Nesse último artigo do ano de 2022, os Piores Jogadores (com Mechas) estão de volta com os piores comportamentos na mesa de jogo e os personagens mais representativos na arte de fazer o mestre de jogo arrancar os próprios cabelos! A lista parece se esgotar sempre: volta e meia acredito na morte desta seção, por falta de pauta — e, de repente, os exemplos aparecem no susto!
Lembrando sempre: alguns protagonistas (lembrem-se, usaremos “protagonista” no lugar de PC no novo Brigada Ligeira Estelar RPG) até podem parecer tipos válidos mas o problema não é se ter um personagem como esse na mesa — é ter um jogador assim. O aborrecimento só começa quando alguma figura começa a azedar a experiência dos demais jogadores ao redor. Tenham isso em mente.
E de novo, vocês sempre podem ler as postagens anteriores (AQUI). O mestre pode ter certeza: os piores tipos de jogadores nunca somem de nossas vidas.
O Sem-Graça
O jogador participa da ação e não tem problemas com as batalhas. Talvez ele até dê boas ideias aos demais jogadores. No entanto, saindo do combate, ele é um desastre: não se engaja em ganchos de trama, não interage, talvez descreva seus atos na terceira pessoa e se limite a seguir os movimentos do grupo. Ou seja, ele só serve para lutar. Talvez sua ficha nem tenha nenhum tipo de vantagem ou desvantagem para uso social, deixando-o apagado na mesa.
Nos animes: Elan Ceres, de Mobile Suit Gundam: The Witch for Mercury. Como combatente? Ele é perigosíssimo e mortal! Chuta o traseiro dos seus inimigos e até mesmo os destroça em duelos, quando bastaria para ele se limitar a derrotá-los em combate. Porém, ele é uma figura apática, catatônica e com o carisma de um nabo — mas as meninas o acham bonitinho e isso substitui qualquer perícia social para fins práticos, podem reparar. Não darei spoilers.
Como lidar com um Elan Ceres na sua Mesa? Apesar dele formar com o Decorativo, com o Passivo e com o Número uma espécie de quarteto da apatia em jogo, ele pelo menos é participativo quando o assunto é combate. Ninguém precisa interpretar Shakespeare no seu jogo de fim de semana, mas ter engajamento é bom. Tente estimulá-lo a obter alguma vantagem ou perícia de uso social: se isso deu certo com Elan no anime, pode dar certo com seu jogador também!
O Explosivo
Esse é outro cujo foco prioritário é o combate. A diferença é sua ansiedade para este momento. Ele parece a todo instante estar com um gatilho pronto e quando chega a esperada hora, não esperem muita coordenação com o resto do time: ele está aqui para se jogar na briga e gritar “LEROOOOY JENNNKINNS”, bagunçando todos os planos cuidadosamente traçados pelo resto do grupo. Se eles sobreviverem à impulsividade dele, o resto é lucro, podem acreditar.
Nos animes: Isao Ohta (Isao Fukuda, no Brasil), de Patlabor: The Mobile Police. O negócio dele é sentar um tiro nos cornos de todo mundo. Apaixonado por armas e de temperamento explosivo, Ohta/Fukuda frequentemente manda tudo para o alto e parte para cima do oponente na base do tiroteio, tendendo a acertar tudo ao seu redor e causar vários danos públicos… mas quando se acalma, sua mira é precisa. Porém, isso só ocorre por conveniência de roteiro.
Como lidar com um Ohta/Fukuda na sua Mesa? Novamente: se for só uma questão do personagem em si, deixe o jogador se divertir. Mas se o jogador pressionar por combate e começar a irritar os demais, é bom ter uma conversa amigável com ele sobre o problema. Mesmo assim o mestre, por via das dúvidas, deveria garantir pelo menos um combate por sessão — é trabalho dele conhecer o perfil dos jogadores e saber qual é a melhor forma de agradar todo mundo!
O Aéreo
Esse parece ter caído de pára-quedas no jogo desde o começo e apenas segue o fluxo dos eventos de forma reativa, sem pensar muito nos seus atos. Frequentemente sabe as regras do jogo apenas por alto, o mínimo necessário para jogar e olha lá, e nem tem uma ideia tão clara assim dos eventos ao seu redor (“minha vez?”). Quando isso acontece com novatos, tudo bem — mas muitas vezes o Aéreo é um jogador já com tempo de estrada, ainda seguindo o fluxo.
Nos animes: Bellri Zenam, de Gundam: Reconguista in G. O personagem é simpático, muito fácil de se gostar e tudo o mais… mas sejamos francos, ele é um tremendo mané. Bellri apenas segue inconsequentemente o fluxo dos eventos e das pessoas próximas, sendo até ironizado em determinado momento por isso (“estão me seguindo como patinhos”). Na verdade, todo mundo ali parece não saber aonde está se metendo, e isso é deliberado*, mas para fins práticos…
Como lidar com um Bellri na sua Mesa? Jogadores assim dão trabalho extra ao mestre. Talvez o melhor seja ele conversar com o jogador à parte (ou dar um toque para um amigo fazê-lo) e mandar a real: “olha, já estamos jogando há um bom tempo e você ainda está perdido na mesa…” — e, depois disso, deixar de pegar leve para ver se a aventura anda na vez do sujeito. Se o personagem do infeliz explodir em algum momento, a culpa é dele e de mais ninguém.
