A Estação Parlamentar veio de uma necessidade. Com tantos planetas, cada um com seu sabor ao gosto do freguês, era preciso reforçar o fator “espacial” do cenário. Eram preciso construções no espaço aonde humanos viveriam. O problema simples: com tanta ênfase na terraformação de mundos e satélites, por qual razão alguém iria querer viver em um ambiente artificial no meio do nada? A resposta foi rápida: querer, não iria. Mas por razões utilitárias…
Talvez, em algum momento da colonização espacial, a ideia de habitar grandes cilindros de metal em alguma órbita qualquer tenha tido seu apelo. Mas no atual contexto da constelação, estações espaciais só poderiam ser vistas de forma funcional ou transitória. Grandes bases para a Brigada, talvez hospitais espaciais, locais de passagem… e, claro, esconderijos para piratas espaciais e milicianos sem tempo ou recursos para escavar qualquer asteroide.
Em algum momento, me ocorreu separar o executivo e o legislativo em lugares diferentes. Alguns países fazem isso. Não acho essa uma boa ideia na vida real mas era conveniente para o cenário: eu ainda queria ter um mundo-trono para a Aliança Imperial mas precisava dar alguma importância crucial à essa estação. Ela precisava de um papel importante para justificar sua existência — e necessidade de ser protegida. E assim surgiu a Estação Parlamentar.

um ponto estratégico. E alvo de muitos problemas.
Referências Iniciais
Nem é preciso ir tão longe. Star Trek: Deep Space Nine e Babylon 5 são as referências mais óbvias quando falamos de grandes estações espaciais em algum ponto estratégico do cosmos. Ao invés de apresentar uma nave viajando de planeta em planeta por semana, temos um grande local de passagem aonde centenas — talvez milhares — de pessoas embarcam ou desembarcam todos os dias. E, em ambos os casos, temos núcleos políticos e disputas de poder intensas.
Também são séries com conspirações, espionagem e guerras: vale a pena uma boa seleção de episódios para entrar nesse clima (em Deep Space Nine, procure pela “Dominion War” e em Babylon 5, procure pelas “Telepath War” e “Shadow War”). Mas… e os animes? E os robôs gigantes? Bem, aqui precisamos voltar ao bom e velho conceito do Forte Apache, do qual nós já apresentamos AQUI. Ainda estamos falando de um local fechado a ser protegido no meio do nada…
…e esse trabalho ficará por conta dos personagens jogadores. Esse contexto não é tão distante de uma obra como o clássico Macross: vocês estão lá para, em pleno espaço, proteger uma cidade de qualquer ameaça capaz de destruí-la. Nesse lugar são precisos infra-estrutura e gente para mantê-la. Assim, há lojas, hospitais, mercados, escolas, casas… mas o motivo de sua importância também faz do local um verdadeiro alvo pintado para eventuais inimigos.
Assim, é totalmente natural a criação de laços entre os pilotos e aqueles que trabalham e vivem normalmente na estação. Porém, ela é um centro político, com suas próprias regras, e isso faz muita diferença. Então também é uma boa ideia olhar animações aonde esses elementos contem, como Lenda dos Heróis Galácticos e Tytania. Ambos são space operas com muita ênfase nesse tema, batalhas sendo precedidas por jogos de interesse… e conspirações, claro.

é um exemplo bem prático dessas intrigas de nobreza.
A Estação em Jogo
Não é difícil imaginar um contexto para a Estação nas suas campanhas. Um ponto de passagem em meio a uma jornada maior, aonde acontece algum evento qualquer? Uma campanha focada na defesa do local contra terroristas, leviatãs — ou o risco da chegada iminente dos proscritos, temperada por complôs internos e enfrentamento de interesses políticos? Quem sabe uma campanha épica de space opera com super-ciência oculta neste local? Vamos dar uma olhada:
Abordagem Clássica: os pilotos chegam à estação, uma ameaça começa a atacá-la e os pilotos dividem suas vidas normais com a defesa do lugar. O básico.
Capa-e-Espada Espacial: É perfeito. Temos nobres parlamentares com interesses escusos — e intriga política. Insira conspirações, donzelas em perigo e…
Espionagem: em um centro de poder, espionagem é um tema óbvio. Mexa em segredos e teste suas lealdades. Mas lembre-se: não esqueça dos robôs gigantes!

