Pilares Narrativos

Em um artigo anterior — ele pode ser visto AQUI — mencionei os princípios básicos estabelecidos para a formação de grupos no vindouro BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG: pilares e times. Poderemos falar melhor dos times em outro momento mas achei esta uma boa ocasião para falarmos dos pilares narrativos do cenário. Então teremos uma série de cinco artigos falando melhor sobre o tema. O primeiro é este, tratando melhor sobre o seu conceito e como usá-lo.

Essencialmente o Pilar funciona como um eixo temático para definir o foco central da sua campanha — mas também para afunilar as escolhas de personagem mais adequadas para ela. Teremos três pilares essenciais: a Brigada (não necessariamente a Brigada Ligeira Estelar em si), o Império e a Margem. Um é focado no lado militar do cenário, o segundo em intriga e política e o terceiro em tudo à parte desses eixos (tanto foras-da-lei quanto gente comum).

No entanto, isso é importante, um pilar não se fecha em si. A escolha de um deles representa mais uma viga-mestra em torno do qual um, ou todos os demais pilares, orbitarão de acordo com os rumos em jogo. Falaremos mais sobre isso nos próximos artigos mas, para introduzirmos tudo brevemente (me poupando de citá-los mais tarde), veremos três exemplos dessa estrutura na franquia Gundam — afinal, ela explorou a maioria das possibilidades do gênero*.

Gundam Age: personagens voltados à militaria em tramas
estruturadas ao redor de uma guerra maior (a Brigada).

Gundam Age, com seus altos e baixos, é um exemplar bem claro da Brigada. Temos como foco principal uma trama militar: a humanidade unificada entrou em um período de paz mundial e se desarmaram em massa, enfiando-as em algum canto do espaço**. De repente ela é atacada por um invasor desconhecido, os Vegans, e passamos a acompanhar um século de conflito por três gerações (importante: a resolução da guerra vem só após os créditos do episódio final).

Gundam Wing por sua vez, independentemente de sua execução caótica, é um exemplo visível do Império dentro da franquia. Se observarmos com atenção, só há uma trama de longo prazo ali: a da Princesa do Reino de Sanc (e por tabela de seu irmão Sachs/Milliardo) — Relena é uma garota comum no internato, temos um golpe, ela é levada a Luxemburgo, descobre que é uma princesa, reconstroem o reino, os protagonistas se tornam sua linha de defesa, ela cai…

Gundam Wing: a Oz como uma aristocracia militar e um
esqueleto de trama focado em uma princesa (o Império).

Gundam X, finalmente, é o grande exemplo da Margem na franquia***. Seus personagens vagam em um mundo pós-apocalíptico recuperando velhas armas e robôs gigantes… mas seu grande objetivo é resgatar newtypes (os psiônicos do cenário) com o objetivo de impedir sua exploração em futuras guerras. É um dos exemplares mais aventurescos entre os Gundam, tem um espírito muito reconstrutivo, seus personagens são simpáticos… e já falei do golfinho telepata?

É interessante notar: respectivamente, quase todos eles tem um pilar como viga-mestra mas os demais pilares ajudam a fortalecer e movimentar a trama sob o pilar principal. Em Age, por exemplo, tecnologia e armas são vendidas secretamente ao inimigo sob a leniência do próprio governo****. Em Wing os constantes golpes de estado estabelecem o próximo palco na evolução de Relena. E o grande inimigo, em X, é o espectro de uma remilitarização do mundo.

Gundam X: em uma Terra sob reconstrução após um evento
apocalíptico, acompanhamos seus sobreviventes (a Margem).

Escolhi séries não tão unânimes entre o fandom mas claramente ligadas aos seus pilares. Todos são animes de mecha e esperam-se combates aqui. O pilar estabelece tom, ameaças e perfil dos personagens: em Age quase todos são militares; em Wing os personagens são operativos negros***** e, paulatinamente, se alinham ao redor do discurso da Princesa; em X todos são meros sobreviventes. E em nenhuma dessas séries temos protagonistas padronizados******.

Os protagonistas das séries citadas foram construídos dentro dos pilares estabelecidos pelas suas respectivas tramas… e aqui voltamos ao Brigada: Se um mestre quiser mestrar, digamos, campanhas de contraterrorismo ou no front proscrito, com muitas batalhas, é bom avisar isso para os jogadores antes deles aparecerem com uma cortesã, um gato de companhia espião e um mediador imperial (análogo ao Aristocrata de Tormenta Alpha) totalmente deslocados.

E é importante lembrar — embora todas elas tenham variações em seus alinhamentos
temáticos, nenhuma série na franquia teve menos ação ou batalhas por isso.

Por fim não temos um quarto pilar mas uma base aonde eles se encaixam: A ficção científica. Brigada Ligeira Estelar, assim como a maior parte das séries mecha, está sob o seu guarda-chuva através ou não de seus subgêneros — já falamos muito deles a partir DAQUI. Pilares à parte, vocês ainda estarão contando as sagas de jovens pilotos de robôs gigantes entre os desafios, mistérios e perigos de uma constelação no futuro distante com seus jogadores.

Não pretendo falar agora sobre como pôr a mão na massa porque esta é apenas uma introdução e já me estendi demais. Os próximos quatro textos serão mais práticos e direto ao ponto, prometo. Minha ideia é ajudar os jogadores a elaborar suas próprias campanhas de longo prazo satisfatórias em todos esses aspectos e garantir uma experiência mais completa a todos. Na verdade, é essa a função desse nosso pequeno canto na internet, lembram?

Até a próxima.

E chega de Gundam por um tempo — o gênero dos robôs
gigantes não se limita a ele, afinal de contas!

* De 1979 até hoje, o estúdio Sunrise pôs no mundo quarenta e seis produções com a marca Gundam entre séries de televisão, longas-metragens animados (e um live-action), animações para home video… e nisso ela já fez um pouco de tudo, daí minha escolha em obras dessa mesma franquia para mostrar como podem ser distintas as abordagens sob um um único guarda-chuva temático.
** Se houver estranhamento com essa descrição, é porque a Sunrise não conseguiu o público infantil almejado — e o jeito foi tentar se agarrar aos fãs velhos de guerra. Essa premissa virou uma mera ponta solta a ser amarrada na reta final da série.
*** Muita gente com certeza diria que esse papel pertence à
Gundam: Iron Blooded Orphans mas sua viga-mestra é “A Brigada”, com um peso crescente no pilar do Império (a trama política da independência de Marte e do papel da Gjallarhorn) — abraçando a Ficção Científica Militar (AQUI) e o Tom Árido (AQUI).Gundam X se ancora no pilar da Margem, apenas não o faz de forma sombria (ver “O Tom Aventuresco”, AQUI).
**** Isso acontece no último capítulo da segunda fase de Age, no qual os personagens dão um golpe de estado na Terra (enquanto o governo acobertar os interesses dos responsáveis, a guerra contra os Vegan será prolongada). Tecnicamente é o pilar do Império reforçando a viga-mestra da Brigada: por conta de eventos políticos, os protagonistas precisam mobilizar suas forças.
***** Tradução capenga para equipes
Black Ops — ver AQUI. Acho difícil classificar os protagonistas de Wing como “Margem”.
****** É algo a ser melhor discutido nos próximos artigos dessa leva, mas ninguém está falando em usar os temas para nivelar os personagens de jogadores. É mais para evitar personagens desencontrados na mesa. Falaremos melhor disso em breve.

Disclaimer: Gundam e todas as séries associadas pertencem à Sunrise, Inc — todos os direitos reservados.

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