Oito Anos de Brigada Ligeira Estelar

Brigada Ligeira Estelar, neste mês de novembro, está fazendo oito anos de idade. E isso me leva a algumas considerações.

Recentemente, escrevi uma reapresentação do cenário de Brigada Ligeira Estelar no site da Jambô Editora. Ela é necessária: com a proximidade do novo BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG e o recente fluxo de interessados no site da editora após o imenso sucesso do crowdfunding de Tormenta 20, é a hora de chegar a mais gente com o cenário.

Na verdade, não tenho uma ideia muito clara sobre este texto. Eu poderia fazer uma repescagem sobre todo o processo responsável por nos levar até aqui: seis livros de RPG, duas histórias em quadrinhos (uma a publicar, outra a concluir), uma trinca de romances, um novo livro básico com uma nova versão do sistema, uma surpresa da qual não posso falar… não deixa de ser curioso: durante a escrita do primeiro livro, decidi não assistir nada do gênero.

Isso aconteceu por um motivo simples: eu já tinha a carga de anos como espectador do gênero. É como estudar para a prova: dê uma folga no último dia antes dela e… no dia seguinte, faça — você já sabe, fica tranquilo. Antes dele ser publicado, eu já metia a mão na massa com o Constelação do Sabre. E antes de sair o Constelação volume 2, eu já escrevia Belonave Supernova. Quando falei ao editor sobre o projeto, tinha o primeiro volume quase pronto.

O negócio é produzir o máximo possível.

O Novo RPG

O ritmo de produção só foi quebrado quando veio a decisão de escrever um novo básico, com sistema próprio, para o Brigada. Ele crescera rápido demais. Cheguei a oferecer a proposta de uma adaptação para o sistema OD6, o do Star Wars clássico da West End Games, recentemente aberto, à época, para OGLs*. Mas, olhando bem, o único cenário a emplacar com esse sistema foi o próprio Star Wars… e é uma pena: ele precisa de atualização, mas ainda é bom**!

A seguir, passei os meses seguintes escrevendo um novo sistema mas, no fim, ficamos com um material simulacionista em mãos e isso não pega mais no Brasil, já não pegava à época. Não vou reclamar: aprendi muito sobre game design com a experiência e vários elementos dele migrariam para o novo BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG (calma, ele não vai ser simulacionista). Me ocupei com os quadrinhos ambientados no cenário — e a interminável trinca de romances…

Não reclamo, mas por pouco não abraçamos as regras do clássico Star Wars: The Roleplaying Game.

Assim, o tempo passou, a Dragão Brasil voltou, Rogue One nos devolveu o prazer de ver um bom Star Wars na telona… veio a adaptação na revista e, depois, a ligação: “Olha, os fãs de 3D&T vão se sentir traídos se mudarmos de sistema. Você vai ficar furioso mas o que acha de voltar ao sistema clássico a partir da adaptação de Rogue One? Personagens com dez pontos, vamos nos basear naquela tabela de características, esquecer a regra de equipamentos…”

Não, eu não fiquei furioso. A primeira proposta, antes mesmo de propor o OD6 naquele telefonema, foi uma versão livre do 3D&T para o cenário. Eu poderia usar o sistema pessoal no futuro em outra coisa. Rebati: “Olha, por que não aproveitar e abrir logo o sistema? Já tem a bênção do Cassaro no próprio livro, este vai ser o primeiro OGL de 3D&T.” E, neste momento, as regras estão sendo editadas pelas mãos cuidadosas de Marlon Teske e Tiago Oirebir…

Coisa simples, se edita rapidinho.

A Trilogia de Romances

Originalmente eu não queria escrever uma trilogia. Na verdade, sempre achei melhor escrever uma história fechada como obra de estreia e depois, já com tarimba e ambição, partir para uma trilogia pensada como tal. O problema: minha obra fechada foi estruturada com antecipação… e ela ficou enorme (mais de oitocentas páginas prováveis). Ordens de cima? Dividir em três livros. Resta fazer os ajustes para cada volume funcionar satisfatoriamente em si.

Mas acho que neste momento, aonde relembramos estes oito anos do cenário, posso falar um pouco mais sobre o romance. A história é protagonizada por dois pilotos novatos da Brigada Ligeira Estelar: Gil Laim, de Forte Martim, e Bazi Juniz, de Albuquerque. O primeiro guarda grandes rancores ligados ao golpe da nobreza agrária em seu planeta (e aos seus financiadores). O segundo tem uma paixão não-esquecida e uma grande pisada de bola em seu passado.

Spoiler? Não, imagina… mas no gênero, se apaixonar é pedir para se dar mal.

Em sua primeira batalha, os dois acabam envolvidos em uma conspiração maior sem perceber — e isso os leva a… um dos mundos menos populares entre os jogadores do cenário (escolhi esse local de propósito e vocês vão entender o motivo). Incumbidos pela Inteligência Imperial, eles enfrentam os traidores mas, em um jogo de ambições e espertezas, estes podem estar abrindo o caminho para vilões ainda piores*** — e ninguém é tão esperto quanto pensa ser.

O primeiro volume se chamará O Círculo do Ódio e o segundo, pelo menos durante este estágio, foi batizado como O Príncipe Maldito. O texto bruto deste último está pelo menos 79% pronto (já foi mais — mas precisou de cortes devido à remoção de alguns personagens). Não quero dizer o nome do terceiro antes do segundo ser publicado, mas ele deve ser um pouco maior por motivos estruturais. Creiam, escrever é tranquilo — trabalhar o texto é o pesadelo…

Shadrach (arte por Altair Messias). Esperem mais um pouco, ele vai sair.

