Disssecando o Professor

Antes de começarmos, e isso é realmente importante: em inglês, Teacher e Professor são palavras com significados diferentes. O primeiro é, justamente, o professor como nós o conhecemos. Já o segundo, de acordo com a Wikipedia*,“é uma classificação acadêmica em universidades e outras instituições de ensino e pesquisa pós-secundárias na maioria dos países(…). Os professores geralmente são especialistas em suas áreas e mestres do mais alto escalão.”

Aqui, tudo é professor. E realmente considerei outro nome para a posição, para evitar confusões — mas, desde os tempos do Pirata do Espaço**, o termo chega até nós como está. Então, fica sendo Professor, mesmo. Dito isso, podemos começar… e essa é uma figura bem presente no gênero, desde a era dos super-robôs na animação japonesa. Normalmente, ele é o responsável pela criação ou pelos updates no robô gigante, tornando-o mais poderoso com o tempo.

Costumeiramente ele também desempenha um papel de figura paterna para os personagens, especialmente em séries de super-robôs. Nelas, muitas vezes ele é o pai do principal protagonista ou do membro feminino do grupo. Nessa época, as animações realmente eram voltadas para crianças (ou seja, para vender brinquedos), então algo assim até caía bem. Mas, com o advento do real robot, esse perfil de personagem começou a ser desconstruído logo de cara***.

Tem Ray, de Mobile Suit Gundam, desconstrói a figura do
Professor, antes tão confiável na era dos Super Robôs.

Em geral (mas não sempre), o personagem costuma ser muito mais velho e desempenhar um papel de apoio — mas também pode exercer funções de comando, especialmente quando se trata de algum tipo de projeto secreto envolvendo super-protótipos ou máquinas únicas de combate, eventualmente sob as bênçãos ou cobranças de algum comandante mais distante. Muitas vezes, ele tem capacidades e conhecimentos em campos da ciência muito, muito diferentes entre si.

Isso não é nada realista mas essa multidisciplinaridade pode ter desenvolvimentos interessantes. O professor responsável pelo desenvolvimento de um protótipo também pode ter conhecimentos sobre biologia ou neurologia e criar, por exemplo, uma máquina bio-orgânica. Isso pode causar problemas: alguns Professores caem perigosamente perto do arquétipo do Cientista Louco. Por outro lado, se alguma ameaça inexplicável surgir, é ele quem a identificará.

Os cinco professores de Gundam Wing, com sua “brilhante”
idéia de
não avisar seus operativos dos demais pilotos.

Em resumo, o Professor é um gancho de roteiro ambulante, trazendo explicações ou criando soluções e equipamentos quando o protagonista ou o time, em um grupo, não tem ninguém para fazer tal serviço. Ele não é um personagem de ação. Ele é a voz do patrono em termos de jogo: graças a ele o time existe, tem um hangar, máquinas experimentais e soluções imediatas para problemas inusitados. Mas o trabalho de implementá-las ainda pertence aos jogadores.

E quais serão as características esperadas de um Professor na sua campanha de Brigada Ligeira Estelar? Vamos dar uma olhada em algumas possibilidades:

Criador de Protótipo: máquinas superiores vem a calhar mas, por outro lado, quaisquer problemas com elas podem ser resolvidos por ele e sua equipe.

Explicando Tudo: salvo se houver uma mente brilhante entre os protagonistas, dificilmente alguém além dele explicará biotecnologia ou física quântica…

Uma das funções primordiais de um professor
é explicar as coisas para os personagens…

Ossos do Ofício: eventualmente algum de seus projetos pode se mostrar uma ameaça. Nesse caso, cabe aos jogadores limparem a bagunça enquanto há tempo.

Tecnologia da Cartola: quando os personagens estiverem em situação difícil, ele enviará a máquina (de sua criação) capaz de vencer a batalha no final.

Virtualmente, Patrono: embora ele precise prestar contas a alguma autoridade superior, dentro de um projeto é ele quem providencia tudo aos jogadores.

Novamente, o Professor não é uma figura muito realista. Excentricidade é bônus: só o fato dele teorizar ou mesmo fazer milagres impossíveis com o “poder da ciência”, misturando campos diferentes (e até antagônicos), já o tipifica dessa forma. Mas suspensão de descrença é importante em histórias com robôs gigantes e cai muito bem em um sistema como o 3DeT. De resto, fica uma pergunta: é possível fazer dele um personagem de jogador, dentro da ação?

…mas lembrem-se, pessoal, ele não vai despejar informação
de forma fácil. Preparem-se para o Technobabble!

