O que é um Cruzador?

Novamente: os robôs de combate em Brigada Ligeira Estelar foram inspirados na cavalaria clássica. Nas tropas de Cavalaria Ligeira, hussardos eram usados para ataques de assalto, lanceiros para ataques de carga, caçadores para busca e dragoneiros como as tropas montadas de armamento leve. Na Cavalaria Pesada, haviam os couraceiros com armas pesadas e trajes blindados — e os carabineiros, para ataques à distância. Mas transcrição de ambiente conta…

Ao levarmos isso tudo ao espaço, a analogia natural é a marinha. E isso já vem de cedo na ficção científica. Basta lembrar, para ficarmos em exemplos mais acessíveis, em Jornada nas Estrelas*, Guerra nas Estrelas** e Patrulha Estelar***. Todos eles adotaram termos náuticos para definir postos militares e principalmente naves espaciais. E diacho, nós falamos de uma Brigada Ligeira Estelar. As estrelas são um verdadeiro oceano a ser desbravado****.

Então, ao falarmos das nossas máquinas de combate, não podemos esquecer das naves presentes. E para começar, a escolha natural é o Cruzador. Ele é o mais recorrente, o mais associado às animações japonesas de ficção científica e, definitivamente, o mais icônico. E por isso mesmo, não poderíamos deixar de ter um modelo de cruzador em nosso cenário — mas nós vamos falar disso em seu devido momento neste texto. Por ora, vamos começar do mais básico…

Almirante-Geral: o primeiro navio Cruzador
propriamente dito, da marinha russa (1874).

O Cruzador Original

Antes da existência do Cruzador, existiam as Missões de Cruzeiro. Elas existiam para fins de reconhecimento, escolta de missões comerciais — e ataques também comerciais*****, é claro. Essas missões seriam desempenhadas por Corvetas e Fragatas******, designadas então como Navios de Guerra de Cruzeiro. Só lá pelo século XIX pensaram em desenvolver categorias próprias de navio para essa função — quando foram criados os Cruzadores propriamente ditos.

O primeiro deles, nesses termos, foi o russo Almirante-Geral em 1874. Mesmo assim, em um primeiro momento, não houve uma padronização clara para os Cruzadores. Surgiram diversos tipos, com diferentes dimensões: o Cruzador Protegido (de convés blindado), o Cruzador Blindado (com blindagem lateral além do Convés), os Cruzadores de Batalha (com blindagens mais leves e motores maiores para obter mais velocidade), Cruzadores leves, Cruzadores pesados…

O Cruzador moderno. Repare na quantidade de
canhões de mísseis anti-aéreos no convés.

Mas sua função permaneceria a mesma: servir como nau capitânia, encampar missões de longa distância, patrulhar os mares em busca de navios de guerra inimigos e atacar, ou defender, navios comerciais. Só começou a surgir alguma padronização com o surgimento de navios maiores (como o hoje obsoleto encouraçado), e isso os levaria às suas dimensões definitivas*******. Hoje eles só perdem em tamanho para os porta-aviões e os navios de assalto anfíbio.

Contudo, eles entraram em decadência durante a Guerra Fria: os cruzadores não eram mais rápidos o bastante para evitar ataques aéreos e as aeronaves também poderiam contar com torpedos em combates sobre o oceano. Hoje, os Cruzadores tem sido deixados para trás em prol de opções mais modernas e os Estados Unidos anunciaram o desenvolvimento de uma nova classe de navio para substituir seus cruzadores e destróieres ainda em atividade********. Porém…

Reparem na recorrência visual e narrativa dos elementos náuticos
em histórias de
space opera. Patrulha Estelar só escancara isso.

O Cruzador Espacial

…isso pouco importa para a ficção científica — e vamos falar um pouco do Japão: os primeiros livros de ficção científica japoneses, ainda no século XIX, eram utópicos e muito inspirados em Jules Verne, com nomes como “A Nova Ásia do Século XX” ou “A Capital do Futuro”. Porém, a vitória do país na guerra Sino-Japonesa (1894) levou à rápida militarização do gênero. Mas o que isso tem a ver com Cruzadores Espaciais? Na verdade, tem muita coisa, até.

Autores como Shunrō Oshikawa e Juzo Onna estabeleceram um padrão que, embora hoje seja criticado por seu militarismo embutido, se tornou perene: bravos japoneses tripulam máquinas fantásticas invencíveis — e derrotam todos os inimigos pelo caminho. Esses materiais influenciaram decisivamente nomes como Hayao Miyazaki e, principalmente, Leiji Matsumoto, criador de Capitão Harlock e de nossa querida Patrulha Estelar. Ele fez do Cruzador um símbolo.

A icônica Yamato/Argo de Patrulha Estelar. Podem reparar: depois
disso, várias naves na ficção adotaram esse visual náutico.

Vários animes absorveram essa lição e seguiram por esse caminho, transformando essas grandes naves em “personagens” tão importantes quanto os próprios protagonistas. O próprio Matsumoto fez isso de novo com a nave Arcádia em seu Harlock. Suas naves são como heróis de animes shōnen de luta, sobrevivendo a batalhas cada vez mais árduas — mas vencendo graças ao esforço e união daqueles que as pilotam. Caso ela se vá, sua perda será sentida*********.

