Dos Kits de Personagem em BLE Alpha

Sempre foi meio polêmica a decisão de trazer kits de personagem já no primeiro suplemento original de Brigada, a ponto de alguns jogadores e mestres comemorarem o anúncio da sua ausência no novo BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG. Tive motivos para isso quando os usei no primeiro livro e tenho motivos para não fazê-lo no novo. Isso não significa uma rejeição completa aos kits e nada impede um eventual “Manual do Aventureiro”. Eles só não serão mais necessários para a experiência de se jogar na Constelação do Sabre — nos trazendo uma pergunta…

Qual era a razão de sua necessidade?

Bem, há duas respostas. A primeira vem de um aspecto comum não apenas às animações de robôs gigantes inspiradoras do cenário, mas à própria ficção científica de aventura quase como um todo: quase sempre há uma estrutura militarizada presente em algum grau. A Frota Estelar de Star Trek? A Aliança Rebelde de Star Wars? Os Marines Coloniais da série Aliens? Mesmo quando os personagens não fazem parte delas, tais estruturas costumam estar presentes de algum modo, como oposição ou elemento narrativo.

Isso cria a necessidade de se estabelecer capacidades em comum para personagens com treinamento similar e ainda assim abrir espaço para sua personalização (quem quer jogar em um cenário aonde todos são iguais?). Pensem: qual o sentido de dois pilotos da mesma guarda NÃO terem elementos comuns em suas fichas? Por isso eu mesmo digo: o ideal no Brigada Ligeira Estelar Alpha* é trabalhar com dois kits — um correspondente ao papel atual de seu personagem e outro refletindo seu passado e experiência… nos levando enfim à segunda resposta.

Sendo bem direto, olhe bem para esses três: há alguma dúvida
quanto a eles partilharem o mesmo treinamento?

E ela tem a ver com mecânica de jogo. O 3d&T Alpha é um sistema voltado a seres superpoderosos. Um personagem com 3 pontos na característica Força pode destruir muros com um chute só — mas séries de robôs gigantes funcionam com uma lógica diferente dos mangás e animes shōnen de porrada que, ao lado das séries tokusatsu, inspiraram o sistema: os personagens são quando muito heróis de ação, capazes de se envolver em brigas e escapar no último minuto. Poderes psíquicos até podem fazer parte do pacote, mas ninguém levantará prédios com eles!

Agora criem seu personagem com dois kits. Vamos dar um exemplo? Abel era um jovem de origem simples, agregado a uma milícia Alabardina quando se apaixonou pela bela filha mais nova de um barão. Ele decide se tornar também um nobre para pedir sua mão em casório. A única rota para ele seria efetuar feitos heróicos para ser alçado a Cavaleiro Regencial mas nenhum Príncipe-Regente avalizaria alguém ligado a uma milícia politicamente opositora. Ele pulou fora, para a fúria de seus antigos colegas, se alistando na Brigada Ligeira Estelar.

A função primordial do romance é meter um ou dos envolvidos (ou ambos) em encrenca, afinal.
SPOILER: esses dois vão morrer.

Vamos montar nosso personagem? Tanto os kits Miliciano (Página 70 de A Constelação do Sabre, Vol.1 — você pode obtê-lo AQUI) quanto Oficial Hussardo da Brigada Ligeira Estelar (Página 42 de Brigada Ligeira EstelarAQUI) exigem a vantagem Patrono (1 pt.). Como Abel não é um infiltrado, precisará escolher e, obviamente, a Brigada resolve a questão. O kit Miliciano também exige a perícia Crime (2 pts.). Sendo um Piloto Hussardo, precisará de H1 (ou PdF1, mas ele escolheu Habilidade) e Torcida (1 pt.)… e assim, cinco pontos já se foram.

O kit do Oficial Hussardo também tem como exigência o Código de Honra da Brigada Ligeira Estelar (–1 pt.) e, lembrem, personagens de cinco pontos podem ter no máximo –3 em desvantagens. Ele opta por Assombrado (–2 pts.), usando-o para refletir os ataques constantes feitos por membros da milícia — eles estão no seu rastro para “justiçar” um traidor. Assim, Abel coloca 1 ponto de Resistência e compra Reflexos de Combate (1 pt.; Página 84 de A Constelação do Sabre, Vol.2 — AQUI), planejando evoluir os demais atributos durante a campanha.

ABEL MONTARROYOS
F0 H1 R1 A0 PdF0 — PV5 PH5
Kits:
Oficial da Brigada Ligeira Estelar e (ex-)Miliciano
Vantagens:
Duro de Matar, Patrono (Brigada Ligeira Estelar) e Torcida
Desvantagens:
Assombrado, Código de Honra da Brigada Ligeira Estelar
Perícias: Crime (completo), Pilotagem**
Poderes de Kit: Heroísmo e Obediência Eficaz

Heroísmo é uma escolha óbvia — ele precisa de feitos. A Obediência Eficaz garante a ele +2 de Habilidade durante suas missões. Mas, para os padrões do sistema, Abel é… comedido — vejam o Manual 3D&T Alpha, página 23 (AQUI).

