O Tom Folhetinesco

No novo BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG, teremos cinco tons para sua campanha de robôs gigantes: Árido (Realismo Seco em 3D&T Alpha), Aventuresco, Heroico, Folhetinesco e Épico (U-Huuuuu!!!! no Alpha, vocês já sabem). Iremos falar um pouco de todos eles e já falamos dos tons Aventuresco (vejam AQUI), Árido (vejam AQUI) e Heróico (vejam AQUI). Agora iremos falar do tom Folhetinesco — e ele merece um pouco mais de cuidado. Ele não é bem uma “evolução”.

E soa estranho isso, porque recomendamos personagens de dez pontos na versão Alpha mas, a bem da verdade, ele é mais uma radicalização a partir do heróico: enquanto o excesso neste é mais cinematográfico e não compromete tanto eventuais tons de cinza — apenas os impede de se tornarem áridos e imobilizar os jogadores, embora eles não estejam isentos de risco — o Folhetinesco abraça o exagero! E se pensarmos bem, essa abordagem se tornou meio rara.

O grande exemplo aqui nem cai nas séries tradicionais do real robot: Mobile Fighter G Gundam. Ele vai além da abordagem de “super robôs com cara de Gundam em rinha de galo”: vai na contramão conceitual de tudo já feito na franquia, antes e depois. É uma exaltação ao Nekketsu: as “lágrimas masculinas”, a busca por algo maior — justiça, honestidade, companheirismo, superação — e até à importância do amor no final. Tudo assumindo a própria breguice.

G Gundam: Porque canastrice é a maior diversão
(e cá entre nós, essa cena é ridiculamente folhetinesca)!

O nome veio das serializações em rodapés de jornal do século dezenove — obras como Os Três Mosqueteiros nasceram como folhetins. Foi essa a cozinha do grandes clichês melodramáticos: o uso de ganchos para manter o leitor (ou espectador) vidrado, golpes dramáticos (“Luke, eu sou seu pai!”), personagens mais unidimensionais para imediata compreensão. O mundo abraçou isso, Japão incluso: animes e mangás dos anos 60 e 70 os carregam em grande estilo!

No entanto, o Japão não ficou indelével às mudanças sociais ocorridas no resto do mundo, especialmente após o fim da bolha de prosperidade econômica dos anos 80, e esses elementos passaram a ser ou vistos ironicamente, ou diluídos sob a régua contemporânea. É difícil ser abertamente folhetinesco nos dias de hoje, mesmo quando se cultua o afeto genuíno pelas obras dramáticas do passado. Nossa realidade cinza encara o preto e o branco com escárnio.

Se Gundam 00 fosse assim, eu seria fã da série — mas essa cena só mostra o
quanto esse espírito excessivo e melodramático passou a ser visto de forma irônica.

Talvez o grande ponto do folhetinesco é o de tudo ser dobrado em função da conveniência dramática. O vilão só morre quando for conveniente ao roteiro e, caso ele morra mesmo assim, é capaz dele ser substituído por alguém pior — como a ex-amante em busca de vingança contra os heróis. É uma mecânica criada para serialização e o cliffhanger é parte fundamental do folhetim: depois arrume uma explicação capaz de manter a bola rolando de modo contínuo.

É fundamental comprar o espírito caudaloso da coisa. Um dos grandes exemplos dessa abordagem é a série setentista de super-robôs Voltes V. Pai desaparecido, tramas dinásticas com grandes revelações, irmão contra irmão com espadas na mão… os primeiros onze episódios são difíceis para o espectador atual mas são importantes e, ao final deles, você estará viciado. Sem a Trilogia do Romance dos Robôs de Nagahama, aliás, o Real Robot não seria o mesmo.

