Academias do Sabre: Movimentando

Há algum tempo, fui arrastado por alguns amigos meus para assistir uma sucessão de animes sobre academias de combate com poderes de shōnen anime de batalha: Absolute Duo, Rakudai Kishi no Cavalry, Asterisk War (não, esse não!) e vários outros. Se algo me chamou a atenção foi como eles em geral são extremamente parecidos — os três citados poderiam ser reunidos pela Harmony Gold sem susto, colados em um mesmo universo e ninguém notaria a diferença!

Essa overdose começou a fazer algumas engrenagens funcionarem em meu cérebro. Apesar de tudo, eles operam sob conceitos coesos em comum — e como o Academias do Sabre já virou uma coluna esporádica por aqui (até hoje tem quem me peça esse livro*), esta parece uma oportunidade para puxar certos conceitos desses materiais e ver como eles podem funcionar na Constelação do Sabre. Até porque não há muita referências para isso em animes de robô gigante.

Em primeiro lugar, faça seu protagonista dividir um alojamento com alguém do gênero pelo qual seu personagem está interessado e**… bom, isso é uma brincadeira mas eu não a soltei gratuitamente. Nessas séries, temos um eixo formado pela divisão entre: 1) um cotidiano escolar com direito a momentos mais leves, como namoricos e excursões à praia, 2) um treinamento pesado e 3) uma conspiração maior envolvendo a escola como um todo. Vamos a cada item.

Apenas um dia normal na escola.
Circulando, circulando…

Cotidiano Escolar

De modo geral, para muita gente esse é o fator mais divertido. Para jogadores mais jovens, isso leva a um contexto para o qual eles tem identificação e familiaridade. Para os mais velhos, remete a um tempo mais simples e nostálgico. Quem está no meio, e mal se livrou do colégio, tende a não curtir tanto isso mas estes (salvo um ou outro, por questão de gosto) não estarão jogando Academias do Sabre: vão montar um grupo mais tradicional de Brigada!

Uma recomendação simples é uma mecânica opcional de Laços: você precisa comprá-lo com 10 PEs caso você procure ter intimidade com uma personagem. A partir daí, seus atos ditarão o nível de sua relação, serão contabilizados pelo mestre e jogadas bem-sucedidas garantirão pontos destinados especificamente à subida de seu nível (+1 nível a cada 10 PEs especiais). Vamos chamá-los de PLs. Ao adquirir um laço, você o faz automaticamente com um nível +1.

Convenhamos: trancafie adolescentes no mesmo
espaço e você vai esperar algo diferente?

O laço é um medidor de intensidade de sentimentos e ele parte de um princípio similar ao usado nas regras para triângulos amorosos (recomendamos a leitura AQUI e AQUI). Ele não precisa ser usado para fins românticos: pode representar essa intensidade entre irmãos, pais e filhos e até companheiros de batalha, sem subtexto sexual nenhum. Em Absolute Duo, isso é representado pelo voto feito pelas duplas, perigosamente similar a um voto de casamento.

Uma regra opcional para evitar um mar de laços é sua limitação: o mestre poderia só permitir o laço a aliados, podendo obter um extra dependendo de circunstâncias futuras. E personagens jogadores podem ser aliados uns dos outros. Assim, os momentos cotidianos podem ser usados para reforçar esses laços. Eles tem utilidade prática: quando um precisar, o outro fará tudo para ajudá-lo, ou terá dificuldades para dizer não ao outro, caso lhe peça algo.

Não é preciso ser um casal para isso. Aqui
vale a regra do Bros before Hoes.

Treinamento Pesado

O verdadeiro ponto a debulhar é o fato de nesses animes, os personagens se beneficiarem de super-poderes e suas armas serem diretamente ligadas a estes. Aqui, os robôs precisariam de armas especiais. E para chegar a eles é preciso passar pelos mecânicos, até para pegar algo sem autorização. Como lidar com isso? Calma. Primeiro, vamos pensar em dois níveis: sem robôs e com robôs. No primeiro, tudo é mais simples. Os personagens tem armas e treino.

Isso subtrai algo do elemento battle shōnen de suas inspirações, é verdade. Ninguém tem alguma energia arcana para queimar ou algum mega-poder interior (mas o cânone é seu e o autor não vai puxar no seu pé de madrugada caso você altere isso na sua mesa). Porém, eles tem técnicas de esgrima, tiro e combate corpo-a-corpo potencialmente bem mentirosas ao seu alcance. Isso pode cobrir torneios, duelos e outros elementos tradicionais dessas histórias.

Aqui vocês terão várias técnicas a escolher — com espadas, armas de
energia, combate corporal… — e não precisam de superpoderes!