Isso foi deliberado. Graças aos kits, o máximo em termos de Características para um personagem padrão de Brigada Ligeira Estelar Alpha tende a ser 2 — um único 2 em meio a zeros e uns — e talvez a necessidade de uma nova versão para o Brigada tenha começado aí. Este foi um mecanismo de controle, garantindo personagens mais condizentes com o gênero — mas até entendo a frustração do jogador usual de 3D&T, lidando com números tão baixos e uma mortalidade mais alta (se encaixando bem com algumas séries mais dramáticas de animação, na verdade).

Exemplo de personagem com mais de um kit: Agente Secreto, Malabarista, Ás…
E com certeza essa campanha não é com personagens de cinco pontos!

Por outro lado o personagem será altamente capaz. Peguem nosso exemplo: com a perícia Crime completa, Abel constrói e desarma armadilhas, arromba portas, decifra mensagens secretas, se disfarça, reconhece e faz falsificações, sabe ser furtivo, obtém objetos discretamente (como qualquer batedor de carteiras) segue rastros e de quebra é intimidador. Com reflexos de combate, ele tem bônus em Esquiva, Iniciativa e Força de Defesa (FD), lidando muito bem com seus atacantes. Um personagem de Brigada Ligeira Estelar nunca é fraco!

Só para fechar, os kits jamais deveriam ser vistos como uma camisa-de-força para a criatividade dos jogadores. Eles podem ser combinados de forma menos óbvia e gerar personagens fora da caixa: uma celebridade cossaca mercadora da guerra, um gato de companhia médico da nave… boas histórias de personagem sempre podem justificar tudo. Apenas exerça o controle como mestre se você sentir algum entrave ao funcionamento do time.

Quanto a ausência de kits no novo BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG… bem, isso fica para outro texto.

Até a próxima!

Vamos nos voltar a um aspecto polêmico de BRIGADA LIGEIRA ESTELAR em 3D&T Alpha... Kits de personagem!
O cozinheiro da nave, forçado pelas circunstâncias a pilotar um robô gigante.
Essa foi uma boa sacada.

* Daqui para frente devo me referir aos materiais anteriores ao novo sistema como Brigada Ligeira Estelar Alpha ou BLE Alpha, para diferenciá-los do material novo.
** Lembrando: em
BLE Alpha, pilotagem é automática para os personagens jogadores, supondo-se que todos a terão (ver Brigada Ligeira Estelar Alpha, página 8).
A ilustração no canto inferior direito da imagem de cabeçalho é de Eudetenis.

10 comentários

  1. Particularmente curto bastante os kits de 3D&T Alpha. E a princípio, já que não sei como será suprido essa questão no BLE RPG, vou sentir muito a falta deles. Acho que um Guia do Aventureiro de BLE RPG seria a solução perfeita, pois seu uso poderia ser opcional, agradando albuquerquianos e tarsianos.

    Duas pequenas observações:
    1) Os links para os livros estão off.
    2) Na construção da ficha cita que foi adquirido a vantagem Reflexos de Combate (1pt), mas não consta no resumo da ficha, se incluir, o personagem ficará com 1 ponto a mais, totalizando 6pts ao invés de 5pts.

  2. Sem kits? Hum, quero ver como vai ficar. Já está trabalhando no manual do aventureiro para BLE RPG? Quero. rsrs ? To bem ansioso para lançamento desse novo BLE. Ficaria feliz se saisse em Março. Sonhar não custa nada né? rsrs

  3. Uma coisinha sobre o conceito do tal Abel que você deu como exemplo que não consigo deixar de me perguntar: “Como um miliciano de Alabarda entrou para a Brigada ao invés de em acabar em cana?!”

    É algo que acho que a Brigada seria até mais propensa a detectar e cair em cima que a guarda regencial de um planeta.

      1. Por outro lado se tem de esconder de qualquer modo, poderia ter entrado para a guarda regencial.
        Se bem que seria uma faca de dois gumes – por um lado certamente ficaria em casa (e perto de seu amor) enquanto com a Brigada é alta a chance de o mandarem para atuar em outros mundos. Por outro ficar em casa significaria a possibilidade de ser jogado numa operação contra seus antigos colegas de milícia – ou pior ainda, ser descoberto e chantageado por eles, o que poria tudo a perder.

        Hmmm, acho que tenho até mais dúvidas agora….:P

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