Estamos de volta! Mais uma vez, estamos revisitando os tons narrativos (árido, aventuresco, heroico, folhetinesco e épico) de uma forma mais esquemática e prática para jogadores novatos em BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG. Já voltamos ao Árido (AQUI), mais brutal e pé-no-chão, e pelo Aventuresco (AQUI), o tom padrão mais presente na maioria dos animes do gênero, onde o diferencial dos protagonistas é ser mais capaz — e talvez sortudo — do que a média.
Então nosso próximo passo é o Tom Heroico. Se o Aventuresco é o seriado clássico de TV, o Heróico é o blockbuster de ação. Pense em filmes como Independence Day ou Top Gun: Maverick. Os protagonistas aqui são talentosos, carismáticos e frequentemente a última linha de defesa entre a civilização e o caos. Eles não são gente comum em meio a algo maior, como no árido, ou meras pessoas mais talentosas e treinadas do que os demais. Eles já são heróis…
…mas não são super-heróis. Ou, pelo menos, não na aparência. Há ainda um verniz de verossimilhança que nos faz aceitar sua capacidade de feitos extremamente mentirosos — que, no tom aventuresco, fariam qualquer protagonista recuar em nome do bom-senso. Mas isso também se aplica em contextos onde os protagonistas estão mais “seguros”, então podem volta e meia efetuar atos bem arriscados. A chave aqui é ser cinematográfico, não realista de verdade.
O QUE É O TOM HEROICO
Este é um tom de riscos elevados e feitos espetaculares. Os protagonistas não são apenas soldados; são heróis em formação. Eles carregam um fardo maior, tomam decisões difíceis — e seus atos têm consequências de grande escala. Frequentemente, eles são os melhores em alguma coisa. As ameaças se escalonam também: por qual motivo um grupo terrorista colocaria uma bomba em um arranha-céu quando ele pode explodir toda a cidade de uma vez, ao meio-dia?
O 3DeT Victory, no geral, já dá instrumentos para levar os protagonistas do aventuresco para o heroico. A antiga regra de Nicho de Mega-City foi coberta com a atual regra de perícias e especializações (você não é apenas alguém que sabe, você é o melhor nisso), mas o mestre pode permitir a compra de uma vantagem “absurda” racionalizável. Aceleração, ataque múltiplo, alcance? Você desarmaria todos ao seu redor, atirando em suas pistolas de uma vez!
CARACTERÍSTICAS
Protagonistas Excepcionais: vocês são ases, líderes natos, gênios da engenharia ou estrategistas táticos, e têm habilidades claramente acima da média, permitindo-lhes realizar feitos… impossíveis aos olhos das pessoas comuns.
Seu Robô é MELHOR: ainda estamos dentro do real robot mas não basta a você ter um hussardo e dois tepeques. Você precisa ter algo muito melhor do que os demais, ao ponto de ser reconhecido como uma ameaça pelos seus inimigos!
Drama Pessoal Amplificado: conflitos internos são tão importantes quanto os externos. Um passado sombrio, um juramento quebrado, a rivalidade intensa com um ás inimigo e o peso da missão são combustíveis narrativos poderosos.
Escala Ampliada: as missões não são só sobre sobreviver ou completar um objetivo tático; são sobre mudar o curso de grandes eventos, desmantelar uma grande operação ou salvar uma cidade inteira. As apostas são… sempre… altas!
QUATRO ANIMES HERÓICOS
Mobile Suit Gundam Wing: Eu sei, eu sei, mas como exemplo é adequado. Cinco jovens pilotos de robôs superiores são enviados individualmente à Terra para travar uma guerrilha terrorista contra uma aliança global opressora. Cada um é especialista em algo, carregando dramas pessoais intensos, filosofias de guerra conflitantes e a capacidade de — sozinho — virar o curso de uma batalha. Feitos exagerados? Eles fazem isso o tempo todo, podem confirmar.
