Academias do Sabre: Conselhos Estudantis

Um dos esteios dos animes escolares são os Conselhos Estudantis. Isso é uma particularidade japonesa — e não tem lá muitos paralelos no ocidente. Sim, há grêmios nas nossas escolas secundárias e DCEs nas nossas faculdades mas nem de longe eles tem o grau de poder e influência apresentados nas animações nipônicas. Nem na vida real, na verdade: eles até organizam eventos e controlam os clubes escolares mas estão longe de ser essa entidade soberana.

O conceito, narrativamente, é ótimo: caso os personagens façam parte do conselho, isso lhes dará organização, um motivo para estar lá — e funções a cumprir. Caso eles não façam, o conselho poderá representar algum tipo de oposição concreta. De abuso de poder a instrumento de conspirações, ele é uma verdadeira mão na roda. Porém, eu já falei antes e vou repetir: quem quiser realidade, vá jogar Busões & Boletos ou GURPS com 25 pontos de personagem.

Mesmo assim, precisamos começar com uma base mais realista antes de viajar na maionese e, a princípio, teremos um pouco de histórico: os conselhos estudantis foram pensados no pós-guerra do Japão como um modo de educá-los para uma nova estrutura social. A ideia por trás disso foi a de encorajar os jovens a ter autonomia para operar a nova sociedade em organização. Não é algo realmente tão complicado: a sua função principal é de organizar eventos.

Sim, esses eventos escolares são organizados pelo
Conselho Estudantil. E é uma trabalheira do cão!

Você certamente viu o festival cultural da escola em algum anime. Eles também organizam os colegas nas excursões de classe. Além disso, eles podem aprovar e fechar os clubes (outra particularidade da educação japonesa) e os supervisionam depois da escola. Por fim, eles também também têm voz (limitada, bom dizer) no financiamento e na aplicação das regras aos alunos. Além disso, é ao conselho estudantil a quem representantes de classe se reportam.

Tudo é muito hierárquico aqui e, do ponto de vista de um estudante, eles tem muito poder em mãos realmente. Mas as animações japonesas exageram: eles não tem as mesmas atribuições de um diretor, nem tem um sem-fim de recursos, muito menos tem o direito de transformar a escola em um host club de grande escala. E enfim, a relação dos alunos com os conselhos varia — ou os respeitarão, ou os verão como “aqueles chatos trazendo trabalho para a gente”.

E assim vem o Conselho Estudantil, pronto
para impiedosamente encher seu saco!

Em resumo, eles não são uma força tão poderosa quanto parecem em tantos animes mas quem realmente se importa? Se você, em sua mesa de jogo, quiser trabalhá-los como uma verdadeira cabala de conspiradores com um grande plano por trás e membros com grande poder de combate em mãos, vá em frente. Eles podem inclusive ser praticamente a linha de frente dos interesses escusos de algum adulto com planos alucinados no final, caso vocês queiram. Funciona.

Nesse caso, a coisa é fácil: temos um conselho interferindo na vida diária de todos, estando acima do bem e do mal, e tendo muitos esqueletos no armário. Talvez quem lhes conceda tanto poder seja o diretor, procurando esconder os próprios esqueletos, e ele esteja usando as dependências e talvez até os alunos como parte dos seus planos. Em algum momento vocês precisarão enfrentar os membros do conselho, um a um. E sua vida será mais dura por isso.

O Comitê de Duelos de Gundam: The Witch from Mercury
é uma fonte de dor de cabeça para os protagonistas.

É claro, eles não irão se comprometer e, muitas vezes, usarão como escudo algum evento oficial como uma forma de “quebrar” seus personagens — e torná-los incapazes de representar uma ameaça. Torneios são excelentes para isso. Mesmo se eles não participarem, eles estarão por trás da organização e teremos mil formas de prejudicar a vida dos protagonistas com uma derrota. Desnecessário dizer: é vencer ou vencer nesses casos, sem nenhuma outra opção.

Mas o conceito mais realista pode funcionar em campanhas mais leves: se na vida real eles até organizam eventos e supervisionam os clubes escolares mas estão longe de ser essa força toda, isso dá margem para todo tipo de treta em um ambiente no qual o social, intriga e paixões secretas pululam. Pensem, por exemplo, em um filho de conde mexendo mil e um pauzinhos para manter um clube de música em alguma das academias de nobreza e torná-lo visível…

Isso mesmo: o negócio aqui é treta!
Preparem-se para o quebra-pau!

