Há muito tempo, nos primórdios deste blog, mais exatamente neste link AQUI, eu sugeri como referência obras fora do escopo da ficção científica como fontes de ideias para mestres de jogo ou de jogadores. E sinceramente ainda acho essa uma ideia interessante: tudo pode ser fonte de ideias para sua mesa de jogo e, na hora de ser transcrito para outro cenário, a matéria-prima vai render uma obra completamente diferente… por necessitar de adaptações.
Se vocês não acreditam nisso, comparem o ótimo filme sci-fi Outland, Comando Titânio (1983), de Peter Hyams, com sua inspiração: Matar ou Morrer (1952), de Fred Zimmerman. Outland nasceu da vontade de Hyams fazer um faroeste e receber repetidos “NÃOS” dos produtores. Haviam motivos: desgastado após uma década de filmes revisionistas, tudo indicava o óbito do gênero. Aí veio a constatação óbvia: o faroeste não havia morrido — ele só mudou de casa…
… ou vocês não se lembram de quando Han atirou primeiro?
Outland é até hoje um bom exemplo de faroeste espacial. Fica a dica (se pensarmos nas áreas mascon do cenário, esse filme é uma excelente fonte de ideias para campanhas de Brigada Ligeira Estelar), mas falamos de uma obra já transplantada conceitualmente para o gênero. Vamos então sugerir alguns filmes. Eles podem ser evocativos — e de alguma forma turbinar suas campanhas com robôs gigantes.
Asas, de William A. Wellman
Antes de berrarem “Peraí, esse é um filme mudo de 1927”, mais respeito com a obra! Ela não ganhou o primeiro Oscar de Melhor Filme da história (e o único na era do cinema mudo) sem motivos: naqueles tempos selvagens dos primórdios do cinema, o diretor convocou pilotos de verdade e prendeu as câmeras nos aviões, correndo o risco de matar o elenco no processo. As sequências aéreas não apenas funcionam bem até hoje como também continuam empolgantes!
Além disso, ele é o pai de todas aquelas histórias com pilotos de combate, amizades balançadas, triângulos amorosos, adversários mortais mas honrados (o Conde von Kellerman, líder do temido esquadrão conhecido como Circo Voador), máquinas destruidoras da vez (o Bombardeiro Gotha)… o real robot bebe muito das aventuras de aviação e essa é, simplesmente, a obra mais seminal do gênero. Antes de existir um Macross, houve um Asas — vale a experiência.
Caçada ao Outubro Vermelho, de John McTiernan
Na reta final da Guerra Fria, um capitão soviético pretende desertar para os Estados Unidos — levando seus oficiais e o mais avançado submarino da sua marinha. As forças locais o caçam. Os Estadunidenses, ao detectá-lo, entendem isso como um ataque — e eles entram na caçada. O agente secreto Jack Ryan (em sua estreia cinematográfica) é o único a considerar seriamente uma provável deserção e tenta evitar um potencial confronto entre os dois lados.
Não vou discutir aqui os aspectos políticos do material, mas… vamos admitir: McTiernan (de Predador e Duro de Matar) entende do riscado. Tanto o livro de Tom Clancy quanto esse filme foram fundamentais para a popularização do technothriller — e ele acerta, na mosca, ao definir a sensação de insegurança e desconfiança imperante na Guerra Fria. Isso é perfeito para o universo cheio de diferenças e interesses conflitantes de Brigada Ligeira Estelar.
O Heróico Covarde, de Richard Lester
Harry Flashman é um dos maiores heróis do Império Britânico, famoso e admirado. Ele também é um covarde, um devasso e um crápula, mas sua sorte e cara-de-pau sempre o fazem parecer um herói no final. Entretanto, desta vez ele conseguiu fazer como inimigo o próprio Otto von Bismarck da Alemanha e agora está muito enrascado! Adaptação do segundo livro da série Flashman, de George MacDonald Fraser… e um espetacular exemplo de protagonista picaresco.
Esse filme não é tão bom quanto poderia ser, apesar de ter como roteirista o próprio autor. Ele demora para engrenar e tem problemas sérios de ritmo. No entanto, mesmo sendo uma comédia de época, também é um capa-e-espada exemplar — com todos os seus elementos de espionagem, intriga e aventura — mesmo sob uma ótica venenosa, típica dos anos 70. E Malcolm McDowell faz a festa como o personagem (a sátira de “Patton” no começo do filme é impagável)!
Esquadrão Red Tails, de Anthony M. Hemingway
1944. As forças aliadas tem sofridos muitas baixas no combate aéreo e por isso o alto-comando militar decide engolir seco e incluir esquadrões de inexperientes pilotos afro-estadunidenses. Quando eles estavam prestes a serem mandados de volta para casa, eles têm uma última chance de mostrar sua coragem contra todas as probabilidades, muito a provar e tudo a perder. Essa é a história do Esquadrão Red Tails (“Caudas Vermelhas”). Parece bacana, não?
Projeto de estimação de George Lucas e último filme da empresa antes de ser adquirida pela Disney, sua história é muito relevante no nosso contexto atual… mas como obra é só um produto mediano e datado (encare como um filme de guerra dos anos 40 e 50 feito nos dias de hoje — sem atualização). No entanto, merece ser visto como referência: é uma boa visão sobre o treinamento e os laços entre pilotos, sem o fator novelesco de um “Asas” a mascará-lo.
Comando Delta, de Menahem Golam
Avião de passageiros é sequestrado por terroristas árabes e levados para Beirute. Um esquadrão de elite — o Comando Delta — é convocado pelo Presidente dos Estados Unidos para passar fogo nos sujeitos. Como em qualquer produto da Cannon Films, é questionável em todos os sentidos… mas sejamos francos: esse filme definiu um alto-conceito. Duvida?
“Full Metal Panic é um Comando Delta Technothriller com robôs gigantes e comédia romântica adolescente.”
Isso já dá uma proposta de filme para Hollywood, podem acreditar. Em todo caso, histórias com esquadrões de elite em missão sempre rendem boas ideias para a mesa de jogo e certamente há centenas de fontes de ideias para sua campanha no cinemão blockbuster. Diacho, até um Hobbs & Shaw (com vírus assassinos e organizações terroristas comandados por inimigos sobre-humanos) pode render muito nesse sentido!
Peguem a pipoca, divirtam-se e até a próxima!
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