Heavy Metal L-Gaim: o sistema solar Pentagona foi conquistado pelo Imperador Oldna Poseidal e seus 24 Cavaleiros do Templo. O governante do último planeta a cair esconde o seu herdeiro, Myroad, em um planeta afastado — junto ao lendário robô de combate L-Gaim. Quinze anos depois, o jovem Myroad lidera uma rebelião para libertar Pentagona. Acreditem, é a obra mais próxima EM TUDO do universo expandido de Star Wars já feita… mas com robôs gigantes.
Voltron, o Defensor Lendário: cinco jovens cadetes das forças terrestres são abduzidos por uma força alienígena e escolhidos como pilotos de cinco robôs-leões que, unidos, formam o super-robô Voltron. Apesar do fator gattai*, a série opera sob a régua do real robot em tom heroico quando só os leões estão envolvidos. Os personagens são muito capazes, cada um com seu perfil, e protagonizam cenas de ação respeitáveis mesmo quando fora de seus robôs.
Akai Koudan Zillion (ou apenas “Zillion”, por aqui): colonos terráqueos são atacados por alienígenas no planeta Maris, mas três pistolas de energia são o bastante para virarmos o jogo. Não tem robôs gigantes, mas tem muita ação e é um excelente exemplo do tom Heroico. E francamente: se três simples pistolas nas mãos das pessoas certas (e de um maluco) são capazes de derrotar uma raça inteira de alienígenas, isso já passou do aventuresco há muito!
MESTRANDO
Vá Crescendo: pense na lógica do espetinho de carne — antes de comer um pedaço, é preciso comer o pedaço anterior. É o mesmo raciocínio por trás de um mangá shōnen** de luta, mas pode ser adequado a qualquer tipo de obstáculo. A ameaça vencida nos leva a próxima etapa a se enfrentar, e ela será mais difícil. O processo se repete até chegar a hora de encerrar tudo isso, caso contrário, o senso de verossimilhança de sua campanha vai para o vinagre.
Crie Vilões à Altura: Seus heróis são excepcionais, então seus antagonistas deveriam ser igualmente formidáveis, jamais adversários comuns. Um piloto que compartilha um passado com um dos protagonistas, um almirante estrategista sempre um passo à frente, um nobre corrupto cujos motivos são compreensíveis, mesmo sendo detestáveis. Eles devem desafiar os heróis física e moralmente, além de ter traços marcantes de personalidade para serem lembrados.
Pense no Espetáculo: Quando um jogador rolar um crítico, ou realizar uma manobra incrível, descreva tudo de forma épica. O dano não é apenas um amontoado de números no papel — é o míssil que voa pela atmosfera, ignora os sistemas de defesa e impacta o núcleo do cruzador inimigo, causando uma reação em cadeia de explosões. A narração deve fazer com que os jogadores se sintam tão grandiosos quanto seus personagens. É hora do mestre pôr mãos à obra!
A Ação é o Mais Importante: o novelesco é uma presença constante no gênero, mas isso não deveria desviar jamais os personagens da ação. Dentro do possível para não levar tudo ao ridículo, faça dos coadjuvantes úteis. “Ah, mas a mocinha a ser salva hoje em dia é…” — dane-se! Se ela servir de refém, faça! Se tem um cientista idoso na base, faça-o guardar um segredo desejado pelo inimigo! Se é para mobilizar os protagonistas, não tenha pudor nenhum!
JOGANDO
Simplicidade e Carisma: Seu personagem precisa de uma motivação empatizável e de um defeito para humanizá-lo (porque personagens sem defeitos são… muito… chatos), só isso. Pode dar chabu? Tudo na vida pode. Mas ninguém aqui quer narrar um Dostoiévski, ainda mais quando a ideia é ser uma campanha HEROICA. Se ele for carismático, mesmo com seus defeitos, e os entendermos sem precisar de um compêndio biográfico, tudo já está de muito bom tamanho***.
