Uma insistência minha: enfiar um lifepath — um gerador aleatório de personagens — no livro básico. Isso nunca se concretiza por mil motivos editoriais. Já fiz uma adaptação não-oficial do lifepath de Mekton Zeta no passado, ajustando-o para nosso cenário. Mas eu sentia a necessidade de Brigada ter o seu próprio gerador, com sua própria estrutura (até para ele ser publicável). Em algum momento, quis algo mais extenso, como o gerador do Traveller…*
Mas quando chega a hora dos cortes, ele sempre é o primeiro a dançar. Por isso, eu decidi liberá-lo — um dia eu consigo publicá-lo em algum suplemento. Alguns comentários, antes de tudo: não o tenham como uma muleta. A criação do personagem ainda cabe essencialmente ao jogador. Este deve remover eventuais inconsistências (em conjunto com o mestre), fazer seus ajustes e ter em mente — nada aqui está escrito em pedra. Se algo desagradar você, mexa.
É bom lembrar: a depender dos dados, seu resultado pode ser um tabula rasa — aquele personagem sem grandes eventos no passado. Não fique chateado caso isso ocorra: se em mundos de fantasia temos vários “garotos da fazenda largando a vida sossegada porque querem ser cavaleiros”, por qual razão as coisas seriam diferentes aqui? Além disso, você pode ter qualquer origem à escolha. Os seus feitos futuros serão o mais importante, tenha isso em mente!
Caso você seja um familiar, role o proprietário do animal, tendo em mente uma origem abastada, provavelmente de nobreza. Isso vai definir seu mundo de origem. A seguir, vá para a Tabela 3B. Caso você seja um andro-ginóide, seu passado não importa: assuma que você veio do planeta Saumenkar (ver Batalha dos Três Mundos) e vá direto para a Tabela 3C. Nos demais casos (Evos, Humanos e Espers), vá para a Tabela 2, a seguir:
A partir daqui, siga o seguinte padrão:
Passo 1: Vá para a Tabela 3A e jogue 1D6-3 (ou seja, jogue um dado de seis faces e subtraia três do resultado). Isso corresponde ao número de vezes pelo qual você usará a tabela. Caso o resultado seja um zero (Resultado 3 ou inferior, menos três no dado), você começará como tabula rasa, tendo uma vida até agora tranquila e despojada de eventos melodramáticos até o momento.
Passo 2: Jogue 3d6 pelo número de vezes estabelecidas no passo 1. Um dado corresponderá à centena, um corresponderá à dezena e um corresponderá à unidade.
Passo 3: Se algum resultado for contraditório ou inconciliável, descarte um dos dois resultados à sua escolha. Quanto menos informações, maior será a coesão potencial entre os resultados.
Passo 4: Crie uma história com esses elementos. O mestre o ajudará se você não conseguir uni-los. Não tenha medo se algum passado parecer sombrio demais à primeira vista — parte da natureza de um cenário heróico envolve superar as amarras do passado em nome de algo maior e mais digno.
Sugestão opcional: impor um ano entre 14 e 16 ao número de rolagens de 3d6. Assim, um Tabula Rasa (ou um personagem com apenas uma rolagem de 3d6) fatalmente terá 14 anos. Um personagem com duas rolagens de 3d6 pode ter 15 anos e assumimos que eventos mais marcantes ocorreram durante esse período, por exemplo. O mestre, novamente opcionalmente, pode permitir três rolagens a quem tiver a vantagem Experiente, sem precisar passar pelo Passo 1. Mas mesmo um veterano pode ter tido um passado mais convencional, no qual nada muito espetacular aconteceu.

Caso seu personagem seja um familiar, jogue um dado e veja se o resultado foi par ou ímpar.
Caso tenha sido par, você tem um mestre, deve comprar a vantagem aliado — seus altos e baixos na vida são ligados a esse personagem — e rolar a tabela de eventos convencional para esse coadjuvante; você foi afetado de forma indireta (se seu mestre for alguém que tenha uma vingança a empreender, é compreensível sua presença ao seu lado na sua jornada). Lembre-se apenas da natureza coadjuvante de seu aliado — ele estará sob o comando do mestre, seja um guerreiro vingativo ou uma donzela sob risco de vida.
Se o resultado do dado for ímpar, Jogue 1D6 para a Tabela 3B (caso o mestre esteja vivo, talvez seja interessante rolar a tabela convencional para ele):
Caso seu personagem seja um andro-ginóide, jogue um dado: Ímpar corresponde à dezena 1 e Par corresponde à dezena 2. De resto, jogue mais 1D6 para definir a unidade.
