A Campanha Pós-Cyber

O novo BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG terá muitas possibilidades entre os diferentes subgêneros da ficção científica para sua campanha de robôs gigantes. Falamos delas, em geral, neste artigo AQUI. Após falarmos de Space Opera, FC Militar, Faroeste Espacial, Folhetim Espacial, Ficção Científica Clássica, Pós-Apocalíptico (em textos anteriores, AQUI e AQUI) e do Cyberpunk, fecharemos esta série de artigos com o Pós-Cyber… a reconstrução do Cyberpunk.

Este é um tema pertinente porque BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG é um cenário reconstrutivo (já falamos disso AQUI). Se o Cyberpunk é um cenário totalmente distópico aonde via de regra os ricos são muito ricos, os pobres são muito pobres, o país virou playground dos interesses das corporações e a lei da selva é temperada pela alta tecnologia, o Pós-Cyber ao menos é um cenário mais equilibrado: há problemas mas a coisa não chega realmente a ser… punk.

Na verdade o mundo Pós-Cyber tem ares de normalidade. As pessoas trabalham, tem vidas comuns e embora tenhamos alta tecnologia e ela afete a vida cotidiana de uma forma ou de outra, não há a sensação de que tudo virou um pesadelo no final. Seus personagens geralmente fazem parte dessa sociedade e não estão à sua margem: eles tem empregos, amigos e não precisam fazer trabalhos sujos para grandes corporações por trocados. Ah, e o mais importante é…

No Pós-Cyber, você não apenas não está à parte do sistema:
está muito bem encaixado nele, de uma forma ou de outra!

… que eles ajudam a construir uma sociedade melhor. Se, no Cyberpunk, deixamos a tecnologia invadir cada espaço da nossa vida e agora estamos alienados enquanto a barra pesada impera a nossa volta, o Pós-Cyber nos chama ao seu uso responsável para levar a humanidade a rumos mais positivos. Ninguém está colocando tudo em termos de bonzinhos e malvados: isso pode muito bem ser, para eles, um mero trabalho, uma questão prática… ou até de princípios.

Um bom ponto a se lembrar é que eventuais novas tecnologias, aqui, influenciam a história ao invés de serem um objetivo a ser alcançado ou causar algum problema a ser resolvido. Como citamos no artigo mencionado, temas como engenharia genética, inteligência artificial e nanotecnologia estão muito presentes. Dentro dessa natureza reconstrutiva, a ciência é potencialmente boa… mas se algo pode ser usado para o bem, também pode ser usado para o mal.

Tecnologia é um aspecto importante no pós-cyber — e seu uso sempre afeta a vida das pessoas,
embora a cibernética tenha perdido espaço para a biotecnologia (assim como na vida real).

O esperado dos protagonistas em uma história pós-cyber é bater de frente contra abusos e corrupções da tecnologia — não dela em si. Há um senso de preservação do establishment enquanto ele puder beneficiar a maior parte das pessoas — ele não precisa ser ruim realmente. Na verdade, é possível ver seus personagens enfrentando quem se aproveita das instituições por dentro. E quanto às animações japonesas, o que elas podem nos oferecer nesse sentido?

Na verdade, vários aspectos hoje identificados com o Pós-Cyber estão pulverizados nos animes desde os tempos arqueológicos de Astro Boy, muitas vezes como pano de fundo. Isso acontece pela própria relação do Japão com a tecnologia: foi a aposta nela como indústria quem levantou o país. Prestem atenção no subtexto de uma série live-action como Kamen Rider Zero-One: os andróides (HumaGears) existem para ajudar os humanos a alcançarem seu potencial.

Por trás das demandas do formato tokusatsu — armaduras, monstros da semana, etc. — reparem
o quanto Kamen Rider Zero-One é o avesso conceitual do Cyberpunk: até o herói é um CEO!

Em termos referenciais, para nossos fins, nenhum é mais perfeito do que Patlabor. Ele se passa em um futuro próximo e a tecnologia transformadora no caso são… robôs gigantes conhecidos como Labors (ou seja, tá tudo em casa). Os personagens são policiais fazendo seu trabalho e resolvendo problemas concretos no dia-a-dia. Os longas são fundamentais nesse sentido, embora o terceiro seja aquela coisa*… mas não percam o arco do Griffon na série de TV!

E quanto a incluir o Pós-Cyber em sua campanha de BRIGADA LIGEIRA ESTELAR RPG? Bom, talvez a Capital Imperial de Leocádia seja o melhor exemplo potencial dessa abordagem no cenário. Ela tem seus problemas mas guarda melhores perspectivas de vida em comparação à Metropolitana, a capital cyberpunk de Tarso — que talvez seja a face futura da Constelação caso o empresariado Tarsiano alcance seus objetivos. Esse é um bom motivo para se confrontá-los!

No Pós-Cyber, os personagens fazem parte da sociedade e tem um papel para com ela —
e Patlabor continua sendo um de seus melhores exemplos (com robôs gigantes!)

Dentro do contexto de space opera de Brigada Ligeira Estelar, com os personagens viajando de um planeta para outro, podemos encaixá-los facilmente como ameaça da vez. Pensando bem, podemos até pensar em inverter a mão e levar a ameaça para o espaço. Se isso é possível com o cyberpunk**, não vai ser tão difícil com o pós-cyber. Na verdade isso pode se adequar muito bem aos tons mais sóbrios, mas ainda assim muito aventurescos, da Nova Space Opera…

Por fim vamos pontuar algo dito no começo: assim como Brigada é um cenário reconstrutivo quanto ao real robot, o pós-cyber é reconstrutivo quanto ao cyberpunk — e essas duas reconstruções podem convergir sem problema nas suas campanhas.

Até a próxima.

* O terceiro tem cara de projeto originalmente não-relacionado, enfiado durante a produção no universo de Patlabor por razões comerciais. Friamente, a série fecha no segundo longa.
** É visão pessoal, mas… não acho difícil encaixar conceitualmente
Alien: o Oitavo Passageiro e Blade Runner em um mesmo universo.
Arte no cabeçalho: Camille Unknown — AQUI

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