Com robôs, a coisa… complica. Podemos definir uma regra simples: todo cadete tem direito a um único tepeque. UM. Fora isso, ele lidará com suas armas convencionais — a espada, a pistola de energia, as aberturas para disparos de projéteis — mas seu ataque especial ou item especial é único… e ele terá bastante tempo para modificá-lo, turbiná-lo e desenvolvê-lo até sua formatura, podendo levá-lo para seu futuro robô de combate quando isso acontecer.

Com isso, teremos o bastante para os personagens em sua academia de combate. Os personagens terão treinos, uma arma distintiva só sua, participarão de exercícios de batalha formando times em combates simulados, resolverão pendengas pessoais na frente de todos através de torneios e duelos (se o fizerem na encolha, serão punidos por isso e poderão até ser expulsos)… enfim, vai dar tudo certo e agora é a hora de nos voltarmos ao nosso palco central.

Torneios e Duelos são parte integrante da dinâmica
por aqui — e não deveriam ser negligenciados.

Conspiração Maior

Algo muito característico desses animes é a importância de um conselho estudantil e a formação de times de elite para ação, com anuência do diretor (usualmente uma figura peculiar***). Quando isso acontece, a academia se torna uma espécie de mera desculpa para agregar os personagens — acontece isso em Hundred, por exemplo. Com isso os personagens adquirem maior liberdade e ganham missões (ou pelo menos uma passada de pano conveniente da direção).

Há motivos: existe sempre uma trama nos bastidores estabelecendo a academia como algo extremamente importante para alguma coisa não acontecer. Frequentemente essa trama não precisa fazer tanto sentido assim: algum dia, esperamos, a explicação virá. E o diretor não se importa nem um pouco de selecionar alguns alunos com potencial para obter desempenho extra e ser colocado na linha de fogo contra essa ameaça. Sim, estamos olhando para os jogadores.

Sim, essa é a diretora, geneticista e sabe-se lá o que mais em
Absolute Duo. E vocês nem viram a “Conferência do Reino”!

Quando nos dermos conta, teremos cadetes fazendo o serviço de oficiais graduados em nome de uma necessidade mal-explicada de sigilo. Novamente, isso não precisa fazer sentido — nenhum desses animes realmente faz, podem acreditar. Mas tente fazer alguma explicação minimamente passável para não deixar seus jogadores com cara de tacho quando algum fecho vier. E ao longo da sua campanha, não esqueça de entrelaçar este elemento com os dois anteriores.

Isso pode levar a confrontos com academias rivais****, segredos sombrios no passado da academia (que tal experiências feitas com alunos?) ou até mesmo no presente*****. Na verdade, uma campanha como esta deveria ser jogada com o devido senso de humor e absurdo, mesmo quando o drama exagerado entra em cena. Os protagonistas sempre tem traumas ou missões amargas a resolver mas são enfiados em contextos e situações difíceis de serem levadas a sério.

Não adianta, pessoal — é inevitável. Nós
não temos como deixar de falar nisso.

O Elefante no Armário

Só para fechar, cada mesa é uma mesa e sintam-se livre para discordar ou não seguir essa recomendação, mas lembrem-se sempre dos hormônios em ebulição. Se em uma campanha tradicional de Brigada Ligeira Estelar eles já tem seu papel (os pilotos não usam trajes colantes sem motivo nos animes do gênero!), imaginem em um ambiente escolar aonde as meninas fatalmente usarão terninhos com saias curtas como se saíssem da já velha novela mexicana Rebelde!

Então não se avexem: ponham pimenta na receita. Talvez cada grupo queira decidir previamente a medida mais adequada desse ingrediente para todo mundo, isso é válido, mas eu não recomendo sua supressão — ele faz sentido aqui. Só deixo um alerta: não deixem um aspecto se sobressair demais em relação ao outro. Nem conspiração demais, nem vida escolar demais, nem batalhas demais. Isso valorizará cada item, podem acreditar.

Até a próxima e divirtam-se.

Touché!