Vamos usar alguns exemplos de como essas tabelas são amplas e podem gerar diferentes personagens:
6 no dado (3 jogadas); 341, 464 e 314: seu personagem foi inocente em um ato desastroso no planeta Trianon, mas por ser filho bastardo de um nobre importante, o judiciário o protegeu por questões de classe social (você escaparia mesmo se fosse escandalosamente culpado, e ninguém faz nem questão de esconder — desfaçatez é uma exibição de poder!). Revoltado, você se alistou na Brigada ao invés das guardas regenciais como uma forma de se provar — mesmo seus colegas o vêem com certa desconfiança — e acabou fazendo um inimigo perigoso em sua primeira batalha, um nobre destitulado membro da TIAMAT. Ele está ferido em seu orgulho e vai voltar em busca de revanche, pode apostar!
1 no dado (0 jogadas); Tabula Rasa: você é uma órfã jovem, bonita e culta do planeta Annelise, sendo educada desde cedo por uma parente distante para ser cortesã entre a alta nobreza. Nada de errado aconteceu realmente — não ainda — mas você não quer isso da vida e talvez se alistar na Brigada seja uma boa opção para sair do planeta e fugir deste destino.
5 no dado (2 jogadas); 353 e 636: você é um jovem aventureiro. Liderou, no passado recente, um levante em um domínio do planeta Forte Martim. Tornou-se um herói aos olhos da população local e ganhou um título de nobreza menor da própria Princesa-Regente, assumindo o lugar. Entretanto, para conseguir essa vitória, você contraiu dívidas com mercadores de armas e, sem muitas opções, decidiu se valer da boa fama obtida para buscar fontes de dinheiro como um condottiere, transformando sua guarda de libertadores em meros mercenários e, assim, se livrar dos credores na sua cola. Mesmo sob um código de ética, muitos de seus homens estão frustrados — vocês não pegaram em armas por isso!
Novamente: não é preciso jogar essas tabelas. Se um jogador tiver uma ideia própria, dê uma chance a ela. No entanto, estes resultados não precisam excluir aquele conceito original do jogador. Vamos tomar como exemplo: “meu protagonista é um nobre injustiçado. Ele se juntou à Brigada e quer um dia reconquistar suas posses e reputação perdida” ou “meu protagonista é uma voluntária inconformada pela devastação de sua aldeia nas mãos dos Proscritos”. Crie, misture e até remova se algo não encaixar. A tabela apenas traz ideias — caberá ao jogador ordená-las e desenvolvê-las.
Depois disso, é só batizar seu personagem. O gerador rápido de nomes (veja AQUI) serve para isso. E espalhem seus personagens nos comentários e nas redes sociais! Vai ser divertido!
Até a próxima!
*Traveller é um clássico RPG sci-fi que fez muito, muito sucesso em seu tempo e foi um dos primeiros (talvez o primeiro, mas eu posso estar errado) a usar tabelas aleatórias para geração de personagens. Esse detalhado cenário foi inspirado na Era de Ouro da Ficção Científica — se seu negócio é Asimov, Heinlein, Anderson e companhia, este jogo é obrigatório — mas o gerador era particularmente extenso e poderia levar a “caminhos ruins”, tendo morte como uma de suas possibilidades e forçando o jogador a começar tudo de novo. Não é preciso ser tão radical assim, gente!
Oba, gerador novo! Vamos lá:
Tabela 1: 20 (Esper)
Tabela 2: 8, 3 (Winch Oriental)
Tabela 3A: 4 (1 evento), 314 (bastardo de um nobre criado por outras pessoas). E não é que existe nobre mentalista mesmo? Hahahah
Simples, mas levanta várias possibilidades. Um mentalista é um ativo muito útil para a nobreza, então o pai ou mãe pode ter dado um tiro no próprio pé em afastar a criança. Talvez queira se aproximar de novo, ou manipulá-lo para seus fins. Também tem ganchos em potencial com a família de criação, e com a outra mãe ou pai. Talvez seja da nobreza do outro lado de Winch, um escândalo esperando pra transformar a vida de todos os envolvidos num inferno. Curti.
Concept maneiro. Manda o nome e aparência do personagem.
Nome nós já temos.
Aparência… eu por experiência própria acho essa uma ideia que pode não agradar. O gerador já dá alguns palpites ao estabelecer a origem do personagem e é melhor deixar aberto assim.