…porque é palco feito para ele ficar fazendo solo de violão e paquerar as garotas bonitas do lugar. Até a noiva arranjada descobrir o tamanho dos próprios chifres, gerando um mero bate-boca, ou meia dúzia de fãs da moça, ou desafetos dele, demolirem esse clube com um robô refugo! Ou, se quisermos seguir para algo não tão explosivamente barraqueiro, ela faz parte do conselho e, com ajuda de outras figuras, fabrica uma desculpa para fechar o clube…

…ou reúne os jogadores para criar uma situação dessas. O ponto é: nobres competem e se mostram. Mesmo se o poder real do conselho for zero, ter autorização para organizar festas pesa. Aqui mesmo, o pessoal só lembra dos DCEs nas festas ou greves/manifestações. Logo, um conselho estudantil pode ser disputado por jovens querendo acesso a um espaço livre para fazer esbórnia… ou se mostrar e fazer contatos no campus patrocinando festas e competições.

E torneios são muito importantes nessa dinâmica,
com ou sem grandes conspirações envolvidas!

Aqui entramos em como eles podem ter interesses nos resultados das competições: alguns querem se mostrar mais capazes em certos talentos ou máquinas. Outros querem destaque por bancarem um evento. Ou, voltando ao clube de música, o atual presidente é o paquerador do violão mas e se aqueles com vontade de fazer música de verdade estiverem de saco cheio disso e fuçarem a vida do cara, descobrindo a noiva em outro colégio e mandando vídeos para ela?

Mil e uma rivalidades, tretas de alcova e falcatruas podem rolar tão somente em torno desse útil poder de prover espaços para diversão. E sem conspirações — até elas entrarem por baixos dos panos: um grupo tentando expor ou espancar um grupelho de nobres responsáveis por Boa Noite Cinderela em festas? Um clube de floricultura de Annelise encobrindo produção e tráfico de opióides? um campeonato de corrida encobrindo desmanche de veículos roubados?

Shimoneta tem uma ideia interessante: os personagens estão
infiltrados no conselho estudantil a ser enfrentado.

O que dará oportunidade aos jogadores de se infiltrarem e investigarem esses casos, alternando tramas de investigação juvenil e as comédias de pastelão adolescente. Nesse sentido não é tão distante de uma campanha em Schulman: aqui, só a escala mudará. Esta é uma metrópole em forma de centro acadêmico e um mundo em si mesmo. Na verdade, uma possibilidade interessante em jogo é misturar as duas abordagens, tanto a conspiratória quanto a mais leve.

Por fim, a possibilidade de ser o próprio Conselho Estudantil: vocês são bem intencionados mas estão sob a limitação de suas atribuições e a capacidade da direção remover seus privilégios, não importa se a campanha for mais leve ou mais exagerada. E precisam encontrar soluções para resolverem problemas sem serem perseguidos por isso. O Boa Noite Cinderela? Os filhinhos de papai são filhos de nobres importantes e a direção não quer se comprometer.

Em Code Geass, temos um Conselho Estudantil normal
enquanto a ação verdadeira corre por fora. Funciona.

Caso os personagens precisem enfrentar uma conspiração, talvez ela não os envolva mas use como disfarce algum clube escolar e, novamente, eles precisem enfrentar seus membros um a um. Os códigos de honra entre alunos podem contar muito aqui, e o Conselho pode até ser ameaçado de dissolução, com anuência da direção — ou, ao contrário, com apoio dela dentro dos limites do possível, tentando ajudá-los a permanecer de pé contra instâncias superiores.

Não é difícil imaginar isso sob o contexto do cenário. Sua campanha pode ocorrer tanto em Schulman, envolvendo universitários, ou em alguma academia de nobreza. Com a Brigada em si, nada impede os personagens de descobrirem alguém disposto a fazer das suas por baixo dos panos: os princípios dela podem ser bons, mas sempre há a chance de um canalha passar pelo filtro e se aproveitar de sua estrutura antes de ser pego.

Até a próxima — e divirtam-se.

Agradecimentos ao Marcel pelas ideias surgidas em nossas conversas.

NO TOPO: o conselho estudantil de Kill la Kill. Eu sei que essa série (e outras utilizadas aqui como Sket Dance, Asterisk War e Shimoneta) não tem realmente nada a ver com nosso tema principal, o de Robôs Gigantes/Space Opera, mas de modo geral são poucos os animes que juntam esses dois elementos — não temos tantas opções assim.

DISCLAIMER: Todos os personagens aqui exibidos pertencem a seus respectivos proprietários intelectuais. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais

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