos a eles: o piloto rebelde mas com força de vontade, a garota disposta a se provar tão boa quanto qualquer homem, etc., etc., etc.. Sem seus clichês, o gênero não seria o mesmo.

Imaginem seu shōnen** de luta sem um garoto tentando se tornar mais e mais forte. Ou um shōjo*** escolar sem a protagonista ingênua e boazinha mas com uma resiliência emocional enorme contra as dores do mundo (ou sem a vilãzinha inventando mentiras nas costas dela). O problema não são os clichês, é a preguiça em usá-los da mesma forma de sempre. O prato é o mesmo, apenas dê outra aparência — superficialmente! Funciona!

Até a próxima e divirtam-se!

* Ou seja, animes shōnen de luta ambientados em academias escolares, como Asterisk War, Rakudai Kishi no Cavalry, Absolute Duo, Hundred, The Irregular at the Magical High School esse tipo de material.
** Quadrinhos e animações destinados a leitores jovens do sexo masculino. Classificações são muito importante para os japoneses (e facilitam nossa vida, sendo sincero)! Nós os associamos a materiais de luta, mas isso é confundir gênero com demografia.
** Quadrinhos e animações destinados a leitoras jovens do sexo feminino.

DISCLAIMER: Mobile Suit Gundam — The Witch from Mercury é uma propriedade da Bandai Namco Filmworks Inc.; World Break: Aria of Curse for a Holy Swordsman pertence à Akamitsu Awamura-SB Creative Corp. / WBP; Soukou no Strain é propriedade de Happinet e Studio Fantasia; The Irregular at the Magic High School pertence a Tsutomu Satō e ASCII Media Works; 11 Eyes pertence às desenvolvedoras Lass e Mages, Inc., via Doga Kobo, Inc.; Full Metal Panic! é propriedade da Gonzo K. K., baseada na obra de Shoji Gatoh. Todos os personagens e obras mencionados estão aqui apenas para fins jornalísticos ou divulgacionais e pertencem legalmente a seus devidos proprietários.

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