Revisitando Tons Narrativos: o Aventuresco

Esse é o segundo artigo revisitando, para quem chegou agora no cenário, os tons narrativos de Brigada Ligeira Estelar RPG — no caso, Aventuresco (mais detalhes AQUI), Árido (AQUI), Heróico (AQUI), Folhetinesco (AQUI) e Épico (AQUI). Semana passada, repescamos o básico do Tom Árido. Agora é hora de nos determos sobre o tom padrão de suas aventuras na Constelação do Sabre. Mas como definir o aventuresco de uma forma simples e facilmente entendível?

Pense no herói dos velhos filmes e séries de aventura, especialmente dos tempos de seus pais para baixo, como Errol Flynn em Robin Hood, Burt Lancaster em O Pirata Sangrento e, por que não? Luke Skywalker no Guerra nas Estrelas, o original de 1977 (essa coisa de Jedi superpoderoso só veio depois!). É alguém que pode saltar de uma janela da torre e mergulhar em um rio sem quebrar os ossos. Ele não é um super-homem mas dá muito bem conta do recado.

Mesmo assim, os protagonistas no tom aventuresco não são tão explosivos e exagerados quanto os personagens no cinema de ação hollywoodiano de hoje. Não entendam mal: eles já não são mais pessoas comuns como as do Tom Árido. Podem efetuar feitos de ação, mas eles não soam mentirosos! Os personagens da série original de Jornada nas Estrelas eram assim, e na verdade, boa parte dos protagonistas dos animes de real robot também. Vamos olhar com calma.

Tom padrão em Brigada Ligeira Estelar. Se o Árido é um filme de guerra brutal e o Heroico é um blockbuster, o Aventuresco é aquele seriado clássico de TV ou anime dos anos 80/90 que você assistia tomando Nescau. A ordem é viver uma grande aventura! Morte é possível, mas geralmente reservada para vilões e coadjuvantes dramáticos. Vocês são heróis em ascensão, a tripulação destemida de uma nave estelar ou o pelotão de elite que sempre salva o dia.

Em termos das regras do BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG, esse é o tom base. Mantém-se os 10 pontos de personagem, mais ­-2 em desvantagens. As regras opcionais mais pesadas geralmente ficam de fora. O foco está na ação fluida, nos dramas pessoais administráveis e na sensação de que, com esforço, determinação e alguma dose de sacrifício pessoal, no final do dia, algo de bom terá sido feito. No entanto, riscos existem… e alguma tragédia pode acontecer.

Tom (não absurdamente) Otimista: o mal existe, sim, mas pode ser derrotado. A esperança e o idealismo são motivações válidas… e poderosas. Humor e camaradagem têm tanto espaço quanto os momentos de tensão na cabine de piloto.

Protagonistas Capazes (mas não Superpoderosos): são bons no que fazem. Podem realizar manobras incríveis, acertar tiros difíceis e consertar sistemas críticos sob pressão, mas ainda estão sujeitos às leis da física e à sorte.

Conflitos Claros: As linhas entre os dois lados, embora possam ter nuances, são geralmente discerníveis. Você sabe quem é o inimigo e qual é sua missão. A complexidade moral não é o foco; a ação e a resolução do problema são.

Tecnologia Acessível e Cinematográfica: Munição não é uma contagem diária angustiante. Máquinas quebram quando o drama pede — não a cada tiro. Tecnologia serve para viabilizar aventuras empolgantes, não para impor limitações.

Superdimensional Fortress Macross: bom paradigma do Aventuresco. Os personagens são pilotos comuns tocando suas vidas no tempo livre, mas isso não os exila de sequências de ação empolgantes, como quando o protagonista Hikaru salva sua comandante no planeta Marte, ou quando todos estão presos entre alienígenas e precisam ser resgatados. Há romance e humor mas a ameaça está longe de ser inofensiva e quando tragédias acontecem, são um murro na cara.

Genesis Climber Mospeada: nosso mundo foi conquistado pelos alienígenas Invid e a resistência restante se refugiou em Marte. Um oficial dessas forças se torna o último sobrevivente de um ataque no espaço e acaba descendo à Terra pós-apocalíptica. Aos poucos, ele reúne um esquadrão de terráqueos em uma guerrilha contra os invasores. Descrito assim, parece sombrio (e até há pontuais sugestões cruéis), mas a série é muito aventuresca e bem-humorada.

Gundam: G no Reconguista: 1014 anos após o final da contagem Universal Century (o UC do Gundam original), muito pouco restou das antigas colônias e a Terra anda em paz há tempo demais, o suficiente para gente irresponsável se esquecer dos horrores da guerra e se mexer para trazê-los de volta. Um cadete bobo alegre e uma pirata espacial são envolvidos nessa bagunça. Exemplar um tanto controverso da franquia mas um bom exemplo do aventuresco em si.

Ginga Kikoutai Majestic Prince: para ninguém dizer que eu só coloco coisa velha por aqui. Seres humanos artificiais foram criados para a colonização espacial, mas quando os invasores Wulgaru atacam a Terra, eles foram transformados em nossa linha de defesa (vulgo, bucha de canhão). Mas cinco jovens vistos como perdedores, até entre os seus, vão virar a mesa do jogo com uma nova geração de robôs pilotáveis — e salvar a humanidade! Bem recomendado.

Mantenha o Ritmo Ágil: Suas sessões devem ter pique. Use cenas de ação empolgantes mas intercale-as com momentos de descoberta, interação social — e até humor. Um combate pode ser seguido por uma cena de festa na base, uma discussão sobre a próxima missão ou até mesmo um momento de descontração entre a tripulação. Tente manter o interesse e o senso de aventura sempre constantes, como se você estivesse assistindo algum episódio de anime do gênero.