Essa sequência é de Tosho Daimos, terceira série da Trilogia do Romance
dos Robôs de Nagahama
ao lado de Combattler V e Voltes V

Quando falamos do novelesco, qual o motivo dos personagens precisarem ser mais resistentes na versão 3D&T Alpha? Em uma novela de tv, a dócil mocinha pode ser atirada em um carro dentro de um barranco e ele pegar fogo com o impacto, mas sobreviver sem sequelas (a história precisa continuar) e reaparecer sob falsa identidade para se vingar, mais tarde — o realismo é opcional aqui. Mas imagine isso em um universo com robôs gigantes e super-ciência!

No cenário, há boas opções para esse sentido em todo canto, embora o lado mais novelesco tenha em Annelise (e possivelmente Trianon) a sua face mais evidente (há um elemento evolutivo em comum entre o gênero dos robôs gigantes e o material feminino graças, novamente, a Nagahama — um dia falaremos melhor disso). Mas para além do teatral, como poderia ser um primeiro capítulo para uma campanha folhetinesca de Brigada? Não perca o primeiro episódio!

E vamos ser direto: de um modo geral, 99% dos Gundams preservam
(mais ou menos na cara) alguma herança desse elemento folhetinesco.

Seus personagens são pilotos imperiais da Brigada, todos alferes. Sua primeira missão será bombardear um esconderijo criminoso no planeta Montalbán, talvez plantado por terroristas como a TIAMAT (caso contrário seria jurisdição da guarda regencial planetária local, não de vocês). Entretanto, membros da nobreza parecem querer abortar essa missão e vocês pilotos são discretamente abordados nesse sentido — há quem não queira ver esse ataque ocorrer.

É quando aparece um Misterioso Mascarado™ se interpondo entre vocês e suas ações — ele quer algo no interior desse esconderijo (para o mestre: ele tem uma vingança pessoal a empreender contra os verdadeiros vilões da série mas não vai deixar esse serviço para nenhuma outra pessoa — e, quando os protagonistas estiverem em seu caminho, ele sempre irá enfrentá-los ou atrapalhá-los!), comprometendo todo o sigilo da missão… e fazendo o inimigo reagir!

Sim, eu sei que é super-robô, mas o folhetinesco não pode limitar seu
exagero ao narrativo — e “real robot” só é “real” no nome, mesmo…

Notem: a aventura descrita até agora não destoa tanto assim do heróico. Code Geass se encaixa na categoria anterior mas tem MUITOS elementos do folhetinesco — estes tons na verdade tendem a ser bem próximos. Se você, leitor, enquadrou as descrições apresentadas até agora sob a devida lente do excesso, é porque este texto já vinha preparando mentalmente esse espírito na sua cabeça. Folhetinesco é o novelesco em moto-contínuo — até o último degrau.

Agora precisamos de um gancho final para assistirmos ao próximo capítulo de qualquer jeito e seu impacto dramático é superior em importância até mesmo à própria lógica — no próximo episódio você arruma uma explicação. Não faz sentido os personagens, por exemplo, descerem de seus robôs e subitamente serem presos sob uma acusação de aceitar suborno ou de serem traidores, mas os jogadores ficarão surpresos e irão querer saber o que está acontecendo!

Ele levou um teco nos cornos no final da outra série, mas… ESTÁ VIVO
(e agora toca a música-tema do Esquilo Dramático)!!!!

Naturalmente, em um universo de space opera como o de BRIGADA LIGEIRA ESTELAR, temos um terreno propício para explorarmos o gênero em toda a sua acepção — tanto em sua parte de ação excessiva, peripécias e surpresas, quanto em seus aspectos de melodrama e folhetim (“sua namorada na verdade é um clone da filha do duque, pronta para ocupar sua posição”). É só aproveitar.

Agora é com vocês. Até a próxima (nela traremos o nível Épico) — e divirtam-se.

No topo: Voltes V — segunda e mais importante série da Trilogia do Romance dos Robôs de Tadao Nagahama… e decididamente folhetinesca.

12 comentários

  1. Caramba. Daimos roda a 10 plot twists por minuto! Aahuhauhauahuahau
    Um Real Robot recente que deu uma de novela de vez em quando foi Aldnoah Zero (com resultados variáveis).

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