Os perfis de personagem do futuro BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG tem dois “Cérebros” úteis nesse caso: o Conhecedor e o Científico. O primeiro é especializado, dominando por completo um campo mesmo se tiver outros talentos. Ele até pode ser brilhante mas não é o Professor. Mesmo assim, ele pode ocupar de forma prática algumas de suas funções no time, como a de identificar ameaças (dentro de seu campo de conhecimento) ou resolver problemas imediatos.

O Científico tem tudo para ser o Professor… algum dia. No momento, ele faz parte do time e não tem disponibilidade nem recursos para comandar um mega-hangar aonde algum projeto se desenvolve. No entanto, ele pode tanto identificar e teorizar quanto a ameaças inexplicáveis quanto criar máquinas poderosas para si e para os demais. Porém, isso se dará muitas vezes em contextos táticos, exigindo soluções urgentes de improviso durante uma crise maior.

Não é como se o professor não fosse útil,
mas o lugar dele é na base.

Como todos podem ver, nenhum deles chega a ser o Professor. No máximo, eles podem trazer elementos úteis dele para o centro do combate. De resto, seu papel é de coadjuvante, não de protagonista. Um exemplo simples para sua campanha de BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG: temos um projeto secreto da Aliança Imperial e, como o Professor tem essa liberdade, ele pode escolher um time completamente heterogêneo para comandar seus robôs — ou seja, os jogadores.

Isso não deveria se dar sem tensões. Talvez o Professor, em sua ênfase de salvar a constelação dos invasores, cobre demais dos protagonistas. Ou talvez ele se importe menos com estes e mais com seus robôs. No pior dos cenários, talvez ele tenha planos sombrios por trás de tudo, passando a perna no Império e caindo no terreno do cientista louco, forçando os personagens a se voltar contra ele — no final, tudo é possível.

Até a próxima e divirtam-se.

* Em Inglês. https://en.wikipedia.org/wiki/Professor
** Para quem não é tão velho para lembrar: Groyzer X, no original. Uma das últimas séries de super-robô da fábrica de Go Nagai e companhia nos anos setenta. Foi exibida na Rede Manchete nos anos 80 e lançada em DVD no Brasil.
*** Na primeira série Gundam, Tem Ray, o pai do protagonista Amuro, nos é apresentado como o engenheiro-chefe do projeto de construção do robô-título da série — e também como um pai focado demais no trabalho e de menos no filho. Sua utilidade narrativa não só termina com os eventos do começo como também seu retorno é melancólico: ele sobreviveu com sequelas mentais e, embora ainda acredite ser capaz de produzir, ele não faz mais nada além de blocos de entulho mecânico. Ou seja, ele é carta fora do baralho e não contribui realmente para a trama.

NO TOPO: Vamos ver se você reconhece todos. Vargas Dyson, de Gundam Age; Dr. Saotome, de Getter Robo (eu estou evitando postar material de super-robôs, mas esse é icônico demais e eu não poderia fugir); Doctor J, de Gundam Wing; Elvira Hill, de Buddy Complex; Doktor S, novamente de Gundam Wing; Henrietta Von Penrose (vulga “Annette”), de 86; Instrutor H, mais uma vez de Gundam Wing; Melchisedec, de Soukou no Strain (apesar dele e de sua irmã serem ou parecerem crianças, eles são extremamente respeitados na nave); Mestre O, outra vez (!) de Gundam Wing; Carmichael, também de Soukou no Strain e irmã de Melchisedec; Professor G, adivinhem? De Gundam Wing… (CHEGA!); Filio Presty, de Super Robot Wars Original Generation; Raizou Kashuu, de G Gundam; Rakshata Chawla, de Code Geass; Dr. Mikamura, de G Gundam; Earl Lloyd Asplund, de Code Geass; Nina Purpleton, servindo de anti-exemplo em Mobile Suit Gundam 0083: Stardust Memory — ela tem em seu crédito a criação do Zephyranthes, mas durante a série assume basicamente o papel de interesse romântico, obstáculo (por conta de sua relação prévia com Anavel Gato) e nada mais digno de nota; Nina Einstein, de Code Geass — eu sei, ela sempre vai ser lembrada pela infame cena do canto de mesa, mas diacho, ela criou uma bomba atômica e em um mês, criou uma arma capaz de detê-la. É preciso respeitar; Professor (isso mesmo, sem nome, só título) em Gundam Seed Astray — embora ela seja uma ex-cientista e aja mais como comandante, ela ainda se mostra digna do nome quando revive um cérebro congelado, conecta-o à inteligência artificial de uma nave e fala com o seu dono, ressurgido como um holograma; Ritsuko Akagi, de Neon Genesis Evangelion — multidisciplinar é pouco para ela.

DISCLAIMER: Todos os personagens e séries aqui nomeados e mencionados pertencem a seus respectivos proprietários intelectuais. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais (por favor, não me peçam para levantar o copyright de tudo isso agora. É muita coisa).

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