Novamente: os robôs de combate em Brigada Ligeira Estelar foram inspirados na cavalaria clássica. Nas tropas de Cavalaria Ligeira, hussardos eram usados para ataques de assalto, lanceiros para ataques de carga, caçadores para busca e dragoneiros como as tropas montadas de armamento leve. Na Cavalaria Pesada, os couraceiros lidavam com armas muito pesadas e trajes blindados. Mas eles não eram os únicos nessa categoria: aqui entram os Carabineiros.
Não há muito a se dizer quanto ao seu papel básico. No contexto militar, o carabineiro era um soldado portador de… bem, uma carabina. É uma arma de fogo com um cano mais curto, ao contrário de uma espingarda ou um rifle. Os carabineiros a princípio foram utilizados como tropas de cavalaria leve, capazes de desmontar rapidamente para atuar como infantaria, ou em missões de reconhecimento e patrulhamento. O tempo iria delimitar melhor suas funções.
Durante a história, vários países utilizaram esse termo para se referir a diferentes tipos de soldados armados com carabinas. Você pode encontrar diferentes acepções para a palavra — na Itália, por exemplo, ele é utilizado para se referir à Polícia Militar local, a responsável por garantir a segurança pública e atuar em situações de emergência. Já os Carabineiros britânicos são mais ligados aos dragoneiros. Por isso, vamos estabelecer um recorte.

Reparem o quanto eles se aproximaram dos Couraceiros (1875).
O Carabineiro Original
As origens deles são meio nebulosas mas de certa forma simples: com o surgimento das armas de fogo em combate, surgiram as primeiras divisões por grupamentos de armas. Usuários de fuzis se tornariam fuzileiros e usuários de carabinas… carabineiros. Mas enquanto os primeiros se tornariam mais identificados com a Infantaria, os Carabineiros foram divididos entre forças a pé (também pertencentes à Infantaria) e forças montadas, ligadas à cavalaria.
Assim, os Carabineiros Montados surgiram como unidades de elite das cavalarias normais, com soldados montados a cavalo e portadores de armas de ataque à distância (leia-se, carabinas). Foram mencionados pela primeira vez durante a Guerra dos Nove Anos*, na batalha de Neerwinden, e oficializados como regimento durante o confronto. Mas elas só se tornariam realmente independentes em 1788 — um ano antes da Revolução Francesa. É aqui aonde começamos.

dourada) e os Couraceiros (de azul e placa cromada).
A partir desse ano, os Carabineiros passariam a ser classificados como Cavalaria Pesada, junto com os Couraceiros. Seu uniforme foi sendo alterado até 1810, ganhando uma dupla couraça de aço (couraça e contraplaca), um sabre de curva leve, um par de pistolas… e uma carabina. Apesar disso tudo, apenas em 1801 surgiu oficialmente o primeiro regimento de Couraceiros no exército francês, após a reorganização das forças armadas por Napoleão Bonaparte.
Eventualmente, os Carabineiros Montados foram gradualmente sendo incorporados como divisões em outras guardas e, como toda a cavalaria em geral, eles não sobreviveram à industrialização do combate vinda com a Primeira Guerra Mundial. Mas as divisões de infantaria não sofreram tanto com esse problema — e continuaram existindo. Até hoje existem divisões de carabineiros em várias guardas ao redor do mundo. E aqui nós voltamos à Constelação do Sabre…

características das duas versões. Arte por Wal Souza.
O Carabineiro Espacial
O conceito básico é muito simples: se os hussardos devem ser a vanguarda de qualquer combate, os carabineiros são especializados em ataques à longa distância e precisam dar cobertura às demais tropas. Eles ainda fazem parte da cavalaria pesada: precisam lidar com armas maiores e não contam com a velocidade das Cavalarias Ligeiras. Porém, eles ainda podem precisar entrar em combate corpo-a-corpo quando seus módulos de energia principais esgotarem.
Por isso a solução foi a baioneta**. Não é uma arma comum de ser adaptada na ficção científica — mas funciona: os robôs teriam dois módulos de energia, um voltado aos disparos e outro voltado a recobrir de energia a lâmina da ponta. Assim, eles teriam como se virar quando sua munição acabasse, usando a carabina como arma de mão. Vejam, eles não são robôs feitos para ataques de carga como os lanceiros. Isso é para sua sobrevivência em uma batalha!

baioneta com lâmina de energia retrátil à ponta. Arte por Wal Souza.
Em geral, as animações japonesas não privilegiam robôs atiradores, salvo quando eles fazem parte de algum esquadrão, como o Gundam Dynames (e suas variantes, como o Gundam Dynames Torpedo e o GN Armor Type-D), de Gundam 00, ou o Heavyarms de Gundam Wing, embora ele não faça exatamente parte de algum time***). Temos exceções, como a versão Mark II do robô principal de Heavy Metal L-Gaim… mas ele se vira bem com a espada, porque espadas são legais.
Na verdade, essa última frase explica o motivo pelo qual robôs atiradores não costumam ter tanto destaque: combates com espadas são muito mais visuais. Isso costuma relegá-los a um papel coadjuvante, ou pior, buchas de canhão, prontos para ser varridos casualmente do mapa. Citamos Gundam Wing, não? Lembram do Leo? Apesar dele ter um mecha design bacana, ele desempenhava o mesmo papel de um Zaku**** genérico: ser explodido aos montes pelo caminho.

de combate mais voltada para ataques à distância.
Talvez por isso seja difícil pensar em uma mítica para os Carabineiros, assim como acontece com os Hussardos, associados com a bravura e a coragem, ou os Lanceiros, associados com a lealdade e a devoção. Estes últimos, ao menos, estão na linha de frente dos combates, atrás apenas dos Hussardos. No entanto, isso não faz deles combatentes de segunda. Seu papel é importante, dando cobertura para as demais divisões. Eles podem ser alvejados por isso.
Isso pode dar a eles uma personalidade coletiva de vigilância e proteção — uns guardam aos outros e aos demais. Eles precisam disso para sobreviver, afinal. E sempre há espaço para quem queira ser herói quando aquele tiro preciso for absolutamente necessário. Campanhas com carabineiros estão longe de ser inviáveis, afinal. Ele é parte de um time e talvez saiba disso melhor do que qualquer piloto hussardo. Pense nisso.
Até a próxima… e divirtam-se.
* Também conhecida como a Guerra da Grande Aliança (1688-1697), entre a França, aliada a facções políticas escocesas e irlandesas, contra um conglomerado de nações (Holanda, Inglaterra, Escócia, Espanha, Portugal, Suécia, Sacro-Império Romano e o Ducado de Savóia).
** Há precedentes históricos, na verdade: no início da Guerra da Sucessão Polonesa, em 1733, os Carabineiros Reais da França serviram na Itália, destacando-se na Batalha de Guastalla (19 de setembro) e recebendo por sua bravura o privilégio de portar baionetas.
*** Podemos dizer que os protagonistas de Gundam Wing formam um “não-time” até a chegada do último arco.
**** Os buchas de canhão da primeira e clássica série Gundam de 1979, prontos para explodirem no primeiro golpe da espada de energia do robô protagonista.
NO TOPO: forças buscando resistir a um ataque de Carabineiros. Arte de Eudetenis.
DISCLAIMER: Mobile Report Gundam Wing pertence à Bandai Namco Filmworks, Inc.. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais.


Gosto muito desses artigos com a origem de cada tropa. Pela semelhança histórica e proximidade de função (ambos são tropas protetoras), talvez haja um senso de irmandade entre carabineiros e couraceiros no cenário.
Isso é algo bem provável.