Abrace os Clichês: Seus antagonistas e coadjuvantes devem ser memoráveis, ter nuances e personalidade. O ás inimigo que respeita os heróis, um pirata espacial extravagante, a princesa rebelde, o rival que vira aliado… da mesma forma, não evite o plano insano que funciona no último segundo ou a tecnologia alienígena misteriosa que precisa ser decifrada — use-os sem medo de ser feliz. Eles são tão parte da diversão quanto os próprios protagonistas.

O Perigo Existe, mas a Morte é Dramática: Não poupe os personagens dos jogadores de perigo. Deixe seus robôs serem danificados, faça-os suar para completar uma missão. Porém, a morte de um personagem importante, se acontecer, deve ser um evento épico, significativo e narrativo — um sacrifício heroico para salvar os outros, por exemplo. Evite mortes bobas ou aleatórias por uma rolagem de dados azarada (na hora de uma eventual ejeção, por exemplo)…

O Universo ainda tem Sombras: …mas não as vete por completo! Apesar de estarem bem acima da média das pessoas comuns, os protagonistas não estão blindados contra a morte ou incapacitação! Da mesma forma, o panorama pode ficar bem sinistro contra os personagens e eventos amargos podem acontecer, de formas não tão diferentes do Tom Árido. A diferença é que há esperança e vocês podem, sim, virar o jogo de verdade e não apenas sobreviver a tudo isso!

Crie Heróis, não Sobreviventes: Seu personagem deve ter um ideal, um sonho ou uma motivação clara além de sobreviver. “Provar meu valor para meu pai”, “encontrar um novo lar para meu povo”, “ser o melhor piloto da Aliança” ou simplesmente “viver a maior aventura possível” são excelentes pontos de partida. Izuru Hitachi, o principal piloto do citado Majestic Prince, é um ótimo exemplo: ele sonha em ser um herói — e como tal, sempre pensa positivo!

Seja Proativo e Corajoso: Em um tom aventuresco, hesitar é muitas vezes pior do que agir. Seja o primeiro a se voluntariar para a missão suicida, confie em seu instinto, arrisque aquela manobra maluca. O Mestre recompensará a coragem narrativa com momentos memoráveis, mesmo que você falhe de maneira espetacular (e pelo amor de Deus, só não tire 1 em todos os seus dados!). Lembre-se: são atos assim que rendem a seu protagonista os Pontos de Valor.

Valorize seus Companheiros: Você não é um lobo solitário (salvo se seu conceito envolver um arco de “degelo” social). Sua maior força é a equipe ao seu redor. Crie laços com os outros personagens, sejam coprotagonistas ou coadjuvantes. Seja o piloto brincalhão, o artilheiro sisudo, a navegadora genial e distraída… enfim, tenha uma personalidade e interaja! Dinâmica de grupo é o que nos traz a importância dos protagonistas ao longo de sua jornada.

Divirta-se com a Tecnologia: seu robô pilotável não é apenas uma ferramenta; é seu parceiro. Dê um apelido para ele, personalize sua cabine de comando com adesivos, reclame quando ele quebrar e comemore quando ele realizar um feito incrível. A relação entre piloto e máquina é um dos pilares centrais da diversão no gênero — e dentro daquele espírito tão xintoísta japonês, seu robô também é um personagem (e estando dentro dele, você será sua alma)!

Se eu for definir de modo geral, no Tom Aventuresco vocês são a esperança. Esta é a porta de entrada ideal para a Constelação do Sabre. Ele captura perfeitamente o espírito de aventura, descoberta e camaradagem que define muita da ficção científica espacial clássica. É para grupos que querem se sentir heróis sem precisar de poderes sobre-humanos, vivendo grandes histórias onde o perigo é verdadeiro, mas a esperança e a diversão sempre prevalecem.

Por fim, só um comentário: quando mestro Brigada em tom aventuresco, adoto como “regra da casa” uma mudança na regra de críticos: em vez de dobrar o valor do atributo, permito a rolagem de um novo dado. Sim, um “Dado Selvagem”. Você ainda pode rolar um valor baixo, mas com isso os personagens ficam mais sujeitos à sorte e vocês precisam ver a empolgação na mesa nessas horas.

Até a próxima semana, quando voltaremos com o Tom Heróico, e divirtam-se!

NO TOPO: Macross Delta (de um modo geral, todos os Macross até agora estão dentro do aspecto do aventuresco. E sim, a imagem está correta, são os personagens que estão de cabeça para baixo.

DISCLAIMER: Superdimensional Fortress Macross pertence à Tatsunoko Production Co., Ltd../Big West Advertising Co., Ltd. (BWA); Macross Delta Macross 30 pertencem aos Studio Nue, Inc. & Satelight, Inc.; Genesis Climber Mospeada é propriedade de Tatsunoko Production Co., Ltd. e Harmony Gold USA, Inc.; Robotech é propriedade da Harmony Gold USA, Inc.; Mobile Suit Gundam: G no Reconguista pertence à Bandai Namco Filmworks, Inc.; Patlabor: The Mobile Police é propriedade do grupo Headgear; Ginga Kikoutai Majestic Prince pertence à SOTSU・Fields/ MJP Project. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais, de acordo com as leis de Fair Use.

Brigada Ligeira Estelar ® Alexandre Ferreira Soares. Todos os direitos reservados.

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