os robôs entram em ação, as coisas podem não dar certo…
Ficção Científica Militar: a Estação é alvo para terroristas — tanto por sua natureza de passagem quanto por sua localização. Temas políticos à vista.
Folhetim Espacial: não adianta, temos uma nobreza parlamentar aqui e este é um… habitat perfeito para os jogos de poder entre famílias. Tomem cuidado.
Pós-Cyber: os personagens precisam lidar com uma tecnologia nova cujo uso mal empregado pode ser catastrófico — mas isso enfrenta oposições políticas.
Parando para pensar, estamos falando de MUITAS pessoas de classe média, alta ou podre de rica passando períodos de tempo estendido na Estação. Nobres parlamentares podem trazer suas famílias inteiras e, repetindo, há toda uma infra-estrutura necessária para atendê-las. Quem trabalha na estação também tem suas próprias famílias — e essas pessoas comuns também precisam ser protegidas. Sentem os atritos sociais e abusos de poder potenciais por aqui?
Um lugar como esse, isolado de tudo, tem um potencial de desfuncionalidade imenso para sua juventude. Filhos de nobres podem cometer atos de delinquência, confiando nas próprias impunidades, e isso fatalmente gerará conflito com nossos hussardos (isso é canônico: a estação é protegida pela própria Brigada Ligeira Estelar. Nobres podem ter seguranças e o governante responsável pode ter cavaleiros mas não há, realmente, uma guarda regencial local).
Isso também pode gerar gangues de delinquentes criando confusão na cidade, movidos por tédio e revolta, mas também pode gerar um cenário perfeito para um novelão: o jovem hussardo de origem simples se envolvendo com a filha de um nobre parlamentar — e se metendo em encrenca até o pescoço por causa disso, por exemplo. Aliás, em um lugar como este, os protagonistas provavelmente serão envolvidos em eventos muito além de suas capacidades e posições.
Por fim, o local tem também um dos maiores espaçoportos da Constelação e é um ponto de passagem de diversas naves em jornada pelo fio ou para a ponta do Sabre*. Milhares de pessoas cruzam o local todos os dias. Então é fácil imaginar potenciais ameaças chegando de fora sem ser notadas, entre terroristas, espiões — e mesmo potenciais encrencas (imaginem uma arma biológica sendo transportada para outro lugar… e roubada no espaçoporto, por exemplo).
Nada na Estação Parlamentar precisa ficar parado, para o bem ou para o mal. Na verdade, ela é perfeita para campanhas focadas na própria Brigada Ligeira Estelar: da porta para dentro, temos o lado humano e político característico do gênero; da porta para fora, temos o espaço. TUDO pode acontecer (“Um monstro de Inara foi trazido clandestinamente para a estação e está destruindo tudo”), para a alegria do mestre de jogo.
Divirtam-se e até a próxima.
* Lembrando para quem chegou agora: a Constelação do Sabre é dividida em três regiões administrativas dentro do Império — o Cabo do Sabre, o Fio do Sabre e a Ponta do Sabre.
NO TOPO: Imagem do jogo Star Trek Galaxy.
DISCLAIMER: Star Trek, em todas as suas versões, pertence à Paramount Pictures Corporation; Tytania é propriedade de Yoshiki Tanaka via Artland, Inc.; Babylon 5 é propriedade registrada de Warner Bros. Entertainment Inc.; Macross e Macross 7 são propriedades de Satelight Inc., Studio Nue, Inc. e Big West Advertising Co.. Imagens usadas para fins jornalísticos e divulgacionais.
Amei a justificativa no final de ser uma campanha perfeita para a Brigada, e é mesmo. Vai ser bom guardar essa informação
Proteger a Estação Parlamentar pode ser um trabalho bem ingrato. Como ser babá de playboy revoltado e salvar um eventual nobre vítima de atentado (mas que bem merecia um sabre nas fuças). E isso no meio de tramóias e ataques muito mais sérios com os Proscritos batendo na porta.