Alguns Tipos de Campanha

Uma das primeiras postagens neste blog foi minha resposta a uma velha pergunta: “com qual anime Brigada se parece?” — vocês podem lê-la AQUI. No entanto, há uma pequena queda de braço entre as necessidades do próprio cenário e as referências que o fazem reconhecível como parte do gênero. Não reclamo dela — isso impõe uma dinâmica criativa interessante e permitiu um crescimento interno mais rico para o cenário.

Mas faço aqui uma proposta simples: como se encontrar dentro de BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG de acordo com seus gostos pessoais como espectador de animes e levar a experiência desses materiais para sua mesa. Não vamos perder tempo.

Space Opera

Guerras espaciais, aventuras cavalheirescas e melodramáticas, batalhas interplanetárias, riscos sendo tomados o tempo todo… a Space Opera bebe diretamente do capa-e-espada e do faroeste mas incorpora elementos de outros gêneros quando bem entende, sempre com uma camada pulp de aventura, e nos traz oponentes com habilidades avançadas, armas futuristas e outras tecnologias inimagináveis. Tudo, tudo pode acontecer e a escala dos eventos pode se tornar gigantesca.

Para quem gosta de… Macross (a franquia em geral), Patrulha Estelar 2199 e 2202, Juusenki Bismark (a versão original japonesa de Saber Rider), Armored Fleet Dairugger XV, Heavy Metal L-Gaim e alguns produtos não-nipônicos como Voltron: The Legendary Defender e Galaxy Rangers.

No cenário: De modo geral, é a abordagem padrão de cenário em BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG — por englobar todos os demais elementos de uma forma ou de outra. Viajar pelo espaço, enfrentar piratas espaciais no quadrângulo negro, pousar na Zona Devastada de Ottokar, empreender uma jornada para sair de lá trazendo consigo uma peça arqueológica dos tempos do grande vazio e, ao se refugiar entre a nobreza da parte ainda intacta de Ottokar, se meter em um duelo mirabolante entre pilotos espadachins… repararam quanta coisa cabe aqui?

Voltron é um bom exemplo de como a Space Opera é fluida: você
pode passar dos elementos mais fantásticos à ficção científica militar.

Ficção Científica Militar

Histórias de guerra com tecnologia ultra-futurista, geralmente do ponto de vista de seus soldados. Alguns enfatizam os valores militares tradicionais (bravura, sacrifício, senso de dever, camaradagem…), outros fazem picadinho desse discurso e muitos — provavelmente a maioria — ficam no meio do caminho, mostrando seus operativos como seres humanos dignos de empatia em meio a um contexto cinzento. Muitos clássicos da animação japonesa se enquadram nessa categoria.

Para quem gosta de… Mobile Suit Gundam, Zeta Gundam, Gundam: Iron Blooded Orphans, Votoms, Muv-Luv Alternative: Total Eclipse, Argevollen, Aldnoah Zero e Robotech (as modificações contam, podem acreditar).

No Cenário: Temos quatro mundos como frente de combate — Arkadi, Ottokar, Villaverde e Uziel (ainda o menos afetado). Cada um tem suas particularidades e os personagens jogadores podem muito bem ser enredados por problemas internos sem deixar de lutar contra o invasor. Há também uma frente espacial, e lembrem-se sempre das colônias em mundos inabitáveis! Apesar de tudo, histórias de guerra tem seu lado humano e é normal para esses personagens se envolverem com as pessoas ao seu redor, fazerem amigos, arrumarem interesses amorosos… 

Na Ficção Científica Militar, apesar dos robôs bacanas,
nada é garantido e você pode acabar muito mal no final.

Faroeste Espacial

Há uma analogia clara do espaço como a nova fronteira a ser desbravada, a lei não existe em vários lugares e cabe aos personagens estabelecer alguma ordem e fazer justiça. Foras-da-lei e colonos são comuns, armas de energia e veículos substituem pistolas e cavalos. Nossos protagonistas podem representar a civilização — postos avançados da Brigada Ligeira Estelar podem ser a cavalaria salvadora — mas no geral, este é um lugar com suas próprias regras.

Para quem gosta de… Combat Mecha Xabungle, Saber Rider (sim, a versão estadunidense FAZ diferença neste caso), Outlaw Star, Cowboy Bebop, Gun X Sword, Galactic Gale Baxinger. E sim, do citado Galaxy Rangers, também.

