A Campanha de Faroeste Espacial

No novo BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG nós teremos várias possibilidades, dentro dos diferentes subgêneros da ficção científica, para sua campanha de robôs gigantes e eu já falei delas como um todo neste artigo AQUI. Após falarmos da Space Opera e da FC Militar, nosso próximo passo é destrinchar o Faroeste Espacial, renegado e ironizado pelo próprio meio da ficção científica* — mas jamais completamente ausente, até pela simplicidade de seu conceito.

Um dos motivos pelo qual o subgênero parece um pouco invisível é porque a space opera nasceu justamente da colisão entre o faroeste e o capa-e-espada (NO ESPAÇO!): se Luke Skywalker é o espadachim cujo sonho é se juntar à guarda real (descobrindo que o reino está nas mãos de um usurpador e o braço direito dele é seu pai — a quem ele tinha como herói), Han Solo é… o pistoleiro de aluguel relutante que se apaixona pela líder dos rebeldes mexicanos.

Com isso, o faroeste espacial acaba retroativamente se tornando uma subdivisão da space opera. Mesmo assim, ele funciona MUITO BEM pelas suas próprias pernas — basta lembrar de séries como Firefly (o melhor seriado de ficção científica da sua década, sem discussão) ou a menos óbvia Star Trek — Deep Space Nine: os produtores até definiram a série como “O Homem do Rifle” no espaço e… bem, é isso mesmo! A cidade de fronteira, o saloon… está tudo lá.

Infelizmente o longa Serenity esvaziou muito do que a série Firefly tinha de melhor,
mas esta continua sendo até hoje o melhor exemplo televisivo de faroeste espacial.

Essencialmente, há uma analogia entre a colonização humana pelas estrelas com a expansão para a fronteira estadunidense celebrada no gênero faroeste — e nem é uma analogia sutil: a mineração do ouro é substituída pela mineração de asteroides, o isolamento leva a uma virtual ausência da lei (as autoridades precisam ser convocadas pela população em momentos difíceis), caçadores de recompensas e bandidos circulam por aí… parece anacronismo, certo**?

Em geral, seus personagens são ou agentes da lei, procurando estabelecer algum tipo de ordem aonde ela é necessária — ou forasteiros nômades, em busca de dinheiro ou vingança. Na falta de leis menos frouxas, regras sociais de honra e reputação são fundamentais para o convívio geral. Alguns crimes tidos como menores nos grandes centros são considerados mais graves nesse contexto e eventualmente punidos de forma muito… excessiva a olhos legalistas.

“Estamos em outro planeta, em um futuro distante, então podemos
usar uma espada também, certo? CERTO?”

Uma das vantagens do faroeste como narrativa é a simplicidade. Ele é movido por conflitos diretos com causas práticas e objetivas — orgulho, terra e o sexo oposto — encapsulados em um lugar à parte da realidade (se você vê um cenário histórico naquilo, pense melhor: faroeste é um universo mitológico com suas próprias regras, assim como a fantasia medieval pode ser pouco medieval). Mesmo quem odeia o gênero já tem uma ideia mental de seus clichês.

O faroeste espacial herdou essa simplicidade e isso funciona: no clássico faroeste Matar ou Morrer, um xerife está jurado de morte por uma gangue de criminosos e precisará enfrentá-los sozinho. Outland: Comando Titânio, adapta essa trama básica para uma colônia de mineradores nas luas de Júpiter e deixa os elementos de ficção científica hard influirem no duelo — fazendo da história algo diferente e não uma mera cópia do original em outro cenário.

Outland: Comando Titânio — aonde o xerife usa boné e vai enfrentar
de qualquer jeito uma gangue de assassinos sozinho.

Ah, sim: apesar desse último exemplo, a tecnologia não é tão importante em um faroeste espacial. Isso ocorre graças ao afastamento dos grandes centros, fazendo elementos futuristas coexistirem com níveis tecnologicamente mais atrasados. Em BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG, há vários exemplos dessa variação (por isso, apesar da iconografia “russa” de um mundo como Arkadi, ele é um dos melhores locais para se ambientar uma campanha em tom de faroeste!).

Ainda com referências: Há boas opções, na verdade, e isso se aplica também às animações japonesas inspiradoras de BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG. Todo mundo vai se lembrar de Cowboy Bebop e ele vale — mesmo manjado — mas Gun X Sword também é um exemplo perfeito, com direito a robôs gigantes e uma dupla de protagonistas claramente inspirada em Bravura Indômita, o original com John Wayne!***. Outras séries, como Outlaw Star, também são dignas de nota…

XABUUUUNGLE! Eu ouço isso e consigo imaginar uma versão em português
do The Fevers, cantando no Cassino do Chacrinha (isso É VELHO)!

… mas eu não poderia ignorar Combat Mecha Xabungle. Um amigo certa vez soltou essa pérola: “Votoms é uma campanha de Heavy Gear na teoria. Xabungle é a mesa de jogo na prática”. Criada por Yoshiyuki Tomino (Gundam), ela é praticamente um compêndio das situações zoadas criadas por jogadores em campanha (“EU PEGO O MÍSSIL!”). Por fim, preciso mencionar duas animações em especial: Saber Rider and the Star Sheriffs e The Adventures of Galaxy Rangers.

A primeira é a versão gringa de Seijūshi Bismark — e falamos dela em outro artigo (AQUI). As modificações e episódios extras acentuam os elementos de faroeste do original mas, novamente, recomendo comparar os dois. A segunda é uma velha conhecida nossa, produzida nos Estados Unidos e animada no Japão. Esse seria o resultado se a Brigada Ligeira Estelar tivesse super-poderes ao invés de robôs gigantes. Os dois primeiros episódios são obrigatórios!

“No Guts no Glory, No Pain no Gain” — quer algo mais com
a cara dos Hussardos Imperiais da Brigada do que ISSO?

Essas duas séries são interessantes por apresentarem exemplos de agentes da lei enquanto o mais comum são os fora-da-lei. Em uma campanha de BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG há abertura para ambos. Os quadrinhos de Shadrach (com arte de Altair Messias) são um bom exemplo deste último caso — e no primeiro, basta pensar na Brigada em termos de um Faroeste de Cavalaria: fortalezas avançadas, cidades a se proteger… a frente proscrita é perfeita para isso!

Como foi dito, o Faroeste Espacial foi incorporado ao escopo da space opera e por isso pode até parecer meio redundante nesse contexto — mas, inserido nela ou não, ele funciona e não apenas tem seu valor isoladamente como também pode fazer da sua space opera algo ainda melhor. Agora sentem nas suas cabines, parceiros… e preparem os módulos energéticos das suas pistolas! Vamos viajar com nossos robôs gigantes em direção ao amanhecer!

Até a próxima.

See ya, pard!

* A revista Galaxy, de 1950, ironizou os space westerns em seu Nº1 (AQUI) ao se vender como alternativa sofisticada para o gênero.
** Mas não é. Vá a uma cidade de garimpo nos rincões do Brasil. O faroeste não morre, apenas muda de casa… inclusive na vida real.

*** Nem poderia ser diferente. Pessoalmente considero o “Bravura” de 2010 um filme superior — mas Gun X Sword é de 2005!
Lá no topo… The Mandalorian, nova série de Star Wars — e a julgar pelo piloto, space western do bom. 😛