Este é o primeiro em uma série de artigos originalmente publicados no antigo site da Jambô Editora. Há bons motivos para resgatá-los: em primeiro lugar, quando o material inédito chegar ao novo site da editora, ele vai ser majoritariamente voltado à nova versão do sistema. Em segundo, a maioria desse material foi publicada em Arquivos do Sabre (já obteve o seu AQUI?) mas alguns deles simplesmente não foram produzidos a tempo para entrar no livro.
Não vamos repostar material já publicado de forma impressa mas o fim do conteúdo anterior, na editora, deixou um punhado de materiais perdidos para os jogadores ainda interessados em jogar no sistema 3D&T Alpha de sempre. E, sinceramente, seria uma atitude chata da nossa parte dizer “essas regras foram perdidas, vá para o novo sistema” quando falamos de regras existentes. Por fim, não há sentido em enterrar um conteúdo que não será mais impresso.
Decidi começar com uma pequena bobagem divertida: uma regra adicional ao pequeno artigo para o Dia dos Namorados publicado… ahn… no Dia dos Namorados (vocês podem lê-lo AQUI)? E antes de ir ao conteúdo, quero deixar um enorme agradecimento ao leitor João Vitor. Foi ele quem recuperou esses textos, alguns dos quais eu considerava perdidos para sempre. Como de costume, são sempre vocês — mestres, jogadores e leitores — quem fazem tudo valer a pena.

Brigada Ligeira Estelar é um cenário inspirado nas clássicas animações de ficção científica em geral e robôs gigantes em particular. Romance faz parte dessa equação e em nome de uma experiência mais imersiva no gênero, não deveria ser ignorada, não por completo, em sua mesa. Podem acreditar.
Muita gente considera anti-romântica a sistematização de temas românticos em um conjunto mecânico de regras e prefere estimular uma postura mais interpretativa para esse tipo de situação, caso o jogador esteja interessado, mas filosofia de jogo é filosofia de jogo e eu pessoalmente tenho uma postura simples quanto a isso: parte importante do papel do mestre reside em colocar obstáculos no caminho do personagem jogador para que este as supere, sejam interpretativos, sejam mecânicos.
Recentemente, tivemos um artigo sobre os Social Links de Persona 4 para 3D&T Alpha (nota: infelizmente ele não está mais no ar, mas ele foi escrito pelo Bruno Schlatter e vamos dar o crédito a ele pelas regras básicas) e isso abriu possibilidades interessantes. No caso, para um dos elementos mais tinhosos dos animes japoneses de robôs gigantes: os Triângulos Amorosos.

Essencialmente você quer ter um relacionamento (RL) com uma pessoa mas outro personagem, provavelmente um coadjuvante, também quer ter um relacionamento com ela ― e com interesses comuns porém conflitantes, um vê o outro como o oponente. Outra possibilidade para o jogador é ter um Relacionamento com duas pessoas e elas estejam em um cabo-de-guerra entre si. Em todo caso, temos uma disputa.
Essa é a fórmula mágica do triângulo amoroso, galvanizando o nosso público que diz não gostar de novela na televisão mas fica tomando partido quando isso aparece em um desenho animado, se metendo em imensas discussões no Facebook sobre o assunto. Em termos de jogo isso é simples:
1) Estabelece-se o alvo da disputa (o Pivô).
2) Os vértices irão agir no sentido de agradar o pivô, ganhando de +1 a +3 PRLs (Pontos de Relacionamento) do mestre caso tenham sucesso ― ou, caso a desagradem, perdendo seus pontos, sempre de –1 a –3 PRLs. O mestre deveria gerenciar ao longo da campanha o quanto a pontuação dos dois vértices correspondem a esse placar flutuante de pontos, de cada lado.

3) Cada 10 pontos no placar flutuante de PRLs fazem o relacionamento subir de nível — ou descer, caso sejam 10 pontos negativos. Explicando melhor: Cada 10 PRLs geram RL +1. Note que o pivô não é um marionete, também tem sua ficha e suas próprias vontades.
4) O uso de PEs para esse fim está proibido a partir do começo da disputa. Os personagens só poderão avançar a pontuação nesse vai-e-vem com PRLs ganhos através de sua interação com o alvo! Note que uma das partes sempre pode sabotar seu rival, fazendo-o perder pontos com o alvo, mas caso isso seja descoberto pode se voltar contra o responsável…
5) A gravidade de atos mal pensados pode nivelar ou zerar a disputa. Caso os dois vértices passem do ponto, um pivô de saco cheio pode declarar a disputa zerada. Nesse caso, acabou para os dois. Outra possibilidade menos drástica é que ambos os vértices passem a ter seu relacionamento com o pivô nivelado em 1 e eles terão que começar tudo de novo ― agora com um redutor de –1 até que cada um consiga ter um RL +2 com seu alvo de interesse novamente (e sem PEs, lembram?). Cabe ao mestre julgar isso sem passar a mão na cabeça de ninguém.

6) O vencedor é quem, tendo já chegado aos 5 pontos (pensem na agonia interna do pivô caso os dois vértices cheguem a esse estágio) chegar a RL +6 com o pivô antes de seu oponente. O mestre deveria fazer isso chegar dramaticamente ao perdedor ― ele testemunhando a cena de beijo, etc. Caso isso aconteça, seu relacionamento é quebrado. Caso o vértice queira se manter em bons termos com o casal e aceitar diplomática e honestamente a derrota, ele pode estabelecer gratuitamente um RL +1 tanto com o pivô quanto com o vértice vencedor, concedido pelo mestre. Você não tem amor mas tem respeito, ao menos, e ganhará um bônus sempre que precisar interagir com ambos ou ao menos com ela. Mesmo assim, o padrão é dar o Relacionamento como acabado. Fiquem tranquilos, isso vai levar muito tempo para acontecer.
Repararam que essa mecânica não exclui a parte interpretativa — na verdade, a estimula — porque os personagens jogadores dependerão dela para ganhar seus PRLs nessa disputa?

Recomendamos que os dois vértices não sejam personagens protagonistas ― mas caso isso aconteça e gere dissensões na mesa de jogo, o mestre pode se valer do poder sobre o coadjuvante pivô para acabar com os confrontos. Curiosamente, isso pode gerar uma amizade entre dois personagens chutados ― e como relacionamentos não precisam necessariamente ser amorosos…
Lembrem-se do que foi dito no famigerado artigo do Dia dos Namorados: romance é um elemento de apelo popular, mas também é volátil e explosivo; mal conduzido, pode causar sequelas graves na sua trama. Tenha isso em mente. Não o deixem tomar conta da história — até porque temos outros jogadores e outras tramas a conduzir.
Agora, peguem a pipoca e divirtam-se com a novela ― mas não se esqueçam dos robôs gigantes!
Todas as imagens pertencem à série Macross, pertencentes a seus devidos proprietários e presentes a título de referência e homenagem. Arte no topo por Haruhiko Mikimoto.
4 comentários