Quanto à motivação…: Você não luta apenas por um salário ou por sobrevivência. Você luta por algo: liberdade, honra, o futuro da humanidade, a segurança dos inocentes, a mão da filha de um barão local… Mesmo que seus métodos sejam sombrios, tenha uma centelha de nobreza que guie suas ações. Isso já é mencionado no livro básico, mas aqui é mais evidente do que nunca, mesmo que seu protagonista faça o tipo durão e não admita isso de jeito nenhum.
Sinergia com a Equipe: No tom heroico, vocês não formam um mero esquadrão unido pelo acaso. Vocês são a matéria-prima dos heróis do futuro, embora ninguém tenha como imaginar isso agora! Então tenham interações intensas, criem rivalidades respeitosas, amizades inquebráveis testadas no fogo — ou até conflitos ideológicos dentro do próprio grupo. A dinâmica entre o “soldado seguidor de ordens” e o “rebelde fazendo o correto” pode ser pura diversão.
Ouse ser Estúpido: não, eu não estou dizendo para todo e qualquer personagem pisar na jaca a qualquer momento. Mas pense: qual é a graça de uma campanha heroica quando todos os personagens são maduros, competentes e avessos a riscos desnecessários todo o tempo****? Todo personagem deveria ter aquele botão que, quando apertado, o tira do sério — ou, pelo menos, um limite para sua inação, e dane-se o resto! “Já chega, vou saltar de qualquer jeito!”
Algumas palavras a mais: às vezes, o heroico parece passar por perfis aparentemente aventurescos de personagem, mas como o caminho é “mais leve” e talvez o tom consequentemente seja mais bem-humorado (coisas pesadas costumam azedar o humor da gente, vocês sabem), o efeito na prática é o mesmo, deixando o caldo engrossar apenas quando todo mundo já pode aguentar o tranco e resolver a questão, com mais ou menos trabalho a se encarar da parte deles.
Aqui a ordem é abraçar o escapismo e na verdade, quando se tenta enfiar, de mau jeito, aspectos mais sérios do tema em aventuras de tom heroico, tudo pode cair no ridículo e seus jogadores serão os primeiros a reclamar. Então propicie oportunidades para eventos explosivos e grandes cenas de ação. Como dizia aquele locutor de futebol cujo nome não lembro, é disso que o povo gosta!
Até a próxima, quando revisitaremos o Tom Folhetinesco! Divirtam-se!
* Aquela combinação entre diferentes veículos para formar um super-robô gigantesco.
** Significa “garoto”, em japonês. É usado como indicador demográfico para publicações voltadas ao público jovem e masculino (daí tantas revistas como Shōnen Jump, Shōnen Magazine, Shōnen Sunday, etc.).
*** Eu acho Heavy Metal L-Gaim um exemplo muito bom disso. Para quem conhece os personagens cheios de camadas do Yoshiyuki Tomino em séries como as da franquia Gundam ou Space Runaway Ideon, pode ser uma surpresa ver protagonistas que em essência são “o Nobre Príncipe Caído”, “o Amigo Atrapalhado mas Competente”, “a Ladra atirada”, etc. E o melhor de tudo? Eles não apenas funcionam muito bem como são muito fáceis de se gostar.
**** Aqui vai uma história pessoal: eu já passei por isso como mestre. Dei todos os ganchos para os personagens fazerem “besteiras divertidas”, mas os jogadores eram adultos, maduros e não eram bobos. Com isso, eles não se meteram em brigas de bar, não fizeram rachas de robôs gigantes no espaço… 😀
DISCLAIMER: Voltron: o Defensor Lendário é propriedade de DreamWorks Animation LLC e World Events Productions (WEP LLC); Mobile Suit Gundam e Heavy Metal L-Gaim pertencem à Bandai Namco Filmworks, Inc.; Akai Koudan Zillion é propriedade de Tatsunoko Production Co., Ltd.; Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais, de acordo com as leis de fair use.
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