* Relembrando, as Academias do Sabre surgiram como um Primeiro de Abril bem-sucedido demais e ele acabou sendo pedido até hoje como um suplemento. Nunca o vi com conteúdo o suficiente para tal mas decidi, em compensação, falar do tema aqui no blog… e, novamente para minha surpresa, ele virou uma coluna esporádica. Ainda não o vejo com estofo o suficiente para render um suplemento em si, entretanto.
** Acontece isso em Rakudai Kishi no Cavalry, Hundred, Absolute Duo e tantos outros. Meter o casal forçosamente em um mesmo espaço é um clichê velhíssimo em histórias escolares com um elemento de comédia romântica, desde o seminal Tonda Couple de Kimio Yanagisawa (1978). Mas isso é o de menos: no caso da maioria dessas séries, elas partilham similaridades tão grandes que renderiam, em qualquer outro país, uma acusação de plágio de alguma das partes.
*** Em Absolute Duo, temos a “Conferência do Reino: um cabal bizarro de diretores de academias, com direito a intrigas, guerras declaradas e… ah, sim, todos eles são… hum, exóticos e atuam sob codinomes como Blaze Diabolica, Silent Diva, Dark Ray Disaster, Grave Phantom e… só vendo para acreditar. Mas isso fica por conta de vocês: não me responsabilizo.
**** Vide Asterisk War e Absolute Duo, embora aqui isso não tenha muito pé nem cabeça.
***** Em Hundred, a energia secreta da base (aviso de spoiler. Vocês ainda tem tempo para parar de ler. Se continuarem, vocês já foram avisados e não é mais responsabilidade minha) é turbinada por uma pessoa em estado criogênico e há um esforço para tentar despertá-la (mas se o fizerem, não vão deixar a academia sem energia? Isso está mal-construído para caramba…).

NO TOPO: a Academia Hagun de Rakudai Kishi no Cavalry. Poderia ser qualquer uma, não faz diferença mesmo…

DISCLAIMER: Absolute Duo pertence à Eight Bit Co., Ltd, baseado na obra de Takumi Hiiragiboshi e Yū Asaba (Media Factory); Rakudai Kishi no Cavalry pertence à Silver Link, Inc., baseado na obra de Riku Misora e Won (SB Creative); Asterisk War pertence à A-1 Pictures, baseado na obra de Yū Miyazaki e Okura (Media Factory); Hundred pertence à Production IMS Co., Ltd., baseado na obra de Jun Misaki e Nekosuke Ōkuma (Media Factory). Todas as obras aqui mencionadas pertencem a seus respectivos proprietários intelectuais. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais.

6 comentários

  1. Te arrastaram pra ver Asterisk War? Amigo da onça, hein? kkkkkkkkk
    Encaixa bem demais com Viskey ou Schulmann, que combinam ciência de ponta e muitos estudantes no mesmo lugar. É só colocar experimentos com mentalistas ou tecnologia proscrita (ou os dois!) pra montar a conspiração e pronto.

    1. Ótimas ideias e bem funcionais, na verdade.
      Quanto ao Asterisk, esses amigos mesmo falavam mal (“Asterisk War? Não trabalhamos”) — mas em algum momento eu devo me desafiar para encará-lo, sinto que se não passar por esse suplício eu não vou completar o álbum de figurinhas (vi só uns três ou quatro episódios, mas eu não aguentava mais). O que chama a atenção é a similaridade entre todos eles: é o adolescente japonês meio zé ruela (mesmo em ambientes de fantasia aonde nem existe um Japão, como o Bladedance of Elementalers) mas com algum trauma do passado a resolver, a garota tsundere de cabelo rosa com nome mais europeu do que os europeus ao redor e que vira casal oficial do personagem, a garota de cabelo branco meio esquisita (que é promovida a mocinha quando a tsundere de cabelo rosa está em falta)… eu comecei a me divertir de forma irônica com a similaridade entre todos eles. Como nenhum dele envolve robôs gigantes, eu não dissequei esse aspecto aqui, mas passei a achar cretinamente engraçado. 😀

  2. Primeiro de tudo, Rakudai Kishi no Cavalry é muito bom, mesmo sendo clichê. É um clichê bem executado.
    Segundo, E os poderes psíquicos dos mentalistas/espers do cenário, não poderiam ser incluídos nessa equação?

    1. Talvez por eu ter assistido tudo quase de uma tacada só, eu só conseguia ver as similaridades entre ele, Asterisk War e Bladedance of the Elementalers:

      ✅ Um personagem japonês gente boa, meio neutro, mas que tem algum trauma ou missão a resolver e por isso…
      ✅ … se matricula em uma espécie de Hogwarts do Battle Shonen, aonde se mostra um corpo estranho…
      ✅ …e lá acaba encontrando uma tsundere de cabelo rosa que é uma princesa e os dois acabam brigando, mas…
      ✅ …por vias tortas, os dois acabam sendo forçados a ficar juntos, e claro que se apaixonam no processo, mas…
      ✅ …ele desperta interesse de outras garotas e uma delas é a menina de cabelo branco (ou branco-azulado) meio esquisita™…
      ✅ …enquanto isso o diretor passa pano para ele, mantendo irregularmente o personagem por lá graças a uma ameaça misteriosa…

      Preciso continuar? Quanto aos poderes psíquicos… talvez pudessem. O problema é não serem invencíveis para os estudantes com meras espadas ou outras armas. Isso precisaria ser pensado.

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