Em Foco: A Senhora do Tigre

Quem acompanhava o antigo site da editora Jambô lembra dos pequenos contos introdutórios a certos artigos temáticos. Todos eles acabaram sendo incluídos no cânone do cenário. Como estamos resgatando conteúdo não-impresso nos livros posteriores, vamos republicar aqui apenas esses contos, sem o conteúdo para jogo — este foi publicado nos suplementos. Desta vez traremos a Princesa Maria Victoria de Trastâmara, a Senhora do Tigre. Suas estatísticas e informações extras para o seu uso em aventuras estão no livro Arquivos do Sabre (AQUI), páginas 69 a 71.

A princesa Maria Victoria Ezquerra de Trastâmara, filha mais jovem do Conde de Rio Negro e com laços de parentesco com o clã regencial dos Merino, é um dos exemplos mais claros de como a invasão dos Proscritos nos planetas da Ponta do Sabre é uma catástrofe acima de classes sociais, etnias ou qualquer outra divisão — todos estão sujeitos à ela. Mimada, arrogante e voluntariosa, seu destino não parecia ser muito diferente de outras nobres com o mesmo perfil ao longo do império até o dia no qual o Condado de Rio Negro foi devastado pela invasão proscrita, fazendo da moça a herdeira mais próxima de uma região imensa… e esta não passa de um monte de escombros. Boa parte da população foi escravizada ou morta e os grandes teleportos, marcando a presença provisória dos invasores quando eles se instalam em um local, parecem dominar a região.

Seus laços privilegiados permitiram a ela se abrigar na própria corte regencial, na capital planetária de Madredeus. No entanto, seu orgulho ferido jamais lhe permitiria ser uma mera dama condenada virtualmente à uma fidalguia enquanto seus domínios não fossem retomados. E por isso, ela requisitou uma audiência com o próprio Príncipe ­Regente Mathias Merino. Não lhe pareceu uma tarefa fácil. 

À sua frente, ela se curvou como uma dama. 

— Se aproxime, Princesa. Eu não sou homem de perder tempo com salamaleques. E nem você, até onde apurei. 

— Sim, Vossa Alteza Regencial. 

— Eu li seus dois pedidos. Não posso negar a você um robô de direito. Até onde sei, nas atuais condições, você é provavelmente a mais alta autoridade do seu clã. Mas isso precisa vir dos recursos de sua própria casa de nobreza, não do erário regencial. 

— Por isso eu estou pedindo um empréstimo do banco regencial. 

— E eu não pretendo concedê-lo. Isso nos leva a seu segundo pedido: o de uma guarda pessoal. Algo a ser concedido diretamente a um nobre apenas em sua segunda maioridade.

— Podendo ser concedido a um nobre na primeira maioridade caso este seja avalizado por seu antecessor hierárquico na nobreza.

— Em seus próprios domínios. Aqui, os domínios são meus e não vou permitir a uma herdeira de condado convocar uma guarda de cavaleiros em minhas terras.

— Eu não falei em suas terras, Vossa Alteza.

Mathias levantou uma sobrancelha.

— Vamos pôr as cartas na mesa. O que você realmente quer com seu robô de nobreza e sua guarda pessoal?

Ela respirou fundo. 

— Sejamos diretos: ninguém nega a coragem dos voluntários na Frente de Peleja, fato, mas eles estão envolvidos em um aspecto de grande escala contra os invasores. O micro acaba perdendo importância. Sob este ponto de vista, minha família, meu povo, minha região, são apenas parte da estatística. E eu não quero ficar parada esperando um marido para, caso sobrevivamos, herdar apenas um monte de escombros. Não me confunda com aquelas menininhas românticas a pegar em espadas, acreditando serem capazes de transformar o mundo. Quero salvar o que é meu.

Mathias se inclinou em direção da moça com uma expressão séria.

— E como você pretende fazer isso?

— Usando meu direito de ter uma guarda pessoal de cavaleiros mecanizados para construir uma unidade de elite regional, reduzida mas coordenada. Sabotar suas bases. Libertar as pessoas escravizadas. Destruir seus teleportos. Criar núcleos de guerrilha contra os invasores entre os sobreviventes. Não quero estar isolada. No meu entender outras regiões deveriam fazer o mesmo, mas eu estou disposta a ser a primeira. 

Mathias sorriu. Apanhou as duas requisições e as assinou. 

— O seu robô fica por minha conta. 

Isso foi há oito meses. Hoje, é difícil olhar para a Princesa e pensar imediatamente nela como uma nobre. Mais e mais próxima do modo de vida dos combatentes, menos coberta por trajes de nobreza, mas ainda assim voluntariosa e desafiadora. Alguns de seus Cavaleiros morreram e foram substituídos por novos. Algumas pessoas libertas formam suas unidades de robôs Ulanos. Seu robô, o Tigre do Festival — uma menção ao fato dos robôs da família terem sido, por muito tempo, meramente cerimoniais — é sinônimo de alerta vermelho para os inimigos Proscritos. 

Maria Victoria, senhora do Clã de Trastâmara. A Senhora do Tigre. Ela nunca se sentiu tão digna de seus títulos em toda a sua vida.

Arte no topo por Eudetenis.

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