No Cenário: Há uma boa abertura para essa abordagem em Brigada: de asteroides terraformados a lugares isolados dentro de vários mundos, presos a uma estrutura fundiária pouco amigável, há sempre um assentamento que precisa de ajuda. Planetas como Altona (caso você queira adicionar um pouco de mistério das civilizações antigas),  Arkadi (o gelo também pode ser tão hostil quanto o deserto), Villaverde (mesmo com a guerra, é um planeta agrário) e até Moretz, nos lugares aonde as guildas fazem a lei. Faroeste não é uma ambientação, é um estado de espírito.

Faroeste é sempre faroeste, não importa a tecnologia (e não fiquem
com uma impressão trash de Xabungle por esse vídeo, a série é bacana)

Pós-Cyber

A resposta reconstrutiva da ficção científica ao Cyberpunk. São postos em destaque os avanços tecnológicos, telecomunicações, engenharia genética, inteligência artificial e nanotecnologia, mas em contextos menos destrutivos. Seus protagonistas estão integrados na sua sociedade — não são outsiders — e muitas vezes procuram melhorá-la por dentro, consertar um problema ou defender algum tipo de ordem. Seu universo não é perfeito, mas não é uma distopia.

Para quem gosta de… Appleseed, longas-metragens de Patlabor (especialmente o primeiro), Ghost in the Shell: Stand Alone Complex, Active Raid e ID-0.

No Cenário: aqui a ficção científica toma muito peso e isso depende mais dos temas a serem inseridos. Albuquerque, Viskey, Bismarck e Gessler são os exemplos mais óbvios, com seu desenvolvimento urbano e seus centros de pesquisa. Altona, Tarso e Albach estão mais perto do Cyberpunk pleno por questões sociais, mas podem ser incluídos de forma localizada. Moretz é um bom mundo para falarmos sobre biotecnologia e bioética. E claro, a presença dos Andro-Ginóides e dos animais de companhia levanta temas trans-humanistas bem óbvios.

Sim, os primeiros minutos de Patlabor dizem tudo, mas o lado
pós-cyber é melhor explorado nos longa-metragens.

Ficção Científica “Clássica”

Não é o melhor termo para ela, mas em essência ela enfoca um elemento científico teórico e usa os efeitos de sua aplicação prática para gerar conflito dramático — o que aconteceria se uma variação de cálculo na dobra espacial afetasse o continuum espaço-temporal de acordo com a física quântica, por exemplo? Se você não entendeu nada, tudo bem, nós também não! Nos extremos do gênero, a física conta, e como! Técnicos, cientistas e engenheiros são importantes aqui.

Para quem gosta de… bem, isso costuma ocorrer nos animes sci-fi quando os roteiristas querem fugir da rotina de combates entre naves e robôs. Mas a primeira metade de Neon Genesis Evangelion se encaixa bem aí — é a equipe da base quem encontra soluções, os pilotos só as implementam.

No Cenário: o ideal é estar em uma nave, em trânsito, ou estar em uma base aonde está se trabalhando em um projeto secreto. A nave tem a vantagem de permitir maior margem de manobra criativa para o mestre — ele pode criar uma colônia em um planeta tecnicamente inabitável, por exemplo, aonde nossos protagonistas encontrarão a encrenca da vez. A cidade de Éden Quatro em Moretz, habitada por cientistas e com tensões externas, também é um bom local para os mestres desejosos de um ambiente mais canônico para essa abordagem.

A primeira metade de Neon Genesis Evangelion é bem assim,
focando na resolução científica de problemas insolúveis.

Folhetim Espacial

O lado novelesco do capa-e-espada está presente na Space Opera, mas aqui o priorizamos acima de tudo: intrigas de corte, romances impossíveis, personagens passionais, dramas intensos, traições atrás de traições e uma reviravolta atrás da outra. Conspirações são parte da rotina: oficiais destemidos acabam envolvidos em tramas maiores do que suas posições lhes permitiriam e nobres estão em um jogo perigoso aonde predadores também podem se tornar as presas.

Para quem gosta de… Code Geass, Escaflowne (essas duas séries não são espaciais mas tem algo a oferecer para essa abordagem — veja os capítulos 05 e 06 desta última), Lenda dos Heróis Galácticos e Tytania.