O Sequestrador
O mestre tem planos para a campanha. Todos os demais jogadores estão bem encaixados, certo? Porém, um deles tem seus próprios planos, surge, rouba a cena, alicia os demais e quando nos damos conta, eles levam a campanha para outra direção, jogando boa parte da preparação original do mestre no lixo e forçando-o a se virar. Isso não é ruim em si, mas… e quando esses novos rumos forem divisivos entre os jogadores? Considere sua campanha sequestrada!
Nos animes: Sheryl Nome, de Macross Frontier. Sem muitas delongas: ela foi criada para morrer, sendo uma mentora para a então deuteragonista da série. No entanto, um character design espetacular fez a equipe de produção olhar e… “é, agora não podemos matá-la”. O resultado? Os rumos da série toda foram alterados e o peso da trama sci-fi com robôs gigantes se perdeu. O pessoal ama falar mal de Macross Delta mas, como série mecha, Frontier é pior**!
Como lidar com uma Sheryl Nome na sua Mesa? Com jogo de cintura. Tente enxergar como seus planos se ajustam aos movimentos dos jogadores. O mais importante é não deixar a campanha se perder na sua proposta original… e diacho, eles querem guerra? Então faça guerra também! Coloque obstáculos no caminho, mas procure manter sempre seu plano maior em curso e envolver os protagonistas de outras formas diferentes de suas ideias originais! Queime a mufa!
Mas é bom diferenciar quando isso leva o jogo a rumos questionáveis e quando os personagens estão jogando limpo. Vou usar um exemplo pessoal: jogávamos uma campanha policial usando o sistema do Champions RPG. Poucos dias antes, havia visto o filme espanhol Torrente 2: Missão em Marbella e isso me inspirou a fazer um policial machista, corrupto, baixinho, bigodudo — e com uma pistola .44. Até aí tudo bem. Veio uma investigação sobre um milionário…
…e meu personagem aliciou os jogadores: investigaríamos para chantagear o sujeito e faturar uma grana — se eu descrever os eventos na mesa, serei cancelado nas redes! Quando veio um jogador novo na sessão seguinte, ele já entrou no clima! Todos nos divertíamos e ninguém fez a campanha deixar de ser uma investigação policial. Subvertemos tudo, mas dentro das regras! E o mestre… amarelou e pulou fora. Não seja assim!
Até 12 de janeiro e divirtam-se!
* Yoshiyuki Tomino, criador da franquia Gundam, criou Reconguista como uma espécie de alerta sobre os perigos de uma nova militarização japonesa, desejada por setores conservadores, para jovens crescidos em um ambiente pacífico como o do Japão atual. E a série é sobre isso: ninguém ali tem uma ideia legítima do significado ou das consequências de uma guerra de verdade, e quando ela chegar, todos terão motivos de sobra para se arrepender…
** Eu costumo evitar esse tipo de opinião mais pessoal por aqui, mas Frontier alterou o perfil do fã de Macross no Japão, atraindo os consumidores de materiais relacionados a Idols como Idolmaster e deixando os pilotos e a trama sci-fi menos marcantes em comparação. Delta, independentemente dos resultados, tentou sincronizar o novo status quo para algo mais alinhado aos temas clássicos da franquia, com suas “cantoras de combate” e um melhor equilíbrio com o núcleo sci-fi militar da série. Infelizmente isso se perdeu no primeiro-longa resumo, deixando o piloto quase como um coadjuvante e o grande destaque para nossa protagonista idol.
DISCLAIMER: Mobile Suit Gundam: The Witch for Mercury e Gundam: Reconguista in G são propriedades de Bandai Namco Filmworks, Inc.; Macross Frontier é propriedade de Satelight Inc., Studio Nue, Inc. e Big West Advertising Co., Ltd. (BWA); Patlabor: The Mobile Police é propriedade do grupo Headgear. Imagens usadas para fins jornalísticos e divulgacionais, sem direitos de propriedade infringidos.
Bom, Já que está é a última do ano, vou largar o freio.
Esbarrei completamente por acaso no livro do Brigada no site da Jambô quando comecei a jogar Tormenta20, a capa me chamou a atenção e decidi investigar.
Nunca neguei que o que me fidelizou ao cenário foi o texto sobre Tarso no livro básico. Eu reconheci a minha realidade ali, reconheci Brasil naquelas palavras e soube na minha alma que aquela obra entendia o meus país e era sobre ele no fringir dos ovos.
O escapismo do gênero Mecha e suas firulas vieram depois, fui ensinado a amar o gênero pelos livros e por incontáveis textos aqui neste blog, nos quais fiz questão de comentar e re-ler diversas e diversas vezes. ME transformei em um fã irrecuperável agora.
Enfim, apenas quero dizer que amo o Cenário, amo o fato de ser um cenário NACIONAL, amo a qualidade que ele transborda, amo as zilhões de referências fundidas e interligadas que se transformam em algo novo e amo tudo que remete ao Brigada apartir de hoje.
Sou muito grato a quem criou tudo isso, admiro muito seu conhecimento e me inspiro como autor, é um imenso prazer acompanhar a Brigada Ligeira Estelar e Avante Hussardos! Os Traidores do Império nem saberão o que os atingiu!
Muito obrigado, Guilherme — você não imagina o quanto fico contente ao ler isso. São vocês, leitores, quem fazem esse trabalho valer a pena. 🙂