Temos duas versões para o Cruzador em BRIGADA LIGEIRA ESTELAR. A primeira foi o design original que criei para um suplemento online de naves espaciais para o sistema Alpha. No atual, com mechanical design de Wal Souza, eu procurei me aproximar das naves da animação japonesa pós-Patrulha Estelar, com seus grandes canhões de energia. Caso vocês estejam sozinhos, em alguma longa jornada espaço adentro, adicionar “Regeneração” pode ser uma boa ideia.

O Cruzador Imperial de Brigada Ligeira Estelar. E sim,
temos o mega-canhão à frente. Não poderia faltar.

É, eu sei, isso soa muito absurdo, mas tem um fator simbólico aqui. Já repararam quantas vezes em uma animação do gênero a nave é bombardeada, pode estar prestes a ser destruída, mas os personagens se mobilizam e tiram uma solução para “se levantar”, partindo para o ataque e destroçando o inimigo de vez com sua arma principal? Isso é diferente do Seiya de Cavaleiros do Zodíaco levantando-se cheio de sangue e usando seu Meteoro de Pégaso no final?

Nem é preciso racionalizar com explicações pseudo-científicas (“As nossas nano-máquinas estão reparando o cruzador!”): os jogadores podem dividir as ações da nave para dar um senso de participação geral nos grandes confrontos e não deixá-los fora de ação, mesmo no caso deles estarem pilotando robôs em defesa de seu cruzador. Tudo bem a nave ser virtualmente como um personagem — mas não a deixe roubar a cena dos demais.

Até a próxima e divirtam-se.

* Talvez o exemplo mais claro na cultura pop. O próprio Gene Roddenberry, criador da franquia, serviu em um submarino durante a Segunda Guerra Mundial e sua experiência se reflete na primeira série dos anos 60, inclusive. Podem reparar: os prefixos na nave remetendo aos prefixos de navios e a hierarquia baseada na Marinha (capitão, almirante, etc.).
** Embora acompanhemos diferentes frentes na franquia, nomenclaturas e hierarquias navais também são usadas quando o assunto são naves espaciais de grande porte. Basta lembrar dos Destróieres Estelares Imperiais — e quem é fã de longa data da franquia vai lembrar de um certo Almirante Thrawn…
*** Esse nem disfarça e até radicaliza o conceito: além das nomenclaturas e hierarquias navais, coloca literalmente um navio no espaço, seus trajes remetem à marinha e eles têm como símbolo uma… âncora. Mais escancarado, impossível.
**** Essa analogia é frequente na ficção científica, a do espaço como um novo oceano a ser singrado. Em animes como Armored Fleet Dairugger XV e Capitão Harlock, isso é explicitado em suas aberturas inclusive.
***** Ataques Comerciais são voltados a destruição ou interrupção da logística do inimigo, atacando seus navios mercantes ao invés de enfrentar seus combatentes ou impor algum tipo de bloqueio contra ele. Usualmente esse era o trabalho padrão dos Corsários, a serviço das coroas reais de seu tempo — mas a farra começou a acabar em 1856, com a Declaração de Respeito ao Direito Marítimo assinada em Paris.
****** Corvetas são navios de escolta, preparados para localizar e destruir aeronaves, navios e submarinos inimigos, além de efetuar serviços de patrulha. Fragatas são mais pensadas em termos de mobilidade, sendo usadas na proteção de navios mercantes, forças navais anfíbias e navios de reabastecimento, mas têm mais variedade de acordo com sua função: além das fragatas anti-aéreas, temos fragatas anti-submarinas com hangares para helicópteros e equipamentos especializados.
******* Na verdade, o marco da mudança foi o Tratado Naval de Washington (1922), estabelecendo limites na capacidade e no poder de fogo dos futuros navios de guerra — e padronizando a tonelagem e o armamento das naus-capitânias.
******** O programa DDG (X) da Marinha Estadunidense. Que veio em substituição a um projeto anterior nesse sentido que não deu certo. 😉
********* Um exemplo interessante vem de um local inusitado: em Gundam Age, acompanhamos a belonave Diva, desde quando ela era nova em folha e ajudou os personagens a sobreviverem ao ataque dos Vegan, até o momento no qual ela se tornou uma lata velha pilotada por uma tripulação de segunda, com uma capitã novata acompanhada por um Flit Asuno tão velho quando a própria espaçonave. Ela envelheceu de forma sorrateira ao longo da série. E quando a nave faz seu sacrifício final na última batalha, todos batem continência — e sentimos sua perda também. Foi um dos melhores e mais marcantes momentos de Age.

DISCLAIMER: Uchuu Senkan Yamato 2199 é propriedade de Yoshinobu Nishizaki/2014 Space Battleship Yamato 2199 Production Committee e 2012 Space Battleship Yamato 2199 Production Committee; Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais.

Brigada Ligeira Estelar ® Alexandre Ferreira Soares. Todos os direitos reservados.

Deixe uma resposta