No Cenário: qualquer mundo na Constelação do Sabre pode servir para isso, sem exagero nenhum, mas Annelise e Trianon são os planetas perfeitos para essa abordagem. O primeiro traz todos os elementos mais românticos e novelescos em destaque. O segundo evidencia com força os conflitos sociais que movem dramaticamente o gênero. Por outro lado, os demais mundos permitem combiná-lo com outros elementos — Arkadi, por exemplo, também se presta ao capa-e-espada mas é um dos pontos focais de uma guerra. Iisso faz diferença.

Traição! Vingança! Não esqueça do melodrama
(e lembre-se: política também é telenovela)!

Pós-Apocalíptico

O mundo como todos conheciam acabou, não há mais infra-estrutura, uma sociedade emerge dos escombros e a lei do mais forte impera. Enclaves surgiram no meio do nada e uma nova ordem surgida da força acabou emergindo. Senhores da guerra, carniceiros de aço, guerreiros do fim do mundo, caçadores, jagunços, matadores… Enquanto ninguém puder reconstruir a vida como era antes, a justiça só poderá ser feita na marra.

Para quem gosta de… After War Gundam X, Genesis Climber Mospeada, OAVs dos anos 80 e 90 como M. D. Geist, Dragon’s Heaven e Genesis Survivor Gaiarth entre outros, muitos outros mesmo… e Spiral Zone (não, não é anime mas era legal).

No Cenário: BRIGADA LIGEIRA ESTELAR não é um cenário pós-apocalíptico, mas há um nicho localizado com esse espírito: a Zona Devastada de Ottokar, gerada pelo primeiro grande ataque proscrito. As forças imperiais podem sobrevoar essa área e ajudar algumas pessoas, mas até o fim da guerra teremos robôs feitos de refugo pilotados por sobreviventes em meio aos escombros de uma civilização. Fora isso, áreas mais rudes, agrestes e/ou situacionalmente inóspitas em Moretz, Altona, Arkadi e até em Inara podem cair nesta categoria em tom.

Civilização em pedaços, máquinas de combate
e muita, muita violência gratuita!

Cyberpunk

Corporações transformaram o estado em uma entidade-fantasma, permanecendo livres para exercer monopólios e usar até mercenários corporativos. O governo local é apenas uma extensão dos seus interesses e todos os trouxas que apoiaram isso agora estão pagando o preço. A tecnologia nunca foi tão desenvolvida, mas a vida nunca foi pior. Entre policiais, hackers, jornalistas e políticos, os foras-da-lei tendem a se destacar — a vida é uma selva!

Para quem gosta de… Bubblegum Crisis (prefira o original, sempre), Megazone 23, Battle Angel Alita e Burst Angel. 

No Cenário: o nicho cyberpunk por excelência é o planeta Tarso, com destaque para a cidade de Metropolitana, sua capital planetária. Há bases da Brigada Ligeira Estelar no planeta e nossos hussardos podem se ver enfrentando o poder financeiro e legal dos inimigos — sua grande luta é impedir que as forças econômicas e políticas de Tarso transformem os demais mundos em um espelho do seu horror… mas, se pensarmos bem, a partir do momento em que se abre um facho de luz entre as sombras já não é mais tão cyberpunk assim…

Corporações mandando em tudo, andróides incontroláveis…
E no meio disso tudo você está ferrado.

Existem outras abordagens possíveis: podemos ter, por exemplo, um “exército do mal” para os personagens enfrentarem regularmente (para quem gosta de, digamos, Comandos em Ação) — e diacho, a milícia TIAMAT serve para isso, não? Podemos ter também aventuras costeiras ou submarinas no planeta Inara, com os personagens defendendo uma cidade subaquática de piratas, terroristas e monstros gigantes. O escopo é amplo. 

É esse o motivo pelo qual a Space Opera é nosso padrão básico: ela pode abraçar tudo. É possível visualizar uma campanha aonde os personagens viajam por diferentes planetas e encontram vários elementos diferentes espalhados, sem nenhum deles excluir o outro… e tudo de forma coerente. Enfim, independentemente de como você queira jogar na Constelação do Sabre, poderemos inserir isso no cenário. Há sempre uma brecha.

Até a próxima.

20 comentários

  1. Gostei muito do post (e do site), ajuda bastante quem pretende mestrar. Aprecio muito o gênero (mecha, space opera). Muito obrigado pela criação de Brigada Ligeira Estelar.

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