Quadrinhos e Outros Projetos

No estágio atual, o volume dois de Batalha dos Três Mundos já tem todo o roteiro escrito e, agora, só precisa ser desenhado. O primeiro volume de Shadrach já está pronto e só está esperando o novo RPG sair para ser publicado. Éden Zero precisou ser rebatizado para Éden Quatro por causa do mangá quase homônimo do Hiro Mashima — não queremos advogados japoneses no cangote — e assim como Esquadrão Trunfo, ele recomeçará do zero… no seu devido tempo.

De novo… tudo só depende do RPG no final. Não ficamos parados durante todo esse tempo. Alguns produtos precisaram ser abortados — meu plano imediato para o 3D&T, antes da nova direção, era um suplemento chamado Habitantes da Constelação, voltado não apenas para os povos locais, mas também para criminosos, piratas e foras-da-lei — e meu eterno projeto do Guia das Naves e Robôs, sonhado desde o primeiro livro… e agora, bem mais viável de acontecer.

Vocês querem robôs gigantes e naves espaciais, certo?

O Guia era um projeto ambicioso truncado pela natureza editorial dos livros para 3D&T Alpha. Um cenário de ficção científica com robôs gigantes e naves espaciais precisa ter todos eles descritos e exibidos visualmente. Essa foi uma cobrança dos leitores e uma insistência minha desde o começo. Infelizmente, parte do apelo comercial do Alpha é ser uma linha econômica e acessível. Para ser cem por cento ilustrado, ele precisaria ser muito mais caro.

E talvez não valesse a pena para o leitor. Agora, com o novo básico em um novo formato, um projeto desses pode ser melhor viabilizado em termos de projeto gráfico e valores. Não é mais uma impossibilidade. Esse é um dos motivos para a existência de um BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG. Então, vamos rumo ao nono ano. Quem sabe ele não nos traz novidades e libera de uma vez esses projetos da gaveta? Vamos continuar olhando para as estrelas.

Até a próxima.

Hora de voltar à labuta!

* Open Game License (OGL)ou seja, conteúdo de licença aberta.
** Na verdade uma segunda edição do OD6 — o nome do sistema após sua abertura — vem por aí pela rediviva West End Games. O novo Zorro RPG, feito em co-produção com a editora, nos mostra um pouco dela.
*** Qualquer semelhança com eventos reais e pessoas vivas ou mortas é mera coincidência, juro. 😉

E sim, este é o centésimo post de nosso blog. Encarem isso como uma dupla comemoração — eu poderia ter soltado este post no começo de novembro, marcando a liberação do arquivo original em .pdf, mas o livro físico levou uns dez, quinze dias a mais se bem me lembro e isso serve como gancho para coincidir os marcos. Vamos seguir em frente.

6 comentários

  1. É incrível pensar em como esse jogo é rico! Fiz uma campanha sobre experimentos e criações de armas que tinham poder de mudar o cenário da constelação. Em outra fiz uma trama política clássica de Salve a princesa e agora estou fazendo uma campanha histórica baseada na ascenção do autoritarismo depois da crise de 1929 só que pós a primeira unificação de Tarso! Oito anos possibilitaram a existência de diversas aventuras. Obrigado por criar esse universo! Parabéns Brigada Ligeira Estelar!!!

  2. Parabéns para o cenário e para você Alexandre!
    Infelizmente conheci tardiamente o BLE em 3D&T, justamente quando ele já está em processo de “migração” para o BLERPG! Queria ter aproveitado mais, mas já estou esperando o novo sistema.
    Vida longa e sucesso!

  3. Lancaster, finalmente deixo aqui um comentário sobre os 8 anos de Brigada Ligeira Estelar!

    Não me recordo exatamente quando conheci seu trabalho, mas lembro bem que no primeiro semestre de 2010 eu acessava seu finado e saudoso blog Maximum Cosmo em uma escola de Inglês onde trabalhei. Tenho essa marcante recordação porque muitíssimos sites eram bloqueados, incluindo ferramentas de busca. Mas o endereço da sua página eu sabia de cabeça, de tão assíduo leitor que era: http://www.interney.net/blogs/maximumcosmo !

    Também lembro bem como conheci o finado e saudoso Maximum Cosmo. Foi procurando nasinternetes sobre 子 連れ 狼 – こ づれ おおかみ – Kozure Ookami – Lobo Que Carrega o Filhote (tradução literal minha) – Lone Wolf And Cub – Lobo Solitário. Me deparei com uma notícia muito bem redigida, que de imediato me chamou a atenção para todo o site. Isso aconteceu anos antes da publicação derradeira “Maratona de Mospeada”: https://web.archive.org/web/20130509235435/http://interney.net/blogs/maximumcosmo/ !

    Parando para pensar; noto que venho acompanhando seu trabalho há mais de uma década; o finado e saudoso Maximum Cosmo foi atualizado pela última vez em 22/02/2013, há mais de 7,5 anos; e neste mês de novembro de Cyberpunk 2020 (Mike Pondsmith foi profético na escolha de ano para seu futuro distópico!) nos deparamos com 8 anos de BLE. Como canta meu herói Cazuza, “o tempo não para!”

    Assim, depois da Maratona de Mospeada; que venha uma maratona de Brigada Ligeira Estelar com, por ora, livros descritivos, aventuras de RPG, sistema próprio de RPG (sugestão: BLERP é um nome interessante, pois soa onomatopeico e remete ao MERP velho de guerra!) romances, nona e décima arte!

    1. Obrigado, cara. É bastante tempo, e todos envelhecemos. Que o futuro seja bom para o Brigada — só me resta trabalhar muito para isso. 🙂

      Mas eu já venho chamando de BLERPG, informalmente. E isso soa mais com uma onomatopéia do que o velho BLE… 😀

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